SOPRANO DANIELLA CARVALHO DEIXA OS TRÊS REIS DE QUEIXO CAÍDO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE DA ÓPERA "O AMOR DOS TRÊS REIS" NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.




   Quando vi os títulos da temporada de 2015 do Theatro São Pedro fiquei estupefato. Esperava clássicos da ópera conhecidos do grande público e me deparei com títulos exóticos e diferentes. A primeira ópera do ano me faz crer que minha angústia foi em vão. O Amor dos Três Reis, de Italo Montemezzi é a prova incontestável que o Theatro São Pedro está no caminho certo ao apresentar novidades interessantes na cena lírica paulistana.
   A música e o tema de O Amor dos Três Reis têm inspiração em diversos compositores como Debussy e seu Palléas et Mélisande e Wagner com Tristão e Isolda. Passeia em cenas veristas mas não adere em sua totalidade ao movimento e de sobra tem trechos inspirados na música alemã. Essa discussão é acadêmica e deveras chata, existem diversos pontos de vista e cada um defende sua tese de forma ferrenha. O importante é que a música de Montemezzi tem escrita que mostra o caráter dos personagens e representa uma mescla que abrange o fim do romantismo, o verismo e a música alemã de Wagner. O principal de tudo é que transmite emoção nas notas e deixa o público tocado com suas melodias. Não por acaso fez enorme sucesso nos Estados Unidos e é louvável sua montagem no Theatro São Pedro.
   A dona da noite, a rainha da cocada e aquela que monopolizou os olhares foi o soprano Daniella Carvalho. Sua Fiora tem voz possante, limpa e de técnica apurada. Munida de um timbre encorpado esbanja nos agudos sem medo de correr riscos e abusa dos pianos. Transmite e dá credibilidade à personagem, consegue alterar o colorido vocal, afetiva e tenra com seu amado Avito e amarga e tensa com o noivo que ela não ama Archibaldo. Poucos mudam o caráter vocal com tamanha maestria, é difícil encontrar adjetivos para descrever a emoção de ouvir essa bela cantora. Ficará na memória para sempre.  
   Sávio Sperandio mais uma vez exibiu excelentes dotes vocais, o baixo esbanjou nos graves cheios e carregados de emoção com uma voz de timbre coeso. Douglas Hahn é barítono de grande qualidade vocal, não teve dificuldades em interpretar o personagem Manfredo, o fez com uma voz segura e repleta de nuances que mostram o perfil do personagem. Juremir Vieira é tenor versátil, cantou diversos papéis em sua passagem européia, como Avito sua voz oscilou entre uma beleza melódica penetrante e algumas passagens sem brilho nos agudos.
   Sergio Vela é um faz tudo da ópera, assina o cenário minimalista, poucos objetos de cena que quando aparecem do alto sempre estão iluminados. Faz os figurinos que mostram o papel de cada personagem no contexto da história. Desenha uma luz que tem qualidades para enriquecer o conjunto. Sua obra tem inspiração e é uma versão light do diretor Bob Wilson, só faltaram as máscaras. Exagera no gestual, principalmente da personagem Fiora embora consiga fluidez nas cenas.
   A Orquestra do Theatro São Pedro apresentou musicalidade ideal para ópera, Luiz Fernando Malheiro fez uma leitura que destaca as harmonias e as belas melodias da partitura. O coro esteve a altura do evento, esconder as vozes no último ato realçou o clima sombrio do mesmo.
Ali Hassan Ayache  

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