KARABTCHEVSY É CONVIDADO A SE DEMITIR DO TMRJ, ARTIGO DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

João Guilherme Ripper será o novo presidente da chacota das casas líricas brasileiras.


Se você, caro leitor, acreditou na historinha que andam contando por aí que o maestroIsaac Karabtchevsky pediu demissão do cargo de presidente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ) nesta terça-feira, 23 de junho, abra seus olhos: essa é apenas a versão oficial.
A versão real
Segundo fontes ouvidas nos bastidores do Municipal, que preferem ficar anônimas, Karabtchevsky já havia deixado claro para a secretária de Cultura do Estado, Eva Dóris Rosental, que não aceitava mais dividir o comando da casa comEmílio Kalil – eminência parda ali pelas bandas da Cinelândia, uma vez que até esta data o presidente da Fundação Cidade das Artes não foi nomeado para cargo algum no Theatro.
A secretária, porém, fazia questão da permanência de Kalil, não se sabe bem por que. Diante do impasse, e da ameaça de Karabtchevsky de colocar o cargo à disposição caso não tivesse atendida sua exigência do afastamento de Kalil, o caso foi levado ao governador, Luiz Fernando Pezão, que determinou a saída de ambos. O maestro foi, então, “convidado” a pedir demissão da casa.
Talvez o regente tenha acreditado na força de seu nome para fazer valer sua vontade, mas o problema é que seu grande nome não tem tanto valor assim para políticos medíocres, como os que controlam o estado do Rio de Janeiro.
A saída de Karabtchevsky é profundamente lamentada pelos corpos artísticos do Municipal. Um integrante da orquestra chegou a se emocionar enquanto, por telefone, conversava com este articulista sobre o assunto. Disse que há tempos não havia uma relação tão saudável entre os corpos artísticos e a direção da casa quanto agora, sob o comando de Karabtchevsky. Sentiam-se muito bem tratados pelo maestro, enquanto, em relação a Kalil, o sentimento é de repúdio, pois várias fontes relatam a maneira um tanto rude com que ele vinha tratando funcionários da instituição.
Karabtchevsky
O desejo de Karabtchevsky de fazer um bom trabalho no Municipal pareceu-me genuíno. Há poucos meses, conversei com o maestro por cerca de uma hora durante um almoço no Centro da cidade, e ele demonstrou grande entusiasmo com a missão de fazer o Municipal evoluir.
Ainda que o maestro tenha sido “convidado” a se retirar, para ele, particularmente, talvez esta tenha sido a melhor opção. O Municipal é uma fogueira de vaidades (perdoem o lugar-comum), especialmente em sua direção, sempre em atrito com aqueles que gostariam de ocupar esse lugar (não se sabe bem para quê, visto que ali, há anos, não se faz nada que preste). Eis um dos principais motivos pelos quais a casa não vai para frente, não evolui, não sai do lugar.
Com a saída de Karabtchevsky, o maestro não perde nada. Já o Municipal perde um músico de alta envergadura, consagrado, que, com sua reconhecida trajetória em 80 anos de vida, sonhava em fazer da casa algo mais que aquilo que ela vem sendo na última década: a maior piada dentre os teatros líricos brasileiros, especialmente por sua programação própria tão pobre, tão medíocre, tão marcada pela pequenez.

Kalil
Qual é a de Emilio Kalil é a pergunta que não quer calar. O que ele queria afinal? Mandar na Cidade das Artes e no Municipal ao mesmo tempo? Teria sido acometido por um surto de megalomania? Considera-se um todo-poderoso? Se na Cidade das Artes, pelo menos, a programação fosse de qualidade, poder-se-ia até conjecturar se isso seria mesmo bom, mas a programação do espaço da Barra da Tijuca (Orquestra Sinfônica Brasileira à parte) é uma miscelânea que, quando somada, não dá muita coisa.
Na Cidade das Artes, aliás, não se monta ópera. Por quê? A única tentativa da instituição nesse campo foi um Porgy & Bess amador e que mutilou a partitura de Gershwin, realizado em maio de 2014: um lixo, e até hoje Kalil não explicou direito por que gastou dinheiro com aquela porcaria.
Também pode ser colocada na conta de Kalil a “encenação” de quinta categoria da ópera Fidelio, recentemente apresentada no Municipal. Foi ele quem contratou a diretora de cena, Christiane Jatahy, que fez, sem dúvida, um dos trabalhos menos inspirados de sua carreira. Foi Kalil também quem trouxe do exterior cantores, em sua maioria medíocres, para participar da ópera.
Afinal, para que serve Emilio Kalil?
O novo presidente
A Secretaria de Cultura do Estado confirmou, na noite de ontem, como já vinha sendo comentado informalmente, que o compositor João Guilherme Ripper, atual diretor da Sala Cecília Meireles, assumirá a presidência da Fundação Teatro Municipal, substituindo Karabtchevsky. Já o substituto de Ripper na Sala deverá ser anunciado nos próximos dias.
Pelo menos em um primeiro momento, essa é uma boa notícia, pois Ripper é sério e competente, músico qualificado, interessado e que, no comando da Sala, sempre apresentou uma programação de nível superior à do Municipal, guardadas as devidas proporções entre as duas casas.
Por que digo “em um primeiro momento”? Porque dirigir o Theatro Municipal do Rio de Janeiro é tarefa hercúlea, um verdadeiro desafio, em que não basta apenas programar e colocar no palco. Ali é preciso ter também jogo de cintura político, para obter verbas suficientes para montar uma programação decente (coisa que a casa não tem há muito tempo), e, talvez a parte mais difícil, saber administrar vaidades diversas, não só dentre aqueles que fazem parte da direção, como também dentre aqueles que gostariam de estar na lugar da direção, e fazem de tudo, do lado de fora, para prejudicar a administração da casa.
Desejo boa sorte a João Guilherme Ripper. Ele vai precisar, pois, no Municipal, competência é somente um dos vários predicados que o administrador precisa ter para comandar a casa. Certamente, este será o maior desafio de sua carreira como administrador cultural: fazer do Theatro Municipal do RJ uma casa de ópera de verdade, ativa, produtora, e não a palhaçada, a chacota, a piada que tem sido na última década.

Perguntas ainda a serem respondidas
1 – Se Emilio Kalil queria tanto mandar no Municipal, por que não pediu demissão da Cidade das Artes (uma casa totalmente sem expressão e de programação medíocre) para assumir a presidência na Cinelândia?
2 – Aceitaria João Guilherme Ripper a interferência de Kalil em sua administração no Municipal? Espero sinceramente que não, sob pena de perder a credibilidade que angariou no seu exemplar comando da Sala Cecília Meireles.
3 – Por que a imprensa carioca acredita (ou finge acreditar) em tudo que os órgãos oficiais dizem sobre o Municipal? Por que a imprensa carioca tem o péssimo hábito de não apurar direito as mentiras que lhe contam? Por que a imprensa carioca mente para o leitor ao afirmar que Kalil seria presidente de um certo “Conselho de programação” do TMRJ, sem que realmente tenha sido nomeado para isso? Por que a imprensa carioca não exerce corretamente o seu trabalho, checando a informação de maneira séria, e se limita a simplesmente engolir a historinha que lhe contam sobre o tal “conselheiro” eminência parda? Afinal, para que (ou a quem) serve a imprensa cultural carioca?
Dever de casa para a imprensa carioca: clicar aqui e conferir no Diário Oficial do Estado (edição de 29 de maio) discussão da Assembleia Legislativa sobre a falta de função de Emilio Kalil no Municipal. Está na página 5, coluna central, a partir do 7° parágrafo. Talvez seja exigido cadastro (gratuito) para acessar a página.
Camurati na Petrobras
Segundo a revista Veja, na noite desta mesma terça-feira de reviravolta no meio clássico carioca, a ex-presidente do Municipal, Carla Camurati, foi nomeada para a função de coordenadora cultural da Petrobras (clique aqui). Coincidência, né? Resta saber se, agora do outro lado, dona Carla vai liberar patrocínio para o seu tão querido Municipal…
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/

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