EUGENE ONEGIN, MUITO INVESTIMENTO E POUCOS RESULTADOS NO TMSP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

    

A ópera de autoria de P. I. Tchaikovsky (1840-1893) é datada de 29 de março de 1879 estreada em Moscou; sendo o compositor contemporâneo do "grupo dos cinco", ele ainda trazia as marcas do autodidatismo. Seus compositores integrantes eram: Mili Balákirev (1837-1910); César Cui (1835-1918); Modest Mússorgski (1839-1881); Rimski-Korsakov (1844-1908) e AlexanderBorodin (1833-1887). "Eugene
Onegin" e "A Dama de Espadas" foram as duas óperas que sobreviveram à barreira da língua e são encenadas regularmente nos teatros de ópera, mesmo em países não eslavos. Em São Paulo, o Theatro Municipal está apresentando-a pela segunda produção em toda a sua existência de 104 anos de vida ativa, desde o dia 30 de maio. 
        A exuberância sinfônica da obra do mestre russo soou com boa fluência na batuta do maestro francês Jacques Delacôte com todo o esplendor orquestral e sua firme condução aos músicos da OSM, solistas e Coro Lírico Municipal, cujo preparo de Bruno Greco Facio, realizou-se a contento, ainda que se desencontrando da orquestra e por vezes também pondo-se a dançar nas cenas de baile. Assinale-se que Delacôte abreviou algumas dessas páginas em favor de encurtar as cenas. 
        Embora esta obra obtenha melodias abundantes, ora românticas e sentimentais contendo arcadas básicas nas cordas para os solistas, a maior parte carece da dramaticidade exigida pela trama, e vários temas são superficiais, em passagens monótonas e cansativas, talvez pela temática de pouca originalidade e inspiração, ou pela pequena conexão e inexperiência do compositor com o teatro lírico. 

        Algumas observações não podem nos fugir como o fato de se contratar três cenógrafos (Italo Grassi, Maria Rossi Franchi e Andrea Tocchio) todos daItália, para apresentar um trabalho menor que  o convencional e de fraca criatividade; não ultrapassando do funcional e, em algumas  cenas chega a atingir o "brega" (ato III, quadros I e II). Os figurinos de Lorenzo Merlino são apenas aceitáveis, exceto no ato III; o de Tatyana, num traje de formas geométricas abstrato e inadequado à majestosa senhora da alta sociedade em que se transformou. 
Os jogos de luzes, de Caetano Vilela lançaram-se perfuradores e penetrantes, apenas não é confortável aquele foco dirigido e que cega ao público. 
        O diretor cênico  também italiano Marco Gandini optou por um espaço amplo e limpo no qual os cantores possam atuar livres,  tornando as cenas enfadonhas e a montagem íntima, na qual ele afirma fixar-se sobre a alma humana e nos sentimentos profundos, nem sempre é entendida pelo público que se aborrece com o tédio teatral por ele proposto. 
        A valsa, mazurka e polonaise apresentaram figurinos e marcações inverossímeis, todas fora de pulsação rítmica e da cultura da Rússia Imperial, descaracterizando-se assim as coreografias, para as quais foram contratados dez bailarinos, preterindo-se os do Municipal (Balé da Cidade de São Paulo), sem contar a vinda também do  fraquíssimo coreógrafo Manuel Paruccini,  do Teatrodell' Opera de  Roma. Não há necessidade disso. Que espetáculo caro e quanto dinheiro esbanjado. 
        O soprano lírico russo Svetlana Aksenova que ascende a uma carreira promissora nas salas do Gran Teatre del Liceu de Barcelona, Ópera de Amsterdã, Deutsche Óper Berlin e a Ópera de Paris, onde interpretou uma recente Rusalka. 
Cantou esplendidamente o seu monólogo na solidão da noite ao qual foi alvo dos maiores aplausos da noite de sábado (30/5). E também é atriz capaz de realizar uma interpretação interior convincente. A sua companheira Talia Or é um soprano lírico leggero, mais doce e ingênua, convencendo com pianissimos cantados deitada ao solo, em sua cena da carta, numa interpretação de aguçada sensibilidade.
        Andrei Bondarenko vive Eugene Onegin; o barítono ucraniano satisfaz com propriedade. Konstantin Shushakov é jovem demais e realiza boa personificação do papel-título. Ambos possuem vozes robustas e apropriadas.
        Fernando Portari é o tenor mais presente nas produções líricas brasileiras. Cantou satisfatoriamente a sua romança no 2º ato; mas quem tem a melhor vocalidade para o poeta Lenski, é o tenor vindo do Cazaquistão - Medet Chotabaev, muito musical e expressivo, foi aplaudido em sua récita de estreia no domingo, dia 31 de maio. 
         A irmã Olga (de Tatyana) na voz do meiossoprano russo Alisa Kolosova é uma surpresa do bel canto atual, bem como da brasileira Ana Lucia  Benedetti, em aparições muito congruentes.  As amas Filipevna, foram ouvidas na excelente interpretação do contralto russo Larissa Diadkova com sua fluente dicção eslava e bela tessitura vocal somada de intensa vivência de seu personagem; o mesmo não se pode afirmar de Lidia Schäffer cuja voz quase não se ouve nas regiões mais graves. O meiossoprano argentino Alejandra Malvino faz uma boa leitura de Madame Larina, enquanto Keila de Moraes realiza uma ainda melhor conjugação da simpática personagem. 
           Vitalij Kowaljov, baixo suiço-ucraniano é outra surpresa do elenco de estreia.Cantou brilhantemente o seu arioso "To love all ages must submit" (traduzido para o inglês) e foi aplaudidíssimo. Do 2º intérprete, Saulo Javan, rendeu bem menos, devido ao registro de baixo-baritono (buffo) inadequado ao papel. 
            Miguel Geraldi desempenhou-se a contento do papel de tenor leggero (Triquet) exibindo assim a sua facilidade para esse tipo característico. Os demais, discretos. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 02 de maio de 2015.
Inscrito Jornalista sob nº 61.909 MTB /  SP


Eugene Ongein , fotos Internet

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