AS BODAS DE FIGARO : A SUPREMACIA DO GALANTEIO OPERÍSTICO. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Sob o impacto da belíssima montagem do Mozart de As Bodas de Fígaro que o Theatro Municipal apresenta, com ares de um novo tempo, em sua programação artística, lembre-se aqui, mais uma vez, o meritório esforço de seu responsável mor , João Guilherme Ripper.

Há muito,  não se via conjugação tão perfeita entre o apuro musical ( maestro Tobias Volkmann) e a direção cenográfica (Livia Sabag). Sem deixar de registrar, claro, a digna performance de um elenco de cantores quase cem por cento nacional, junto ao Coro e Orquestra Sinfônica do TM.

Ópera que se enquadra , medida por medida, ao gosto dos apreciadores do gênero, ao aliar o refinamento da forma, em sua estrutura musical, à inteligente abordagem temática do galanteio amoroso,  na exposição crítica das diferenças sociais.

Por isto mesmo,  já na sua  primeira representação(1786) polemizou ,entre censura e pressão da aristocracia, ao  subverter os padrões da época, com seu foco nos abusos do poder. Numa  sátira mordaz aos desmandos do senhorio feudal,  invadindo a privacidade erótica de seus criados.

O Conde de Almaviva (barítono Douglas Hahn) quer fazer valer o seu direito sexual da primeira noite com a serva Susana (soprano Carla Cottini) ,às vésperas de suas núpcias com Fígaro (barítono Rodrigo Esteves).

 Mas a Condessa de Almaviva (soprano Maíra Lautert) com a cumplicidade de Susana, arma uma intrigante trapaça contra a frivolidade do conde, se envolvendo com o jovem pajem Cherubino (mezzo soprano Malena Dayen). Com a ingerência, entre outros personagens, de Dom Basílio (tenor Giovanni Tristacci) e da velha Marcelina( mezzo soprano Lara Cavalcanti).

Desde a popular abertura, em  seu enérgico andamento presto, Tobias Volkmann demonstrou  intimidade com o estilo  mozartiano. Nos  seus ricos e variados matizes sonoros e  no sensível domínio do equilíbrio entre as tonalidades vocais  e o desenvolvimento orquestral.

Tanto nos “singspiels”( recitativos), que atravessam a obra favorecendo sua textualidade dramatúrgica, como nas árias e conjuntos, percebe-se afinação/coesão de um elenco  de cantores de incrível teatralidade.

 Para citar do quinteto protagonista,  o brio do barítono Rodrigo Esteves, da célebre cavatina (“Si vuol ballare”) à irônica  romanza (Non più andrai).A vivacidade das frases da soprano Carla Cottini (Deh vieni,non tardar) ao nobre sotaque “lamentoso” de Maíra Lautert( Porgi, amor). Além da enérgica jovialidade na tessitura damezzo soprano Malena Dayen  (Non so più cosa son, cosa faccio ).

O acerto exitoso e conclusivo deste operístico e louco dia nupcial ( “La Folle Journée",  do original de Beaumarchais) coube, ainda,  ao clima de espetáculo inventivo e intenso, trazido pela espontânea e poética direção cênica de Livia Sabag .

Que, ao lado do apaixonante cenário com referencial mourisco (Nicolàs Boni) e a elegância dos figurinos (Fábio Namatame) completou, às alturas,  a perfeita sincronia  estética, música/teatro ,  para  uma ópera,  “comme il faut”.




 AS BODAS DE FÍGARO está em cartaz no Theatro Municipal , RJ, dias 19,21,26,27 e 28 de novembro, às 20h: dias 20,22 e 29 /11 , às 17h.  Coro e Orquestra Sinfônica do TM , com direção musical e regência de Tobias Volkmann.

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