COM A PAIXÃO NO CORPO E NA ALMA. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Thiago Soares é destes raros fenômenos artísticos, resultado inusitado da sucessão de mágicas surpresas que vem marcando sua trajetória existencial, da singeleza das ruas do subúrbio carioca à nobreza dos palcos europeus.
Do Municipal carioca ao Royal Ballet de Londres, tornou-se, com o aplauso do público e da crítica, um protótipo do bailarino/ator. Caráter criativo e personalista que, ainda, fez dele, aos 34 anos, o mais conceituado bailarino clássico brasileiro, além fronteiras.
Em “Paixão”, o espetáculo comemorativo de seus 15 anos de êxito internacional, Thiago Soares apresenta um programa diversificado entre o absoluto purismo acadêmico, o neo - clássico e o contemporâneo, entre a performance narrativa e a linguagem de raiz urbana.
No Ato III de O Lago dos Cisnes, com remontagem e concepção de Jorge Teixeira e sua Companhia Brasileira de Ballet, tem,ainda, a participação da argentina Marianela Nuñez e também integrante do Royal, a partner ideal em grandes momentos de sua carreira londrina.
Esta abertura de programa, que dá uma nuance de prestígio à Cia carioca em seu trabalho isolado e meritório em torno do clássico de repertório, ao mesmo tempo, cria um certo conflito com o perfeccionismo clássico absoluto dos dois bailarinos solistas, na protagonização do Príncipe Siegfried e de Odile.
Mesmo com a envolvência de seu “physique du rôle” superlativo nas suas breves entradas na segunda peça “Caresse du Temps” , ficou uma sensação de frágil artesania na estreia coreográfica de Alessio Carbone. Acentuada com certa irregularidade performática dos bailarinos da Cia Brasileira de Ballet. Enfim, com notável distância da magnifica versão de 1985 ,de Rodrigo Pederneiras para os Prelúdios de Chopin.
O duo Paixão ( extrato de Vulcão, criação da Cia. Deborah Colker) conseguiu empolgar o público, pelo desafio da retomada das origens culturais ( "street dance") de Thiago diante do enérgico estilismo de gesticulação, proposto e interpretado por Deborah .
Enfim, o mais original estava na estreia mundial da coreografia de Arthur Pita “La Bala”, pensada para Thiago Soares, em torno dos devaneios e desilusões amorosas de um "cowboy".
Aqui, todos os elementos criativos são impulsionados,em tempo e ritmo precisos, na apreensão arquitetural dos múltiplos aspectos expressivos do bailarino: técnica e sensibilidade, dinamismo e sensualidade, teatro e dança, tradição e modernidade.
Numa confluência cênica de idealizada estética que, além da mera exteriorização do gestual do bailarino/ator , reflexiona a transfiguração emotiva da sua verdade de artista enquanto homem e criador.
Wagner Correa de Araujo
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