EMBLEMÁTICA GESTUALIDADE. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Integrando, inicialmente , as cias históricas de Martha Graham e Merce Cunningham, Paul Taylor, nos anos 50, teve ali sua formação de bailarino, numa priorização do puro movimento, ainda que ligado ao aspecto narrativo, especialmente no caso de Graham.
Acompanhando o trabalho fundamental de outros coreógrafos como Balanchine, Limon e Jerome Robbins, alcançou sua própria linguagem através do grupo que criou, a partir de 1954.
Seu grande lance inventivo foi a conjugação de um sotaque de humor com a expressão do lado mais escuro da natureza humana, numa dança de predominância do gestual abstrato, com ocasionais incursões temáticas.
Entre o atlético e o lírico das formas, mimetizou a influencia de outras linguagens como o teatro e as artes visuais, com a incisiva colaboração de artistas como Jasper Johns, Roberto Rauschenberg e, com maior continuidade, Santo Loquasto.
Na abertura de seu programa no Rio ( Cidade das Artes), a Paul Taylor Dance Company mostrou a peça “ Mercuric Tidings”, que usa de um referencial mitológico em torno do deus Mercúrio , com seus pés alados, direcionando mensagens entre os homens.
A inspirada coreografia,com a música de Franz Schubert,é ressaltada por aquarelados figurinos de Santo Loquasto ,sob luzes ambientais( Jennifer Tipton).
E completada no fraseado neo clássico a la Balanchine, com uma reinterpretação moderna e dinâmica de "bâtiments", saltos e arabescos, em formas plásticas escultóricas.
“Piazzolla Caldera”tem, outra vez, a cenografia do artista Santo Loquasto, jogando com a sensualidade de tons vermelhos, nos figurinos femininos, e preto, na ala masculina.
Aqui a estilização do tango tem uma interativa eroticidade no cruzamento de corpos , quadris e pernas, sem limitações ,entre duos e trios, de gêneros ou tendências sexuais.
Mas é em “Esplanade” , a obra mais exponencial de Taylor na sua proposta estética da ultra naturalização do movimento, que a performance atinge a sua maior envolvência experimental e expressiva.
Nela a música dos concertos para violino de Bach é de uma consonância sonora absoluta com o cotidiano ato humano de andar em passos lentos , ou a esportividade do correr, saltar e se atirar no chão.
Ainda que sugestionando , em meio à energia, uma nuance de solidão , a peça impulsiona uma libertária vontade na platéia de também estar no palco onde, quem sabe, poderia tornar real a conceitual verdade filosófica de Roger Garaudy:
“O que aconteceria se, em vez de apenas construir nossa vida,nós nos entregássemos à loucura ou à sabedoria de dançá-la?”.
Wagner Correa de Araujo
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