NOVO CD INGLÊS REACENDE A QUESTÃO SOBRE A MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Uma longa pesquisa
A música composta no período colonial brasileiro se tornou conhecida graças ao empenho de certos estudiosos e musicólogos, que através de esforço gigantesco conseguiram, na segunda metade do século passado, trazer à luz trabalhos no mínimo interessantes. Curt Lange pesquisou a produção feita em Minas Gerais no século XVIII e início do século XIX, com destaque para as composições de Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805). O Padre Jaime Diniz nos fez descobrir a obra do compositor pernambucano Luiz Álvarez Pinto (1719-1789). A Maestrina Cleofe Person de Mattos realizou as mais importantes descobertas da obra de José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). Regis Duprat fez o mesmo com a obra de André da Silva Gomes (1752-1844), português que viveu a maior parte de sua vida no Brasil. A importância deste material é inquestionável. Mas qual é realmente a qualidade de todo este material musical? Uma excelente maneira de aquilatar esta produção aparece num excelente CD lançado há algumas semanas na Inglaterra com o título de “Brazilian Adventures”, gravado pelo selo Hyperion. Com brilhantes execuções o grupo inglês Ex Cathedra é regido por Jeffrey Skidmore.
Uma bela amostragem
Cada um dos expoentes entre os compositores coloniais brasileiros se encontram representados neste CD. De José Maurício Nunes Garcia é executada de maneira brilhante a sua bela Missa Pastoril para a noite de natal (sem, no entanto, ultrapassar a qualidade da execução do Grupo Turicum dirigido por Luiz Alves da Silva). Destacaria, além da bela sonoridade do coro e da orquestra, os magníficos solos de clarinete de Katherine Spencer que nos fazem lembrar a paixão do compositor pelas obras de Mozart. De André da Silva Gomes é apresentada a sua Missa para 8 vozes e instrumentos. Em meio a estas duas grandes partituras, miniaturas de Emerico Lobo de Mesquita, Luiz Álvarez Pinto, Teodoro Cyro de Souza (1761-18…), compositor português que atuou na Bahia, recentemente redescoberto, e dois Villancicos inéditos e anônimo em português descobertos pelo musicólogo Paulo Castagna, na região de Mogi das Cruzes. Vale lembrar que além dos pesquisadores já citados lembraria alguns estudiosos que mantem vivo este interesse por nosso passado musical: Pablo Sotuyo Blanco, professor em Salvador, e Harry Crowl, compositor e musicólogo atualmente vivendo em Curitiba. Através dos escritos deles obtive informações indispensáveis sobre os compositores citados.
Um termo errado
Existe o hábito inexato de se chamar toda esta produção de “Barroco mineiro”, ou de “Música barroca colonial”. Se nos baseamos nas pesquisas de Curt Lange o que se tocava com frequência nas igrejas mineiras na segunda metade do século XVIII eram obras de Haydn e seus contemporâneos. E não podemos ignorar a paixão que José Maurício Nunes Garcia tinha mor Mozart. Ele dirigiu no Rio obras do compositor austríaco como seu Requiem ou sua Sinfonia 38 no início do século XIX, obras que influenciaram demais sua produção. Ao ouvirmos neste CD as Missas de José Maurício e André da Silva Gomes não constatamos nada de barroco. Mesmo os belos trabalhos contrapontísticos de Luiz Alvarez Pinto nos parecem mais uma visão contrapontística do período cássico.
Qualidade das obras e dos executantes
Neste repertório enfocado no CD vemos que, a meu ver, o grande gênio musical daquela época no Brasil foi José Maurício Nunes Garcia. A comparação frente à Missa de André da Silva Gomes não deixa dúvidas a este respeito. Bela surpresa para mim foi a curta composição de Luiz Alvarez Pinto, Beata Virgo. Uma pequena joia com refinada escrita contrapontística. Este CD destaca também a enorme qualidade do violinista curitibano Rodolfo Richter, atualmente residente na Inglaterra, que não só atua como spalla da orquestra, mas ainda atua em alguns solos de viola. Rodolfo Richter, atual coordenador do setor de música antiga da Oficina de Música de Curitiba tem trazido o Maestro Jeffrey Skidmore para atuar nos cursos na capital paranaense. Sem dúvida alguma deve ter servido de inspiração nesta bem-vinda empreitada. O CD pode ser comprado pela loja digital CD Point (www.cdpoint.com.br) por R$ R$ 127,71, ou baixado pela iTunes por U$9,99. O Livreto vem junto.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
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