MÚSICA CLÁSSICA : ESBANJAMENTOS E DESPERDÍCIOS. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Sei que a imagem acima pode parecer chocante num blog que fala de música clássica. Para as pessoas em geral o esbanjamento, o desperdício, normalmente gira em torno da classe política. Muito se comentou, por exemplo, sobre a farra das limusines que a comitiva presidencial usou nos Estados Unidos, muito se fala do Shopping do Congresso idealizado pelo deputado Eduardo Cunha e muito se fala dos vultosos salários dos cargos comissionados em todas as esferas, Federal, Estadual e Municipal. Mas o esbanjamento e o desperdício estão em todas as partes no que se refere ao uso do dinheiro público, e quero aqui indicar e discutir alguns gastos que para mim representam um reprovável hábito, em geral no campo da Cultura, e mais em particular no campo da música clássica, seja na vida de uma Orquestra Sinfônica, seja nas montagens de óperas. Lembro que trato aqui exclusivamente de dinheiro público.
Orquestras
Calculando uma média de R$ 10.000,00 do custo de cada músico, em termos de salário (tem orquestras que pagam bem mais que isso, e outras que pagam bem menos, faço uma média) e colocando uma média de 80 músicos cada orquestra (também uma média) custa aos cofres públicos em torno de R$ 10.400.000,00 (dez milhões e quatrocentos mil reais) por ano para manter uma orquestra, isto só de salário. Uma ninharia frente a todos os desperdícios que conhecemos, mas não por isso um valor pequeno. No caso de diversas orquestras brasileiras este montante de dinheiro se aproxima do desperdício quando vemos que este dinheiro atinge um número insignificante de pessoas frente à população que uma orquestra pública deveria atingir. Tomemos como exemplo a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro de Brasília. Esta orquestra que recebe salários bem acima da média brasileira, toca, desde o fechamento do Teatro Nacional em 2013, em Teatros pequenos e impróprios para apresentações de música sinfônica. A Maioria de seus concertos, quando acontecem, são realizados na maior parte no Auditório Planalto, no Centro de Convenções, com a capacidade de 863 lugares, e se apresentam com frequência no auditório Pedro Calmon, com a capacidade de pouco mais de 1000 lugares. O público diminuiu consideravelmente, e vemos todo este gasto ao mesmo tempo que a importantíssima Escola de música de Brasília está “apodrecendo” por falta de verbas. As duas instituições são geridas pelo Governo do Distrito Federal. Outro exemplo de mal-uso do dinheiro público vemos em Porto Alegre. Mantida pelo Estado do Rio Grande do Sul, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, uma das mais tradicionais do país, está sem sede própria (nunca me explicaram convincentemente o porquê de ela ter sido despejada de sua sede) e se apresenta basicamente em igrejas. Levantei com alguns membros da orquestra da orquestra e fiquei sabendo que o público de cada apresentação não chega a 800 pessoas. Lembro que a Grande Porto Alegre tem mais de 4.200.000 (quatro milhões e duzentos mil) habitantes. Nenhuma das duas orquestras tem um projeto educativo e nem um incentivo para a formação de grupos de música de câmera. São instituições que, como se diz, “cumprem tabela”. Eximo completamente os músicos desta triste situação. Eles são vítimas de uma ineficácia administrativa, típica de nossos órgãos públicos. Cito apenas duas orquestras mas poderia citar diversas outras.
Em São Paulo mais esbanjamentos
Longe deste tipo de desperdício vemos uma atividade invejável na OSESP, tida como a melhor orquestra do continente. Muitas apresentações, projetos didáticos fazem desta orquestra um aparelho cultural bastante útil. No entanto não posso deixar de perceber gastos exorbitantes que me chocam, especialmente neste momento de crise econômica que vivemos. Há algumas semanas a OSESP apresentou uma elogiadíssima versão de Gurrelieder, grandiosa cantata de Arnold Schoenberg. Infelizmente não pude assistir esta estreia brasileira da obra, mas me chocou um detalhe. Na cantata há uma parte de personagem identificado como “Bauer”, em português “Camponês”. Esta parte, bem pequena canta menos de três minutos e é escrita para barítono. Pois a OSESP trouxe o barítono americano Lester Lynch para cantar uma parte de menos de três minutos. Pensando na passagem aérea (que normalmente é de classe executiva) de um cantor que mora na California, e hospedagem em hotel de alta categoria e o cache vemos aqui um desperdício tão grande quanto os que vemos entre os políticos. Poderia citar pelo menos dez barítonos brasileiros que fariam muito bem esta parte. Na mesma cantata há o papel de tenor cômico “Klaus o bufão”. Este já canta por sete minutos. Trouxeram o tenor americano Anthony Dean Griffey. Mais uma vez um cantor brasileiro poderia ter sido utilizado. Aliás, há uns 20 anos vi esta obra, o Gurrelieder de Schoenberg na Alemanha, e quem cantava o pequeno papel de Klaus o bufão era o brasileiro Aldo Baldin. Este dinheiro todo faz falta em outros órgãos mantidos pela mesma administração estadual. É o caso da Emesp, a escola pública de música do Estado de São Paulo que enfrenta atualmente muitas dificuldades com drástica diminuição de seus alunos e professores. Isto é justo?
Na mesma cidade de São Paulo pôde-se observar um esbanjamento parecido no Teatro Municipal no ano de 2014. Um exemplo frequente por lá aconteceu também na montagem da ópera Carmen de Georges Bizet. Papeis secundários, partes pequenas, foram cantadas apenas por cantores estrangeiros. Dancaire, um papel que canta pouquíssimo foi interpretado pelo barítono belga Francis Dudziak. E o mesmo se deu com o cantor que interpretou Remendado, o tenor francês Rodolphe Briand. Outras partes pequenas como Frasquita, Mercedes e Zuninga foram cantadas por estrangeiros. Para estes pequenos papeias não houve elenco nacional. Lembro das passagens em classe executiva, etc., e vejam os gastos inúteis a quanto chegou. Desperdício sim, e sobretudo mais um entrave para o desenvolvimento do artista brasileiro.
Na mesma cidade de São Paulo pôde-se observar um esbanjamento parecido no Teatro Municipal no ano de 2014. Um exemplo frequente por lá aconteceu também na montagem da ópera Carmen de Georges Bizet. Papeis secundários, partes pequenas, foram cantadas apenas por cantores estrangeiros. Dancaire, um papel que canta pouquíssimo foi interpretado pelo barítono belga Francis Dudziak. E o mesmo se deu com o cantor que interpretou Remendado, o tenor francês Rodolphe Briand. Outras partes pequenas como Frasquita, Mercedes e Zuninga foram cantadas por estrangeiros. Para estes pequenos papeias não houve elenco nacional. Lembro das passagens em classe executiva, etc., e vejam os gastos inúteis a quanto chegou. Desperdício sim, e sobretudo mais um entrave para o desenvolvimento do artista brasileiro.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
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