BOLSHOI, BALÉ SPARTACUS E O REALISMO SOCIALISTA EM SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
O Estado Soviético tinha a mania de se meter em tudo, queria controlar a vida de seus cidadãos de maneira plena. Nas artes não foi diferente: desenvolveu uma estética que ele, (o Estado), achava ideal. Valores como o coletivo, o trabalho em comunidade, a simplicidade do campo eram os mais queridos dos comunas do século passado. Impostos de cima para baixo, são uma aberração do século XX. O balé Spartacus é um trabalho que os comunas julgavam ser dessa estética. A luta dos escravos contra os poderosos romanos simboliza a própria luta do comunismo contra o capitalismo, opressor contra oprimido. Não podemos nos esquecer que o balé foi composto e produzido por encomenda na década de 50. Os soviéticos tinham na lembrança a hercúlea luta contra os nazistas. Mais uma simbologia.
Toda arte produzida de forma artificial, por encomenda, através de algum burocrata do Kremlin, fica sem graça. Não é o resultado da criatividade de algum gênio da música, das letras e da dança. Primeiro Stalin adorou a idéia desse balé, embora tenha morrido sem assistí-lo. Aran Khachatarian ficou incumbido da composição, seguiu a cartilha comunista, fez uma música fria, marcial, que abusa dos metais embora tenha acertado nas melodias.
Spartacus tem seu ponto forte na coreografia. Yuri Grigorovich coreografa belos números, muitas vezes utiliza passos de dificuldade máxima para mostrar a superioridade soviética nas artes sobre o ocidente. Quebra a sequência dramática, tira o ritmo da dança, o que importa é a dificuldade técnica. Joga para a galera, aplausos efusivos a cada momento. Algum burocrata deve tê-lo obrigado a isso.
A versão apresentada pelo Bolshoi no teatro Bradesco nos dias 24,25,26 de Junho já tem mais de cinquenta anos, bem diferente do Brasil, onde as montagens quase nunca são reapresentadas. O corpo de baile do teatro dançou com sincronismo que beira a perfeição, para eles parece fácil, dançada há várias gerações pelo teatro moscovita é natural que o seja.
Spartacus tem um nome principal e ele se chama Ivan Vasiliev, o rapaz exibiu toda a técnica da dança russa em saltos sempre no limite máximo das possibilidades humanas, palmas em cena aberta foram ouvidas diversas vezes. Consegue ser dramático e interpretar as mazelas do escravo rebelde com a força física e a explosão de Carlos Acosta e a dramaticidade de Mukhamedov. Um bailarino no auge de sua forma que encantou a plateia. Os outros solistas se apresentaram em alto nível com destaque para Maria Vinogradova, a dançante faz a escrava Prhygia com romantismo e inocência.
A Orquestra Sinfônica de Barra Mansa regida por Pavel Sorokin foi atrapalhada pela amplificação. Toda a emoção da música ao vivo desaparece no meio de microfones e alto falantes. Não existe diferença entre uma orquestra e uma gravação em música amplificada.
O público brasileiro nunca aprende: sobram celulares ligados em redes sociais e zap zaps da vida, uma festa de pessoas entrando atrasadas e palmas fora de hora. Ingressos a preços exorbitantes para um evento que tem patrocínio de grandes empresas que se beneficiam de apoio cultural de programas do governo, ou seja, dinheiro público para a elite poder assistir um balé e se comportar mal.
Ali Hassan Ayache
Cenas de Spartacus, foto Internet.
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