OS CONTOS DE HOFFMANN NO THEATRO SÃO PEDRO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   

   No conto de Machado de Assis, "Um Homem Célebre", Pestana é um famoso compositor de polcas. Suas canções caíam no gosto do povão, eram assoviadas e tocadas por todos os cantos. Mas Pestana não era um homem feliz. Sonhava em ter uma obra de porte, música erudita no nível dos grandes mestres, mas de suas penas só saíam polcas. Cada vez que ele lançava uma, era sucesso estrondoso "consagradas pelo assobio". Pestana sempre quis compor algo elaborado e elevado, era uma celebridade, mas não estava satisfeito com a vida. "Morre bem com os homens e mal consigo mesmo". Pestana, nas palavras de Machado " Mergulhava naquele Jordão sem sair batizado". Jacques Offenbach é o Pestana francês? Compunha operetas de sucesso estrondoso. Satirizava tudo e a todos, sacaneou até um brasileiro na opereta "La vie Parisienne". O sucesso lhe trouxe riqueza, mas Offenbach não estava feliz com suas operetas. Queria provar que podia compor música séria. "Os Contos de Hoffmann" é sua tentativa de se igualar aos grandes gênios da música. Morreu sem ver a estreia de sua obra e nunca soube que sua obra está no nível dos grandes mestres.
   O Theatro São Pedro apresentou nos dias 02 e 04 de Outubro a ópera de Offenbach na série "Cortinas Líricas", trata-se de uma ópera em concerto com intervenções cênicas. Estas coordenadas por Malu Gurgel foram inteligentes em sua simplicidade e ajudaram na dinâmica da apresentação. A Orquestra da casa esteve nas mãos de André dos Santos, a sonoridade conseguida foi compatível com o que se espera de uma boa orquestra. Musicalidade no tom e volume corretos para o pequeno teatro da Barra Funda.
   A ópera "Os Contos de Hoffmann" exige um elenco enorme e mais uma vez a direção do teatro acerta em usar pratas da casa. Alunos da Academia de Ópera e cantores líricos nacionais tiveram a chance de se apresentar. Paulo Mandarino deu vida a Hoffmann, cantou com voz magnífica, sobraram agudos brilhantes com um colorido pujante. O tenor esteve à vontade no personagem, cantou com confiança e demonstrou  excelente capacidade vocal, pena que não seja mais aproveitado nos teatros nacionais. Raphael Thomas cantou quatro personagens, voz de barítono com graves consistentes e vigorosos. Um jovem talento que tem tudo para fazer uma grande carreira. Gustavo Lassen mais uma vez se apresentou em grande nível, uma voz em constante evolução.  
   A mulherada oscilou, Tatiana Beffa fez a boneca Olympia com voz estável, pecou nos agudos, quase sempre ásperos e sem brilho. Meghan Dawson foi uma Nicklause que não passou do mediano. A Antonia de Camila Tittinger mostrou uma voz afinada com agudos que penetram nos ouvidos em um tom angelical, até o momento a melhor revelação da Academia de Ópera do Theatro São Pedro. Andressa Chinzarian tem voz densa, munida de um timbre escuro conseguiu ser uma Giulietta de bom nível. Pecou na interpretação cênica, afinal de contas seu personagem é uma moça de reputação duvidosa. 
   O orçamento anual do Theatro São Pedro é de menos de 5 milhões de reais enquanto o orçamento do Theatro Municipal de São Paulo é de 99 milhões/ano. O primeiro faz uma temporada pujante com óperas, concertos e diversas séries. Abundam cantores e equipe de produção nacionais, sua Academia de Ópera revela talentos todo ano e não existem cancelamentos. Enquanto isso na Praça Ramos temos uma enxurrada de estrangeiros, um ou outro bom e a maioria de qualidade duvidosa, pagos em dólar a preços exorbitantes. Toda essa bolada não foi suficiente para completar a temporada que perdeu sua última ópera e já foi avisado que em 2016 só serão apresentados 3 títulos. A escola de música do teatro não revela ninguém, os jovens não tem a menor chance de se apresentar no "palco de São Paulo" como gosta de falar o diretor da casa. Fica a pergunta, qual o melhor custo benefício?
Ali Hassan Ayache  
   
   

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