BAIXO BRASILEIRO LUIZ OTTÁVIO-FARIA CANTA NA ESPANHA.


Estreia na Galícia uma das óperas mais interessantes dos primórdios de Verdi, “Attila”.
Luiz Ottávio-Faria em um de seus concertos
Luiz Ottávio-Faria em um de seus concertos

A Temporada Lírica traz, em seu Ciclo de Inverno, este título não muito frequente, com um elenco estelar, que inclui o imponente baixo Luiz Ottavio Faria; a soprano predileta de Lorin Maazel nos últimos anos, Ekaterina Metlova; aquele que para alguns já é o melhor barítono verdiano de nossos dias, Juan Jesús Rodríguez, e um dos tenores com maior futuro entre a nova geração de cantantes italianos, Piero Pretti. A Sinfônica da Galícia e o Coro Gaos estarão sob a regência de uma grande conhecedora deste repertório, Keri Lynn Wilson, que iniciou sua carreira como assistente de Claudio Abbado e hoje rege nos principais teatros internacionais.
Abaixo, incluímos algumas notas que o crítico Arturo Reverter escreveu para o programa desta ópera.
“Não há duvida que o Consorcio para la Promoción de la Música y la Asociación de Amigos de la Ópera de La Coruña fez muito bem com a programação de Attila, de Verdi, ainda que seja em versão de concerto. É um título não muito frequente em nossas temporadas e,  de certo modo maldito… Há que assinalar que é uma composição cheia de força em muitas de suas passagens, uma das obras mais vigorosas de Verdi, com uma forte mas efetiva orquestação, provida da  energia, do impulso e do fervor do jovem Verdi, dessas épocas difíceis em que lutava por fazer seu nome e por adquirir, com o trabalho, o domínio do métier. Anos, portanto, de arduo labor e de aprendizado.
Este “Drama lírico em um prólogo e três atos” estreou no La Fenice, de Veneza, a 17 de março de 1846. A primeira representação, com o tenor e o barítono indispostos e com uma orquestra de escassa qualidade no fosso, foi um pequeno fiasco. Na terceira função, o êxito sobreveio quase de maneira inesperada. A partir daí, a obra iniciou uma irreprimível carreira que se estendeu a todo o século XIX. Como em óperas anteriores, Verdi começou trabalhando sobre um tema base. Neste caso, já se havia escolhido o tema de Attila, por demanda de La Fenice, com meses de antecedência à estreia no La Scala de Giovanna d’Arco (1845) e, portanto, de Alzira, obra imediatamente anterior a Attila.
O compositor havia prometido a partitura a um novo editor, Francesco Lucca (Ricordi havia sido até então, e seria no futuro, o preferido), sem saber, inclusive, qual iria ser o tema da composição. El músico preparou o esquema com Piave, que começou a escrever o libreto com a recomendação de “estudar muito este argumento e ter bem em mente tudo: a época, os caracteres, etc… etc…”
O tema, curiosamente, atraia muito o compositor. Tinha-o em mente desde 1844 e isso provinha do drama Attilla König der Hunen (1808), do alemão Zacharias Werner, que, segundo exagerada opinião de Madame de Staël, era “o sucessor de Goethe e de Schiller”, e ressurgia do folclore pagão. A ópera alterou bastante o drama e fez que perdesse seu estofo antirromano. O que não sabemos é a razão porque Verdi se sentira tão atraído por esse tema pseudohistórico,
Em julho de 1845, o autor disse a Ferretti que Piave no estava trabalhando bem e transferiu o trabalho para Solera, que se contagiou de entusiasmo pelo projeto: “É um tema estupendo, estou contente!”. O caso voltou a experimentar outra mudança, pois Solera se ausentou (viajou a Barcelona para encontrar-se com a que haveria de ser sua esposa e se desentendeu com Verdi). Este, de novo, teve que recorrer a Piave, menos pomposo, mas fiel sempre às intenções verdianas, que foi quem, finalmente, concluiu o texto.
A partitura avançava lentamente, porque o estado de saúde do autor não era dos melhores e ele se queixava de reumatismo. O resultado é bastante irregular. Não encontramos na obra a unidade alcançada em Nabucco ou Ernani, ainda que o compositor conseguisse uma escrita realmente vigorosa em alguns pontos. Creio que é um sólido personagem de tirano, destinado a um baixo cantante…”

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