TRIBUTO ÁS METAMORFOSES DA FORMA. CRITICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


O aplauso da crítica e a receptividade das plateias se tornaram uma constante desde a feliz surpresa , há quarenta anos, do Grupo Corpo com Maria Maria. Já, ali , revelando uma maturidade nos seus naipes técnicos e artísticos, mesmo diante do desafio da inicialização sob comando coreográfico de um Oscar Araiz.

Daí em diante, emerge de seu corpo de bailarinos, aquele que seria o mistificador mor da Cia mineira – Rodrigo Pederneiras. Sua extraordinária verve inventiva se torna então o signo e a simbologia de uma sequencia de criações de fluxos artísticos diversos.

Experimentando uma linguagem contemporânea, com sólido aproveitamento do melhor entre a tradição e a vanguarda, cria-se um repertório que vincula ,musicalmente, os clássicos à superlativa representatividade estilística da música popular brasileira.

E na linhagem formalista, com seu inusitado gestual, abrindo as portas para um novo tempo na história da dança no Brasil, capaz , em pouco tempo, de extrapolar fronteiras rumo à consagração internacional.

Em quatro décadas, inclusive, mantendo intacto o magico encontro de seus mentores artístico/técnicos , numa união familiar do clã Pederneiras – Rodrigo/Paulo/Pedro/José Luiz/Miriam/Gabriel às indispensáveis presenças de Freusa Zechmeister( figurinos) e Fernando Veloso( cenógrafo).

No tributo ao quadragésimo ano, sai das fileiras, numa repetição fabular, a bailarina Cassi Abranches tornada também dublê de coreógrafa. Em Suíte Branca, mesmo ainda sem libertar-se da influencia do coreógrafo patriarca, ela revela uma sensível arquiteturação dos movimentos – em sutis figurações escultóricas entre o frontal e a lateralidade –apoiada nos enérgicos acordes roqueiros de Samuel Rosa.

Mas é na Dança Sinfônica, sob a égide de Rodrigo Pederneiras, que a performance atinge seu clímax criativo. A inspirada partitura de Marco Antônio Guimarães promove a ligadura ideal entre a solenidade barroquista e as pulsões da contemporaneidade, presentes nos solos, duos e conjuntos dos bailarinos.

Emoldurados por cortinas vermelhas, com “collants”femininos no mesmo tom, ressaltados pelas malhas negras masculinas, eles se movem em construções gestualistas, entre a rigidez hierática e a soltura física, nos nítidos contrastes de ricas frases coreográficas.

Capazes de transmutar –se miméticamente, ora em superlativo dinamismo nos quartetos e trios, ora em extasíaco lirismo nos pas-de-deux, de Silvia Gaspar com Edmárcio Júnior e Helbert Pimenta.

Nesta celebração do aniversário de uma das mais instigantes aventuras da dança em formas brasileiras, na exponencial constância qualitativa de seu teor estético e no seu singular mix inventivo música/dança, os mais que merecidos cantares ao Grupo Corpo


Wagner Correa de Araujo

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