"OS PESCADORES DE PÉROLAS" CATIVAM O THEATRO DA PAZ, EM BELÉM. CRÍTICA EXCLUSIVA DE MARCO ANTÔNIO SETA PARA O BLOG DE ÓPERA E BALLET.

 
           "Os Pescadors de Pérolas" de Georges Bizet(1838-1875) é a segunda produção lírica a compor o XIV Festival de Opera do Theatro da Paz, em Belém do Pará, o portal do Amazonas, em espetáculo atraente e bem cuidado; de alto nível artístico, previsionada inclusive transmissão nas telas de cinema (Cinemark) em diversos Shoppings,  no próximo dia 15 (terça-feira) às 20h00,  para várias cidades brasileiras.
            A ópera  abraça belas melodias entrelaçando a concepção de exóticas harmonias, não relacionadas com a música folclórica do Ceilão, ambiente em que se desenrola o melodrama. Entretanto, sua estreia no idioma francês, a 30 de Setembro de 1863 no Theatre Lyrique de Paris,  foi criticado com aspereza, defendido na época, apenas pelo também francês Héctor Berlioz. Deve-se, após aos italianos, a sua recuperação, através da versão e conceção dos direitos da ópera de Bizet para a Itália, em encenação cantada em italiano e intitulada "I Pescatori di Perle", estreada no Teatro Alla Scala de Milão em 20 de março de 1886, lá repetida em 1936, com enorme êxito. Os tenores peninsulares Beniamino Gigli, Ferrucio Tagliavini e Tito Schipa imortalizaram esta partitura, através de seus lançamentos cênicos e fonográficos ao longo da primeira metade do século XX. Depois, tornou-se  habitual a sua versão, no original francês, pelas vozes dos mais variados países e continentes. Registrem-se Léopold Simoneau, Nicolai Gedda, Alfredo Krauss, Tony Poncet, Chaarles Burles, Alain Vanzo, Roberto Alagna, Valerij Popov, Charles Castronovo e Matthew Polenzani na pele de Nadir; Ileana Cotrubas, Natália Achaladze-Romanová, Diana Danrau e Milica Ilic (Leilá);  com Roger Soyer, Jean-Christofhe Benoit, Guillermo Sarabia e Mariusz Kwiecien (bass baritones) vivendo Zurga e Nourabad.  
                                               O tenor Fernando Portari como Nadir, em plena forma vocal,  cantou dando-se ao luxo a "mezza voce",  desencumbindo-se airosamente da sua parte,   amplamente aplaudido em sua serenata "De mom amie fleur  endormie" e antes, no dueto com Zurga "Au fond du temple saint, onde o entrosamento foi perfeitamente  musical e repleto de sensibilidade artística. Leonardo Neiva, como Zurga, um barítono e artista de largos recursos,  foi vitoriado no belo dueto do 1º ato e no seu solo no 3º ato: "L'orage s'est calmé". Ao dueto que se segue com Leilá, sua atuação é esplendorosa.

                                               
                        O soprano lírico Camila Titinger, paulista de apenas 25 anos de idade, deu a sua grande ária no Ato II "Comme autrefois dans la nuit sombre",  linda interpretação, e nos demais momentos, como no dueto entre Nadir e Leilá..."Ton coeur n'a pas cumpris" do mesmo ato,  e com Zurga no forte dueto  (Ato III) a mais reveladora prova de uma belíssima estreia na cena lírica nacional. Andrey Mira (bass baritone) imprimiu ao Nourabod o aspecto do vilão do melodrama, com voz e presença dramática amplamente satisfatórias.
 
                                                Fernando Meirelles como diretor cênico evidenciou a arte cinematográfica da qual ele é certeiro. Sobrepujou cenas, pré-filmadas em locais junto à natureza local (Bosque Rodrigues Alves, Belém), combinando-as no palco; atrelando-as e engatando-as aos cenários.  Deu relevo às massas, considerando-se o título coletivo da ópera. Apenas discordamos com o suprimento dos bailarinos, pois Bizet introduziu-os à partitura, e não há razão para tal procedimento; uma vez que a dança, na época, era parte integrante da ópera francesa do séc. XIX. E para tais cenas, consequentemente,  a presença de um corpo de baile é insubstituível. 
                                                Os cenários de Cássio Amarantes cuja base é de miriti,  são funcionais e acomodados ao estilo e assunto. Da iluminação cênica  de Joyce Drummond, apreciou-se um trabalho de conhecimento e capacidade no "metteur en scène". Verônica Julian realizou, com desvelo, um figurino para cada personagem do coro,  personificando-os individualmente. E para os principais, revelou-se conhecedora e pesquisadora daquilo a que se propôs; cujo resultado é excelente no palco cênico. 
                                                 À parte, merece "bravo" o trabalho do maestro Vanildo Monteiro à frente do Coral Lírico, preparando-o justo, afinado e musical nas páginas que lhe foram outorgadas "Sur la grève en feu..." bem como nos concertatos diversos da ópera, sendo oportuno registrar a sua atuação também cênica e coreográfica, orientados por Marília Araújo, que resultou em momentos de enlevo e emoção ao público que lotou a todas as récitas da presente produção. Ótimo seria termos em São Paulo,  um coro com esta garra e vontade de atuar.
                                                Miguel Campos Neto comprova novamente as suas qualidades como regente de ópera, extraindo da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, precisão e categoria musical com belos solos de flauta de Bianca Menezes,  do oboé de Vitor Vasco e harpa de Gustavo Beaklini.
                                                Encerrando há que se cumprimentar os dois responsáveis pelo sucesso deste XIV Festival de Ópera que ora termina, apesar da crise que assola o país inteiro, mas cumpriu ao proposto inicialmente. Estão, pois de parabéns,  Gilberto Chaves e Mauro Wrona, por mais um triunfo da cena lírica nacional, em território brasileiro, ao qual não foram medidos os seus esforços. Que venham outras no próximo ano de 2016 ! Carlos Gomes, Massenet, Bellini, Gounod, Verdi, Rossini, Wagner, Cimarosa, todos bem vindos !
   Obs: Marco Antônio Seta  viajou a Belém, a convite da direção artística do XIV Festival de Ópera.
   Escrito em 12 de Setembro de 2015.

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