CORTINAS LÍRICAS INOVA EM ESTREIA COM LA CLEMENZA DI TITO NO THEATRO SÃO PEDRO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
O mais dinâmico e inovador teatro de São Paulo, assim se define o Theatro São Pedro. Com um orçamento magrinho sua direção consegue fazer pequenos milagres em um temporada repleta de boas surpresas. A última novidade foi a séria Cortinas Líricas, que apresenta " trechos de grandes óperas, interpretadas por solistas e orquestra sem a participação de coros ou qualquer tipo de movimentação cênica". A definição foi alterada, ao invés do chato senta e levanta dos solistas existe sim uma movimentação cênica, dirigidos por Malú Rangel os solistas se movimentam e expressam sentimentos dos personagens.
O título escolhido para a estreia foi La Clemeza di Tito, composta por Mozart em seu último ano de vida simultaneamente com a ópera A Flauta Mágica e o Réquiem, período pra la de conturbado na vida do compositor com dívidas e credores batendo na porta e a saúde frágil. Encomendada para a coroação do rei Leopoldo II é um dos últimos resquícios da opera seria. Suas árias ainda expressam um único sentimento do personagem e sua música oscila entre a grande inspiração e a monotonia.
A Orquestra do Theatro São Pedro regida por Marcelo de Jesus conseguiu sonoridade em volume ideal para a sala e andamentos compatíveis com com as árias. O mezzo soprano Andreia Souza cantou Vitellia, sua voz esbanjou potência e volume em um agradável timbre. Pecou em distorcer e forçar os agudos que saem gritados diversas vezes.
Bruno de Sá se intitula sopranista, o papel de Sesto é reservado a um contralto ou mezzo soprano e mais recentemente a um contratenor. Não importa a nomenclatura, o que posso afirmar é que o rapaz canta com técnica elevada em um timbre que consegue coloridos especiais. Sua atuação vocal peca no exagero dos floreios e das coloraturas, quer cantar para arrancar aplausos e mostrar virtuose excessiva. Corre riscos e comete falhas tornando o personagem exagerado vocalmente. Só faltou torcida uniformizada para aplaudi-lo.
Camila Titinger mostra evolução a cada apresentação, aluna da Acadêmia de Ópera do Theatro São Pedro, a jovem e bela moça interpretou Servilia e fez bonito. Voz de soprano lírico com agudos sedutores e consistência em toda a extensão. Gilberto Chaves não se entendeu com o personagem Tito Vespasiano, sua voz esteve em um timbre que não lhe pertence, forçou na cor buscando um timbre escuro e não conseguiu com o material que possuí.
O ano está só começando e o Theatro São Pedro está a pleno vapor, além da temporada de óperas, concertos e a Série Grandes Vozes teremos mais dois títulos da série Cortinas Líricas: a rara Gillaume Tell de Rossini e a exuberante Os Contos de Hoffmann de Offenbach. Cantores brasileiros, alunos da academia e a orquestra em atividade são sinais que todos estão ganhando experiência. Infelizmente na Praça Ramos a legião estrangeira tomou conta e nossos cantores são marginalizados. Ainda bem que temos o Theatro São Pedro.
Ali Hassan Ayache
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