A RESSURREIÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. ARTIGO DE RICARDO ROCHA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Foi com um genuíno alento que saí da última récita de ‘As Bodas de Fígaro’, de Mozart, neste domingo, dia 29 de novembro: um espetáculo redondo e bonito, com a bela direção cênica de Livia Sabag, cujo trabalho eu não conhecia, e a ótima atuação de Tobias Volkmann, que de forma segura e competente inaugurou sua carreira como regente de ópera, o que fez com a desenvoltura de quem estava em seu elemento. Parabéns, Tobias: que esta tenha sido a primeira de uma trajetória brilhante no gênero!
Mas minha felicidade não parou por aí: depois de anos, muitos anos mesmo, uma mudança de fato começa a acontecer no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cuja nova direção tomou a decisão correta de investir na ‘Prata da Casa’, ou seja, não apenas no aumento de produções que oxigenam e resgatam o condicionamento de seus corpos artísticos, mas também nos solistas e elencos formados, em sua maioria, por artistas nacionais, promovendo o desenvolvimento e amadurecimento vocacional destes, evitando o exílio de nossos melhores quadros e até a depressão dos que, por diversas razões, não têm como exilar-se e, por isso mesmo, caem no limbo do sub-aproveitamento em sua própria cidade e seu próprio país, por não fazerem parte das redes fechadas de agenciadores ou das políticas de agenciamento artístico, que andam alienando boas orquestras brasileiras de instrumentistas, cantores e regentes de primeira linha.
Com decisões assim, esta nova direção coloca em movimento todo um círculo virtuoso: consegue produzir mais com os poucos recursos destinados à Cultura, economizando enormemente em hotéis, passagens aéreas e cachês mirabolantes para artistas de fora e seus intermediários, cujos resultados nem sempre correspondem às expectativas, pois sabemos que, em muitos casos, os melhores artistas não são os mais caros. Além do mais, ao priorizar o artista nacional, consegue focar com mais cuidado e atenção nas excelências que se podem trazer do exterior com o orçamento exíguo que dispõe, o que é sempre importante para todos: artistas, público e a cultura brasileira, que precisa igualmente do contínuo intercâmbio e das contribuições artísticas vindas do exterior.
Penso que a montagem de “A Menina das Nuvens”, de Villa-Lobos, sob a direção musical de Roberto Duarte, representou o “turning point” neste processo de reforma e ressurreição do TM-RJ, que havia chegado ao fundo do poço com aquela desastrosa montagem de “Fidelio”, de Beethoven, um monumento de desserviço à ópera, de má gestão e profundo mau gosto estético, no qual até ideias que poderiam ser boas só serviram para o desvio e o desentendimento da obra. Não fossem a força do compositor, a direção musical de Karabtchevsky e o bom desempenho da Orquestra e do Coro do TM, não teria sobrado pedra sobre pedra.
Meus parabéns, portanto, à nova Direção da Casa e pela linha de trabalho adotada para o Teatro Municipal; parabéns à sua Orquestra e Coro, este sob a competente direção de Jésus de Figueiredo; à diretora cênica Lívia Sabag, com sua leitura correta e condução cênica nesta remontagem de ‘As Bodas de Fígaro’; à clássica e luminosa cenografia de Nicolàs Boni; aos belos e apropriados figurinos de Fábio Namatame; à iluminação perfeita de Wagner Pinto e, em especial, a cada um dos solistas dos dois elencos de cantores que deram alma e graça aos personagens do libreto de Beaumarchais. Por fim, a todos os que, direta e indiretamente, contribuíram para este balão subir. BRAVI A TUTTI!
Ricardo Rocha

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