POR QUE O JORNAL O GLOBO SÓ FALA SÓ FALA DOS OUTROS TEATROS DE ÓPERA ? ARTIGO DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Periódico carioca preocupa-se mais com teatros de ópera de São Paulo e de Nova York que com aquele do Rio de Janeiro.


Na última segunda-feira, 03 de novembro, uma reportagem de meia página publicada no jornal carioca O Globo antecipou a autuação da fundação que administra o Theatro Municipal de São Paulo por parte do Ministério do Trabalho. A matéria pode ser lida clicando aqui. Diante da publicação, a Fundação Theatro Municipal de São Paulo emitiu uma nota de esclarecimento que pode ser lida clicando aqui.
A principal motivação deste artigo é, na verdade, apenas constatar um fato, a meu ver, bastante curioso. Curiosíssimo, aliás. Neste ano de 2014, além da supracitada reportagem (que, na versão impressa do periódico, ainda ganhou o sobretítulo “Crise no Municipal de São Paulo”), o jornal O Globo publicou mais duas matérias sobre o Metropolitan de Nova York.
A primeira delas, em 03 de junho, foi uma extensa reportagem de capa do suplemento cultural “Segundo Caderno”, com direito a complemento na página 3, que também fazia menção a uma “crise” financeira e trabalhista na instituição norte-americana. A segunda matéria sobre o Met, de meia página, foi publicada há poucos dias, em 20 de outubro, e reportou os protestos pela estreia de uma ópera de John Adams sobre o assassinato de um refém judeu.
O fato curioso, curiosíssimo, a que me referi acima é que o jornal carioca parece estar mais preocupado com o que acontece nos teatros de ópera de São Paulo ou de Nova York que com aquilo que não acontece no teatro de ópera da cidade onde ele, o jornal, está sediado, ou seja, o Rio de Janeiro.
A “crise” do Metropolitan (a meu ver, assim entre aspas, visto que o que não falta lá é ópera) é notícia? É. Deve ser publicada? Deve. A “crise” do Municipal de São Paulo (a meu ver, assim também entre aspas, pelo mesmo motivo) é notícia? É. Deve ser publicada? Deve. Mas e a Crise, com C maiúsculo, de um teatro de ópera que só finge que monta ópera, como é o caso do Municipal do Rio? Essa Crise não merece ser publicada, esmiuçada, investigada, questionada, criticada? Parece que, para o jornal O Globo, não.
O que deveria acontecer, mas não acontece, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ou seja, uma programação decente de óperas, balés e concertos com os quase inoperantes Corpos Artísticos da casa, não parece ser notícia para o respeitado jornal, não merece a capa do Segundo Caderno ou, pelo menos, meia página. É bem verdade que, na primeira daquelas duas matérias sobre o Met citadas ali em cima, o jornal acrescentou um pequeno box, no qual dois pequeninos parágrafos foram dedicados ao Municipal carioca, ou melhor, foram dados de presente para Carla Camurati tentar justificar o injustificável, e ela nada mais fez além de repetir a mesma ladainha de sempre que só convence os trouxas.
Ao não se posicionar, de forma clara e objetiva, sobre a programação própria (aquela que é produzida pela própria instituição, com seus Corpos Artísticos) do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – registre-se: uma programação medíocre e de quinta categoria –, O Globo parece considerar normal que o Governo do Estado do Rio de Janeiro pague a uma orquestra para quase não tocar; a uma companhia de balé para quase não dançar; e a um coro lírico para quase não cantar.
Não estou aqui afirmando, faço questão de reforçar, que as matérias do jornal O Globo a respeito do Theatro Municipal de São Paulo e do Metropolitan não deveriam ser publicadas. Nada disso. Estou apenas questionando por que a programaçãozinha ridícula do Municipal do Rio não merece a mesma crítica, a mesma atenção, o mesmo espaço e o mesmo peso dados pelo jornal às casas de ópera de São Paulo e de Nova York.
Fatos políticos recentes mostram a importância do papel da imprensa na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. Se não fosse o estardalhaço da imprensa sobre o chamado “mensalão”, dificilmente Zé Dirceu e seus comparsas teriam ido parar na cadeia. Se não fosse a imprensa, o atual “petrolão” provavelmente acabaria varrido para debaixo do tapete. Graças à imprensa livre, não somos a Venezuela. Pelo menos, ainda não.
No caso específico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, enquanto alguns órgãos de imprensa, enquanto alguns jornalistas, colunistas e críticos musicais continuarem fingindo que tudo está muito bem por lá, tudo continuará exatamente como está, ou seja, o Rio de Janeiro continuará sem um teatro de ópera de verdade, e o Municipal continuará sendo o que é hoje: um teatrinho mequetrefe de aluguel que mantém Corpos Artísticos apenas para constar.
Está aí a administração Carla Camurati que não me deixa mentir. Em sete anos à frente do Municipal, dona Carla pouco ou nada fez para melhorar, aprimorar, aumentar, expandir a programação própria do Municipal, que continua sendo a mesma lenga-lenga que era antes de ela assumir a casa: a orquestra não tem uma série de concertos; não há renovação nos balés de viés mais clássico, apresentados com os mesmos cenários e figurinos há uns 30 anos; e as óperas não passam de duas ou três por temporada. Isso quer dizer que, em termos de programação própria, a administração Carla Camurati e nada representam exatamente a mesma coisa.
Diante de tudo isso, eu pergunto: por que O Globo faz questão de apontar os defeitos dos teatros de ópera “dos outros”, mas não publica uma vírgula sobre a ausência de uma gestão artística que realmente sirva para alguma coisa no “nosso” teatro de ópera aqui do Rio de Janeiro? Não é só na política, mas também na cultura, que a imprensa livre deve cumprir o seu papel.

O imbróglio trabalhista do TMSP
Sendo curto e grosso:
1- os artistas demitidos do Theatro Municipal de São Paulo têm todo o direito de recorrer aos órgãos trabalhistas e judiciais com o fim de reparar decisões arbitrárias que, eventualmente, tenham sido tomadas;
2- a Fundação Theatro Municipal de São Paulo tem todo o direito de se defender, e tem também o dever de oferecer a readmissão, ou no mínimo um acordo razoável, aos demitidos, especialmente a artistas que tenham passado mais de 20 anos servindo ao TMSP;
3- onde esteve o Ministério do Trabalho nos últimos 20 anos que nada fez em relação à situação trabalhista do TMSP? Por que ficou de boquinha fechada por tanto tempo?;
4- exceto pelo caso das demissões, a administração atual do TMSP está, na verdade, regularizando a situação trabalhista dos artistas e funcionários – coisa que nenhuma outra administração se deu ao trabalho de fazer em mais de 20 anos.

Duas boas notícias
1- Deu no mesmo jornal O Globo ali de cima: a secretária de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Adriana Rattes, vai deixar o cargo no final deste ano e não participará do novo governo. Não fará a menor falta.
2- Os invejosos podem enfiar a viola no saco e podem continuar se corroendo, porque John Neschling continuará dando as cartas no mais importante teatro de ópera do Brasil. Azar dos invejosos.
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/

Comentários

  1. Muito falatório e não vai adiantar de nada. Ué para que isso cara ?
    Quais são os seus objetivos pessoais? Ué, qual é a sua ?

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