"MANON LESCAUT" SEDUZIU O MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA EXCLUSIVA PARA O BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   
A lotação esgotada do Theatro Municipal de São Paulo comprova o lindo espetáculo que lá estreou na noite de sábado, 29 de Agosto, com mais seis récitas (1º, 3, 5, 6, 8 e 10/9) a partir de hoje. A música de Giacomo Puccini é envolvente, apaixonante e pictórica, repleta de elementos ora românticos, virtuosísticos e ou sensuais; cuja encenação de autoria de Cesare Lievi nos dá elasticidade plástica, e visualmente atinge seus efeitos com muita eficácia; especialmente nos momentos em que nos referimos aos coros dos estudantes, na cena campestre, no desfile das deportadas em meio ao populacho portuário, e nas movimentações dos personagens que compõem o elenco artístico. Lamentamos a ausência do quarteto de cordas, em cena, durante a aula de dança.
         A quinta récita de estreia da presente temporada teve cenografia de Juan Guillermo Nova, apresentando uma solução válida com bonitos cenários aqui mesmo criados, livre de importações , e repletos de criatividade, como o abrir da cortina para o madrigal do 2º ato e após, descortinar a bela varanda de inverno para a satisfação da alta burguesia em seu requintado âmbito teatral.; bem como o deserto de Louisiana, evocando o passado de Manon, em meio aos seus pertences de outrora, consumidos e desgastados pelo tempo.
          Caso inédito, talvez, na história do teatro lírico, a partitura original de Manon Lescaut é omissa quanto à autoria do respectivo libreto, mas neste trabalharam nada menos de sete pessoas, sendo difícil precisar a colaboração de cada uma: Leoncavallo e o próprio Puccini;  dois dramaturgos (Marco Praga e Giuseppe Giacosa), dois poetas (Domenico Oliva e Luigi Illica), a partir do romance L'Histoire du Chevalier Des Grieux et de Manon Lescaut de A. F. Prévost d'Exiles. Não saiu daí uma colcha de retalhos, como seria de esperar, mas um libreto harmônico, expressivo na ação e na linguagem denso de conteúdo humano e de dramaticidade crescente, para  chegar à arrrebatadora cena final. Manon Lescaut subiu à cena no Teatro Regio, de Turim, a 1º de fevereiro de 1893, constituindo-se num dos maiores êxitos instantâneos nos anais do teatro lírico e a consagração, significativamente ocorrida uma semana antes da estreia, no Alla Scala de Milão, de "Falstaff", de Verdi. O nome de Puccini se impôs, definitivamente. 
          Manon Lescaut que já obteve em nosso Municipal interpretação de Claudia Muzio e Beniamino Gigli, sob direção de Tullio Serafin (setembro de 1928) entre outros grandes nomes, obteve na presente montagem cênica uma encantadora intérprete: Maria José Síri, soprano lírico spinto de belo e aveludado timbre, cuja interpretação dramático-vocal se apoia em ótima escola; elegante fraseado, com pianissimos muito bem empostados em homogeneidade a sua condução cênica  e musical. À suas árias "In quelle trine morbide" e "sola...perduta...abbandonata..."! deu excelentes versões interpretativas e recebeu, como retorno, os maiores aplausos do público ao término do espetáculo.
           Os figurinos de Marina Luxardo de época e modestos excedendo-se o muito deselegante traje da protagonista (no Ato II) de inaceitável mal gosto. Iluminação de Cesare Agoni de eficiência cênica. 
            Marcello Giordani foi precedido de longa e consagrada carreira de trinta anos nos maiores teatros líricos do mundo; iniciou o Des Grieux com produto vocal irregular e uma aparente insegurança; foi logo crescendo ao longo dos atos, já aquecido no dueto de amor no Ato II, e depois no Ato III,  cantou emocionado sua intensa e dramática ária "No!...No! Pazzo son!...
            Cresceram em definição no 2º Ato o Lescaut de Paulo Szot, barítono paulista que retornou ao palco onde iniciou a sua carreira lírica, bem como Saulo Javan, baixo "buffo" (Geronte) este apresentando voz bastante irregular no decorrer dos atos, bem cenicamente no velho tesoureiro. Edmonde, na voz do tenor lírico leggero Valentino Buzza, firme linha condutora de toda a parte da construção coral, das mais ricas, do mais puro entrelaçamento virtuosístico  de Puccini, ao qual John Neschling fez a Orquestra Sinfônica Municipal eclodir sonora, precisa e brilhante em suas riquezas harmônicas em coesão com o Coral Lírico Municipal que regeu categoricamente. Em pequenas pontas, consignem-se Matheus Pompeu (o mestre de dança, tenor leggero); Walter Fawcett (muito bem como o acendedor de lampiões, tenor lírico); Malena Dayen (cantor, meiossoprano); Leonardo Pace (taberneiro e comandante, bass) e Rogério Nunes (Sargento, bass). Todos convincentes vocal e cenicamente, ovacionados ao término.

Escrito por Marco Antônio Seta, em 31 de Agosto de 2015.
Jornalista Inscrito sob nº 61.909 MTB / SP

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