A MENINA DAS NUVENS : UMA SENSÍVEL AVENTURA MUSICAL. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Composta entre 1957/58, A Menina das Nuvens, de Villa-Lobos, só estrearia um ano após a sua morte , exatamente em 1960, no Municipal carioca.
Deixada de lado, só foi retomada em 2009, numa bela iniciativa do Palácio das Artes(BH). É esta montagem que chega, agora, na íntegra de seus elementos cênicos e musicais, ao seu palco de origem, com mínimas variações no seu elenco .
Do limitado repertório de criação operística do compositor, só mereceram encenações , em caráter póstumo, Yerma e A Menina das Nuvens, além da opereta Magdalena, esta a única a que assistiu em vida (Los Angeles / 1948).
As duas óperas foram inspiradas em textos teatrais de Garcia Lorca e Lucia Benedetti, respectivamente. Aqui respeitando na íntegra o original dramatúrgico, o que nestas obras específicas, criou uma certa incompatibilidade entre a sequência cênica e o desenvolvimento vocal.
A preocupação de preservar , sem cortes e adaptações, a leitura teatral, levou –as a uma linha de quase permanente recitativo. E é esta rigorosa fraseologia vocalizada ( especialmente no segundo ato de A Menina das Nuvens,) tornando-o menos fluído que o primeiro e terceiro ato, o único desvio na envolvência palco/plateia (além de uma injustificável extensão dos intervalos).
É perceptível, sempre, em toda a partitura, a característica densidade sinfônica do compositor, com uma exponencial sonoridade entre os naipes das cordas , sopros e percussão, na apurada regência de Roberto Duarte. Incluindo-se, aí, as sutis incidências de um coro, fora de cena, com sotaque impressionista.
O seu fantasioso enredo de uma menina criada nas nuvens e , subitamente , de volta à terra, é captado, com radiante brilho e exímia desenvoltura, na concepção cênica de William Pereira.
E, ainda, há que se destacar a mágica engenhosidade dos cenários e a modulação dos figurinos de Rosa Magalhães, sob o realce de luzes atmosféricas (Pedro Pederneiras). Onde a precisa coreografia (Tíndaro Silvano),de referencial neo-clássico e participação de dezesseis alunos da Escola de Dança Maria Olenewa, ampliou o clima feérico necessário ao tema.
O elenco mesmo limitado, às vezes , em seu alcance vocal, pelo predominante fraseado orquestral, teve expressiva performance na consistência equilibrada, canto/teatro ,da soprano protagonista Gabriella Pace, do baixo Lício Bruno (Tempo) e do barítono Inácio De Nonno (Corisco).
Merecendo ainda atenção , a bela tessitura lírica do tenor Giovanni Tristacci (Príncipe), a sensitiva aparição de Adriana Clis ( Lua ) e a irônica altivez do timbre de Regina Elena Mesquita (Rainha).
Sem o dimensionamento grandioso das Bachianas, dos Choros, do Descobrimento do Brasil ou da Floresta Amazônica, este resultado do epílogo criador de Villa-Lobos tem, também, sua representatividade estética - como uma variação singular nas suas raras incursões no gênero lírico. E o seu resgate vale, assim, ser celebrado e conferido.
( A MENINA DAS NUVENS está em cartaz no Theatro Municipal, RJ, dias 23,27,31, 20h; 25 e 28/outubro, 17h. Até o dia 01/novembro, 17h).
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