PORANDUBA- LENDA AMAZÔNICA NO THEATRO SÃO PEDRO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   

   A maioria dos compositores atuais procura novas linguagens em suas obras. Compor é rasgar os tratados, fazer desaparecer as melodias e inventar barulheiras atonais que não se comunicam entre si. Temos uma tonelada de bobagens "modernas" que não dizem nada ao ouvinte, incomodam mais que incorporam e dão um ar de intelectual . Vide diversas encomendas da OSESP, uma falta de inspiração sem fim. Imaginam eles que daqui há cem anos serão reconhecidos como grandes compositores com obras de grande envergadura, citam mestres da música clássica que levaram décadas para ter sua obra reconhecida e cultuada. Doce ilusão, o máximo que conseguirão é entrar nas notas de rodapé dos anais da história da música.   
   Felizmente não são todos que apelam para esses artifícios, Edmundo Villani-Cortês é um que não cai nessa armadilha, sua ópera Poranduba está repleta de melodias agradáveis inspiradas em temas amazônicos. Vence as dificuldades de compor sob um libreto em português, uma língua que não é musical para a ópera. Arias, duetos e temas corais são apresentados com música vibrante, na maioria das vezes a escrita é simples com algumas árias de grande inspiração melódica e outras de uma simplicidade amadora. Mescla diversas linguagens: usa as modinhas brasileiras, música de cunho folclórico e árias de cunho italiano. O libreto é baseado em contos indígenas, onde o fogo como elemento da vida faz ligação entre os contos. Ficou tudo confuso e sem uma linha de condução.   
                                      Poranduba, cena foto Internet
   Poranduba em cartaz no Theatro São Pedro tem cenários modernos, com painéis triangulares que se movimentam de acordo com a evolução das cenas, luzes para todo lado que não condizem com o tema indígena amazônico. Os cenários estão mais para os astecas que os índios nacionais. Os figurinos carecem de criatividade, são uma mistura de tribos que vai do Oiapoque ao Chuí.
    A Orquestra do Theatro São Pedro aprendeu a tocar ópera, regida por André dos Santos entregou uma sonoridade compatível com musicalidade operística. O Coro Infanto Juvenil da Escola Municipal de Música cantou com brilho, uma sonoridade pra lá de agradável e o Coral Lírico Paulista esteve a contento.
   O barítono Leonardo Neiva cantou o personagem Poranduba, mostrou nele uma voz com graves consistentes e uma técnica vocal primorosa. Gabriella Pacce teve a melhor ária da ópera encarnando Ceucy, não se fez de rogada e cantou com um timbre harmonioso e encorpado. Uma voz que agrada pela beleza do lirismo. Roseane Soares esteve com voz sem inspiração, abusou do direito de desafinar. Aline Lobão é mezzo-soprano que fez Iacy, a jovem desfilou um timbre marcante com agudos e graves sólidos e técnica segura. A veterana Celine Imbert é mezzo-soprano mostrou uma voz madura e vigorosa como A Mãe.
   Oportunidade única, em uma semana assistir a três óperas raras e duas cantadas em português, o Theatro Municipal de São Paulo apresentou Um Homem Só e Ainadamar e o Theatro São Pedro monta Poranduba. Quando comecei na ópera eram quatro ou cinco títulos por ano. Em 2015, na cidade de São Paulo são mais de uma dezena, sinal que a ópera esta se arraigando na cultura da cidade. Que esse número sempre aumente. 
Ali Hassan Ayache

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