ESTILIZAÇÃO COREOGRÁFICA EM TONS CINEMATOGRÁFICOS. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Desde os anos 70, quando Mats Ek, o filho de sua fundadora Brigit Culberg, assumiu sua direção, a cia. sueca exorcizou o universo coreográfico com suas iconoclastas apropriações de clássicos como Giselle, Swan Lake e Bela Adormecida.
O Culberg Ballet , que esteve por aqui, mais de uma vez, com aplauso total do público e da crítica, está de volta com um trabalho encomendado a outro mestre mor neste olhar armado em novas linguagens – Edouard Lock. Ele também bastante conhecido pelas suas desafiantes concepções frente a cia. canadense “ La La La Human Steps”.
Desta vez, o Culberg faz um tributo ao cinema noir dos anos 50, com seus climas policialescos, sua fotografia preto/branco em tons claro/escuros e a envolvência sensual de suas trilhas jazzísticas.
“11th Floor” prima pela simbiose refinada de dança, luz e música na sua indução, sem uma rígida unidade dramatúrgica, de climas narrativos de filmes nostálgicos , entre conflitos de poder e paixões, violência e crimes.
Num palco nu, um quarteto (saxofone/clarinete,baixo acústico, piano e acordeom) faz apuradas incursões experimentalistas pelo free - jazz e pelo tango, e luzes, ao fundo e no alto, referenciam, em círculos, as silhuetas dos nove bailarinos( dois homens, seis mulheres).
A complexa conversão de musica e iluminação, alcança sua precisão nos sedutores figurinos femininos( saias negras justas cavadas) em contraste com a solenidade dos ternos masculinos.
Mas é na rigorosa exigência técnica que a obra atinge sua culminância inventiva, através da expressividade no detalhamento minimalista do gestual de braços, pernas e pés jogados para o alto, com ritmo marcado em nervosa movimentação.
Esta torsão leva ao extremo o tônus muscular, especialmente para o elenco feminino no risco da instabilidade do equilíbrio em saltos altos mas, ao mesmo tempo, inebria o público com sua permanente tensão . E chega, visualmente, a lembrar cenas fílmicas com rotação acelerada,como nos desenhos animados e nas comédias mudas.
Um espetáculo coreográfico sem fronteiras , exponencial na envolvência de música e cinema, fotografia e moda que, na simultaneidade de suas linguagens estéticas, promove uma aproximação, carismática e mágica, com a clássica definição de Paul Valery:
“A dança é uma música para ser vista”.
Wagner Correa de Araujo
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