"FALSTAFF" NO THEATRO SÃO PEDRO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

 

 A remontagem assinada pelo italiano Pier Luigi Vanelli, a partir da direção de Stefano Vizioli e já exibida no Theatro São Pedro em 2013, transporta a trama do século XVI para a Inglaterra provinciana dos anos 70, potencializando as questões sociais contidas na obra.  Mas não é por isso que ela faz sucesso e sim, pela magistral orquestração,  de Giuseppe Verdi (1813-1901), repleta de incríveis harmonias, linhas melódicas  de merecida apreciação e na escolha dos rítmos em sua diversidade de andamentos. A recepção  entusiástica  d e Falstaff desde a sua estreia a 09/2/1893, no Teatro Alla Scala de Milão, espelha o gênio levado ao extremo. Ouça La Traviata, Simon Boccanegra,  depois Don Carlo, após Falstaff e note  a brutal diferença !
    Silvio Viegas  preparou  a Orquestra do Theatro São Pedro com muita sabedoria e brilho, regendo-a com autoridade; entretanto, no domingo (14/6) foi André Dos Santos quem a regeu com brilhantismo. Nas demais, Viegas rege todas  até 21  de junho.
    Wagner Freire com a sua iluminação,   valoriza os cenários de Nicolás Boni e vestuários de Elena Toscano, condizentes com a época de 1970.
    Rodolfo Giugliani  viveu (Sir John Falstaff); muito satisfatório aquele que se pretende ser o heróico, o espertalhão e galanteador da história,   porém falha  em todos os seus atos,  cujo libreto d e Arrigo Boito (1842-1918) baseia-se na peça "As Alegres Comadres de Windsor" e em duas partes de "Henrique IV", de William Shakespeare (1564-1616).A voz de barítono lírico-dramático de Giugliani encontra-se num estágio de rendimento excelente : insinuante, bem timbrada, contagional e extremamente musical,  somando-se a completo domínio do seu personagem. O "L'Onore"   saiu fresco e jovial e ele está apto para o Nabucco, Macbeth, Rigoletto e Simon Boccanegra, pois vestem-lhe como uma luva. 
    Douglas Hahn (Sir Ford) ofereceu boa versão sem ser transcendental. Cantou "É  sogno, o realitá"? com projeção logicamente plausível. Outro papel importante é o de Mrs. Quickly  de Edneia de Oliveira; de bela voz aveludada e timbre escuro, o mezzo soprano dá intervenções convincentes, ainda que se apresente muito obesa, bem como as suas companheiras de palco; Edna D'Oliveira (Mrs. Alice Ford) o soprano já bem aponta para a modéstia do declínio vocal,  com agudos gritados e agressivos aos nossos tímpanos. Nos demais papéis de destaque há um soprano lírico  ligeiro, Roseane Soares, que merece menção como Nanneta; esteve bem na cena e possui um timbre leve, bem trabalhado tecnicamente. Merece observação em sua trajetória no teatro lírico nacional. Igualmente obesa  e carecendo regime, Andreia Souza, mezzo soprano (Meg Page) papel feminino do qual não tem qualquer destaque maior individual, ainda assim, saiu-se a contento.
    Do naipe masculino há a presença de Anibal  Mancini que havia estreado nesse papel (Fenton), o namorado de Nanneta, em 2013. Tenor "leggero" de timbre interessante e de projeçao  regular,  cantou o arioso "Dal labbro il canto estasiato vola".  Completam o elenco o tenor também leggero Ernane Dias  (Dr. Caius); Daniel Umbelino, tenor especializado  no canto barroco e Lied,  realizando muito bem o Bardolfo e finalmente Raphael Domeniche (Pistola, baixo) que não deixam dúvidas. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 15 de junho de 2015.
Inscrito Jornalista sob nº  61.909 MTB / SP

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