CANCELAMENTO NA ÓPERA : QUEM PERDE SEMPRE, É O PÚBLICO. ARTIGO EXCLUSIVO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

    Noticiou-se na imprensa,  no último dia 25 de setembro,  o cancelamento da apresentação do grupo catalão "La Fura Dels Baus" e da ópera "Così Fan Tutte", de Mozart, ambas previstas para novembro. A ópera seria nos dias 28 e 29/11; 01, 03, 05, 06 e 08/12, num total de sete récitas que encerrariam a temporada lírica de 2015. Note-se que ela já havia sido transferida de 2014 para 2015, e pelo menos nesta administração, não a veremos mais. 

    Como se não bastasse, cancelou-se também, a apresentação da metade da temporada lírica de 2016; permanecendo apenas Don Carlo, La Bohème (em reposição de 2013 e com a direção cênica de Arnaud Bernard), e finalmente Lady Macbeth de Mtsensk, de Shostakovitch, na produção da Opera Helikon, de Moscou. Tudo é importado. Assim, é que não sobrarão verbas suficientes, para honrar os contratos com estrangeiros a peso da variação cambial. Fica claro, que com a contratação de elencos, quase que em sua totalidade, de artistas importados, defrontando-se com a crise que assola o país,  à interrupção dos patrocínios, somada a desnecessária e infundada atitude de importar até iluminadores de cena para os desenhos de luz, figurinistas, cenógrafos e coreógrafos; e inclusive, como se no Brasil não houvessem cantores aptos a papéis secundários, comprimários,  e oportunamente até aos papéis principais: Citem-se aqui Caroline De Come, Luísa Francesconi, Marina Considera, Luciano Botelho, Leonardo Neiva, Fernando Portari, David Marcondes, Paulo Szot e Savio Sperandio entre outros no cenário brasileiro. 

    E quanto ao nosso Carlos Gomes, arquivado há décadas nos palcos brasileiros,  não há desculpas, mais uma vez, será pendurado. Saudosos tempos dos maestros Armando Belardi e Eleazar de Carvalho, ambos ex-diretores do Theatro Municipal de São Paulo. O primeiro encenava frequentemente,  quando era diretor artístico das temporadas líricas,  uma ópera de Carlos Gomes ao ano. Eleazar incluía concertos inteiros dedicados ao grande mestre de Campinas, tendo regido em 1955,  "Lo Schiavo", na abertura da temporada e reabertura do Theatro Municipal,  após a sua primeira e grande reforma,  e não obstante, outras tantas Galas Líricas dedicadas ao compositor. Cantores brasileiros compunham totalmente seus elencos: Paulo Adonis, Assis Pacheco, Sergio Albertini, Agnes Ayres,  Wilson Carrara, Renata Lucci, Teresa Godoy, Benito Maresca, Alfredo Colóssimo, Zaccaria Marques, Costanzo Mascitti, Ida Miccolis, Manrico Patassini, José Perrotta, Andréa Ramus, Benedito Silva, Pedro Stomper, Niza de Castro Tank e Fernando Teixeira.

    Quanto ao intercâmbio de produções do compositor entre Rio de Janeiro e o teatro paulistano, desaba o castelo com relação à "Fosca",  a qual deveria ser levada em 2017 ao TMRJ, e em troca chegaria a nós "Lo Schiavo"  em co-patrocínio com o Ministério da Cultura. Quantos anos mais, aguardaremos na expectativa da produção de uma ópera de Carlos Gomes ? 

    A atitude da administração do Municipal é consequentemente cancelar e ressarcir o dinheiro dos ingressos. Muito melhor, seria então, substituir a lacuna de "Così fan Tutte", pela Missa de Réquiem, de G. Verdi ou peça coral-sinfônica de efeito, como "O Rei David", oratório bíblico composto em 1921 por Arthur Honegger, para ilustrar a substituição da prometida e agora cancelada ópera. A sugestão está delineada. 

    A perda é sempre do público que  fica a ver navios, e qual será a credibilidade desse mesmo público ao adquirir uma assinatura para 2016, ou mesmo seus ingressos avulsos, a uma reduzida temporada de três óperas apenas, considerando-se que uma delas, trata-se de uma reposição de 2013. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 26 de setembro de 2015.

Inscrição sob nº 61.909 MTB / SP

Carlos Gomes e Theatro Municipal de São Paulo, fotos Internet.