HÁ 25 ANOS NASCIA O PROJETO "OS TRÊS TENORES". ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


Plácido Domingo, Luciano Pavarotti, José Carreras e Zubin Mehta: fazendo história
Há 25 anos houve um mega planejamento que nunca tinha sido visto em se tratando de um evento ligado ao mundo da ópera. Na véspera da final da Copa do mundo de 1990 na Itália se concretizava o mais bem-sucedido projeto de música clássica de toda a história. Na noite de 7 julho daquele ano, nas Termas de Caracala, em Roma, os tenores Plácido Domingo, Luciano Pavarotti e José Carreras, em conjunto com as orquestras do Maggio Musicale Fiorentino e da Ópera de Roma, regidas por Zubin Mehta, realizavam um ambicioso projeto que associava exemplarmente uma notável estrutura de marketing com uma inatacável qualidade artística. Naquela noite muitas pessoas ouviam pela primeira vez trechos de ópera, e neste sentido este projeto merece muitos elogios. Musicalmente estávamos diante de três grandes cantores no auge de sua forma. Mesmo Carreras, que acabava de superarar uma doença muito grave (leucemia), estava em boa forma. As duas orquestras atuaram impecavelmente, e o programa foi excepcionalmente bem escolhido, entre árias de ópera e canções populares e uma seleção feita pelo compositor e arranjador Lalo Schifrin para que os três atuassem em conjunto que incluía de “La vie en rose” até “O sole mio”. A junção do concerto com um grande evento esportivo fez com que a iniciativa fosse coroada de êxito. 6.000 pessoas assistiram ao vivo, 100.0000 tentaram comprar ingressos e calcula-se que mais de 40 milhões assistiram através de uma bem-feita transmissão televisiva. O CD duplo com a gravação do evento, “The Three Tenors In Concert” ,foi, segundo o Guiness, o álbum de música clássica mais vendido em todos os tempos: 2 milhões de cópias.
A segunda apresentação
Com o estrondoso sucesso de 1990 o trio de cantores se apresentou de novo na Copa do mundo seguinte, em 16 de julho de 1994. Desta vez em Los Angeles, a orquestra foi a Filarmônica local, mais uma vez regida por Zubin Mehta. Plácido Domingo e Luciano Pavarotti ainda estavam em forma, mas José Carreras demonstrava já uma certa fadiga vocal. O repertório privilegiou mais números populares do que árias de ópera, ao contrário do que aconteceu em Roma, sendo que houve uma pobre homenagem ao nosso país com uma tosca versão resumida (um minuto e meio) da “Aquarela do Brasil”. Esta celebração era necessária pois nossa seleção iria disputar a final no dia seguinte e era a favorita. Se as apresentações de 1990 renderam caches módicos para os cantores, em Los Angeles cada um embolsou a bagatela de U$1.5000.000. Apesar deste enorme lucro o resultado artístico não foi totalmente repetido.
O uso da marca
A partir de 1996 o trio de tenores deram início a turnês mundiais que não tinham ligação alguma com o campeonato de futebol. A primeira turnê foi basicamente europeia, a segunda, em 1997, começou na Austrália, foi aos Estados Unidos e terminou na Europa. Em 1998, em Paris, se apresentaram mais uma vez na véspera da final da Copa do mundo. Desta vez o maestro foi o americano James Levine. O resultado tão pífio quanto a atuação de nossa seleção naquele ano. No ano 2000 houve outra turnê, que incluiu o Brasil. O trio se apresentou em São Paulo no Estádio do Morumbi. A fadiga vocal já era perceptível nos três cantores. Em 2002 houve uma última e melancólica apresentação junto a uma Copa do mundo, desta vez em Yokohama, no Japão. Os dois últimos concertos do trio aconteceram em 2003 nas cidades de Bath na Inglaterra e Columbus nos Estados Unidos. A doença de Pavarotti, que morreria de câncer em 2007, e o esgotamento vocal de Carreras forçaram o fim desta empreitada.
Legado
A ideia de associar ópera a futebol foi de uma felicidade ímpar. Muitas televisões europeias associavam um gol com o si agudo do final da ária “Nessum dorma” da ópera Turandot de Puccini. “Vinceró” (Vencerei) soava bem afinada com a ideia de uma vitória futebolística. Houveram controvérsias já que muita gente pensava que o mundo se limitava a estes três tenores. Houve, por exemplo, um protesto do grande tenor espanhol Alfredo Kraus (1927-1999) por se sentir preterido na empreitada. Examinando mais atentamente o resultado fantástico de 1990 vemos que as qualidades de cada artista ficaram bem evidentes: a voz belíssima de Pavarotti, a sutil expressão de Carreras e a musicalidade de Domingo. Se o projeto tivesse parado em 1994 deixaríamos de assistir o ocaso dos dois primeiros. Para cantores e artistas em geral essa histórica empreitada deixa ensinamentos bem importantes. Houve uma prova concreta de que é possível aliar altíssimos padrões artísticos a um evento de amplitude mundial. Penso que o maior ensinamento para a música clássica é que é possível aliar sucesso com qualidade.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica

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