NOVE MOTIVOS PARA QUE OS MÚSICOS PENSEM COMO ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO. ARTIGO DE GUILHERME FAQUETTI NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Carole Talbot-Honeck mestra pela Universidade de Ottawa estuda os pré-requisitos psicológicos para performance musical ideal. Aqui, ela descreve uma série de atitudes desportivas que tem igual valor para os músicos.
  1. O amor a sua profissão
Meu orientador de tese chama simplesmente de “alegria”. Os músicos têm que lembrar que o amor à música vem em primeiro lugar e às vezes é preciso lembrar-se disso. Para a grande maioria, músicos de elite relatam que ao longo de muitos anos, em uma longa carreira, o amor pela música e o prazer de estar tocando crescem junto com seu nível de habilidade e experiência. Isto é como deveria ser, mas às vezes, problemas físicos ou mentais podem levar a uma perda de gozo. Estes precisam ser tratados e corrigidos a fim de restabelecer o equilíbrio.
  1. Compromisso
Uma vez que uma pessoa decide fazer da música sua carreira, ela deve comprometer-se a desenvolver todo o seu potencial, investir muito tempo e energia é necessário para atingir seus objetivos. Este é o perfeccionismo no sentido mais positivo da palavra: a história interminável de assumir um concerto pela enésima vez e encontrar novas ideias ou novas inspirações para tornar o som excitante e fresco.
  1. A autoestima
Músicos devem acreditar no mérito da sua busca e na sua capacidade de conseguir isso. A autoestima é a segunda mais incompreendida ou mal utilizada palavra do dicionário de aptidão mental (após o pensamento positivo). Eu prefiro a palavra alemã (Selbstbewusstsein) ou autoconsciência e sustentar que você pode sempre melhora-la. Como David Finckel escreve em seu artigo (10 hábitos de músicos de sucesso), conheça a ti mesmo… A autoconfiança cresce a partir de saber o que você pode e o que você não pode fazer e, claro, de aceitar a si mesmo como a pessoa que você é, defeitos e tudo, sem nunca querer parar de aprender ou melhorar. Essa autoconsciência não tem nada a ver com ser arrogante ou egoísta; pelo contrário, os músicos que estão confiantes na sua própria capacidade dão prontamente aos outros (seja como professores ou mentores). Eles nunca sentem a necessidade de se comparar com os outros. Um saudável senso de autoconsciência deve ter uma base ampla (diferentes papéis, interesses, hobbies) e certamente não todos amarrados em algo particular. Minha frase mágica aqui é: “Eu sou o que sou; muito mais do que estou fazendo agora!”.
  1. Objetivos idealistas, não materialistas.
Os músicos têm objetivos elevados. Suas aspirações podem ser divididas em três categorias principais: metas de auto realização e desenvolvimento pessoal; metas referentes à música em si (fazer música e justiça com o compositor); e, finalmente, querer se comunicar com o público ou expressar-se através de sua música. Qualquer que seja a categoria (ou categorias), as metas de desempenho devem ser derivadas destas expectativas se quiser ter uma vida de satisfação e realização.
Eu uso três qualidades para descrever o que eu considero ter uma ótima performance: criatividade, espontaneidade e flexibilidade. A criatividade é o processo de tirar uma música e torná-la própria, de desenvolver uma visão do que isto significa para você, o que você quer expressar com ela. A espontaneidade é a “criatividade do momento”, inspiração ou intuição e só é possível se você está bem preparado, confiante em si mesmo e na sua preparação. Finalmente, a flexibilidade também é estar aberto para o que vier “no momento”, refere-se principalmente a influências externas (o que os meus colegas estão fazendo, o salão, a acústica, o público etc…)
  1. Foco
Multi tarefas está fora! O cérebro humano não é ligado a concentrar-se em mais de uma coisa ao mesmo tempo (ver Clifford Nass). Isto tem implicações no que diz respeito à prática eficiente e no que está sendo focado. Ironicamente, esta é uma “capacidade” que não pode ser treinada; quanto mais você faz, pior fica.
Central para a ideia de autocontrole é a capacidade de se concentrar e focar a atenção, assim, evitar distrações. Em um seminário com os alunos de uma escola de música recentemente, eu estava surpreso que a incapacidade de se concentrar teve o nervosismo substituído como sua preocupação número um.
Alguns músicos preferem a anulação da autoestima, por medo de parecer arrogante contudo o altruísmo é o objetivo foco para uma performance e apenas um sentido muito forte de si mesmo permite que você se esqueça e se concentre na tarefa em mãos!
  1. Autocontrole
A força de vontade está de volta na moda! Após anos de negligência, é novamente considerada uma habilidade muito importante. Eu evito chamá-lo de um traço de caráter porque pesquisas mostram que as pessoas podem ser muito bem organizadas  em alguns aspectos de suas vidas e notoriamente displicente em outros. Por exemplo muitos universitários ao se preparam para as provas finais nos stress dos estudos, vestem meias sujas no dia da prova (ver Baumeister e Tierney). O fato é que eles provavelmente não têm escolha. Pense na força de vontade como uma quantidade finita: não importa o quão diferente ou não são às demandas que você coloca para si mesmo (concentração, paciência, controle de comportamento, etc), você só tem uma jarra de força de vontade à sua disposição. Quando o frasco estiver vazio, você correra para os únicos meios de reabastecimento (alimentação e descanso) que permitirá a você enfrentar o próximo desafio.
  1. Perspectiva adequada
Definir a perspectiva correta em poucas linhas não é fácil. Perspectiva adequada significa estar aberto; sempre à procura de oportunidades para crescer. Significa manter uma visão ampla, não transpirar com pequenas coisas ou ser pego em pequenos detalhes.
E aí está, a atitude ou habilidade mental mais incompreendida: o pensamento positivo. Pensadores positivos podem viver até sete anos e meio a mais de acordo com um estudo longitudinal feito com milhares de enfermeiros suecos. Eles não ficam doentes, e quando ficam se curam mais rapidamente que o normal. Tudo isso não tem nada a ver com ser irrealista ou brincar com si mesmo. Isso significa abordar os problemas e/ou retrocessos em um quadro de busca de solução de espírito. Significa assumir o comando, o que nos leva ao próximo aspecto da perspectiva apropriada: sentar no banco do motorista. Músicos bem sucedidos não se sentem como vítimas nem querem ser vistos dessa forma pelos outros. Contratempos estão aí para ser analisados e compreendidos. As soluções podem ser incorporadas no seu plano de preparação. O que está além do controle pertence à categoria ‘oh que inferno’, para ser constatado e rir mais tarde.
Por último, manter as coisas em perspectiva significa se divertir. Lembre-se, é tudo sobre amar música, fazer música e ser grato a uma excelente vida fazendo aquilo ama!
  1. Saúde e aptidão física
Quando os músicos perguntam por que devem fazer exercícios físicos e cuidar de seu corpo, eu respondo: ‘Por que não? Você é um ser humano também, não é? Você pode ler todos os dias sobre a necessidade de fazer algo para a sua saúde. Músicos (em oposição à maioria dos atletas de elite) pertencem às pessoas de sorte que podem desfrutar de muitos anos de atividade desde que a sua saúde física e mental permita. Além disso, seu corpo é seu instrumento. Se você cuidar bem dele, se você treinar de forma eficiente (ver aprendizagem neuro-motor) e dar-lhe o que ele precisa para funcionar, ele estará lá para você. Ser capaz de confiar em seu instrumento é o fator mais importante para lidar com o medo do palco!
  1. Análise
Um maestro famoso costumava dizer: “Se você optar por ler e acreditar nas boas críticas, então você deve acreditar nas más também! Feedback vem em muitas formas e os músicos têm que saber como lidar com ele. Eles têm que analisar o seu próprio desempenho (mantendo uma boa perspectiva), dar sentido ao que outras pessoas estão dizendo, incorporar algo de útil em seu plano de preparação, em seguida adicionar a sua performance e seguir em frente…
A tese de Carole Talbot-Honeck ‘The Essence of Excellence; Mental Skills of Top Classical Musicians‘ foi publicado no The Journal of Excellence, Vol. 1 Nr. 1, maio de 1998.
Guilherme Faquetti
Fonte: https://guilhermefaquetti.wordpress.com/2015/03/19/nove-motivos-para-que-os-musicos-pensem-como-atletas-de-alto-rendimento/

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