O NOVO SOM DE MARIA CALLAS. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

                      Maria Callas, em uma sessão de gravação em Londres, 1962

Maria Callas (1923-1977) foi a mais popular cantora lírica do século XX, e sem dúvida nenhuma uma das maiores. Sua carreira teve o auge em meados dos anos 50 e seu desastroso relacionamento com o milionário grego Aristoteles Onassis, a partir de 1958, comprometerá decisivamente a qualidade de sua técnica. Sua carreira como cantora lírica, em óperas encenadas, terminará prematuramente em 1965, e até 1974 ela insistirá em cantar em gravações de estúdio e em desastrosos recitais. Aqui no blog há um texto onde você poderá saber mais detalhes da vida desta grande artista (acesse aqui).
 O legado discográfico de Maria Callas é um dos mais preciosos de toda a história da gravação, sendo que seus primeiros registros datam de 1949 e os últimos de 1969. A Warner, que comprou em 2013 o selo EMI Classics, acaba de realizar um excelente trabalho de restauro de todas as gravações de estúdio que a cantora realizou. Um trabalho apurado que merece todos os elogios.
O mítico Abbey-road studio, local das novas remasterizações das gravações de Maria CallasO mítico Abbey-road studio, local das novas remasterizações das gravações de Maria Callas
A segunda remasterização
Há 25 anos, quando surgiu o CD, a EMI, como outras gravadoras, realizou desastrosas remasterizaçoes de gravações que tinham sido lançadas em LP. Um som “achatado” e sem brilho arruinou diversas gravações de referência, e o mesmo se passou com as gravações de Callas. No mítico estúdio da Abbey Road (o local das gravções dos Beatles), em Londres, uma equipe de técnicos – Simon Gibson, Allan Ramsay e Ian Jones, restauraram meticulosamente mais de 60 horas de gravações. O resultado é um álbum com 69 CDs, acompanhados de um CD Rom com todos os textos das obras registradas e um livro de 136 páginas com capa dura, com diversas fotos inéditas. Este álbum no site americano “Amazon.com” aparece pelo notável preço de U$ 165,00 (U$2,50 por cada disco), sendo que lamentavelmente este magnífico preço fica meio que comprometido para nós brasileiros pelos impostos de importação. Já no site brasileiro “cdpoint.com.br” o preço é bem salgado: R$ 1.207,39 (R$17,50 por CD). Mesmo com todos os impostos e o frete o preço do site americano é menos do que a metade do site brasileiro. A boa notícia é que a gravadora a partir deste mês lança os diversos itens separadamente. Desta forma podemos escolher os itens que nos interessa, apesar de perdermos este livro que imagino ser bem interessante.
A coleção completaA coleção completa
Resultado magnífico
Pude ouvir três itens lançados nesta nova remasterização: Cenas de loucura (Mad scenes), de 1956, Arias líricas e de coloratura (Lyric and Coloratura Arias), de 1954 e a “Tosca” de Puccini gravada em 1953. No primeiro destes itens Callas canta com a Philharmonia Orchestra regida por Nicola Rescigno e interpreta de maneira estonteante cenas de Hamlet de Thomas, Anna Bolena de Donizetti e nos deixa sempre de queixo caído com a cena final de Il Pirata de Bellini. Sempre achei este um dos melhores testemunhos discográficos da cantora, mas ouvi-lo com esta nova roupagem nos deixa ainda mais perplexo. A equipe conseguiu um balanço entre a orquestra e a voz muito próximo do ideal. Em uma palavra: fantástico. O segundo item que ouvi, “Lyric and Coloratura Arias” foi gravado em Londres também com a Philharmonia Orchestra regida por Tulio Serafin. Nele fica demonstrada a versatilidade da cantora que numa mesma sessão canta árias dramáticas como “La mamma morta” de Giordano e uma ária de coloratura como “Ombra leggera” de Meyerbeer. O mito fica aqui ainda mais demonstrado por uma remasterização exemplar. A “Tosca” de 1953 (ela gravaria de novo em 1965, sua última gravação de uma ópera completa) é considerada por muitos a sua melhor gravação de uma obra lírica. Regida pelo grande maestro Victor de Sabata, Callas atua junto a Giuseppe di Stefano e Tito Gobbi. Mais uma vez o resultado desta nova edição nos torna evidente a grandeza desta interpretação.
Callas, para sempre
Este novo lançamento de gravações, com mais de 50 anos de idade, nos mostra a atualidade e a permanência desta grande artista. A única coisa que lamento é a exclusão de uma gravação que não foi realizada em estúdio mas que merecia estar nesta coleção: a Lucia di Lammermoor de Donizetti, gravada ao vivo em 1955 em Berlim, regida por Herbert Von Karajan. Mas mesmo assim a série é fantástica e penso seriamente em adquiri-la completa, mesmo pagando os malfadados impostos. Callas merece.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/

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