KURT MASUR NO BRASIL : UM "TAPA COM LUVAS DE PELICA" HISTÓRICO. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

                                               O maestro Kurt Masur

Kurt Masur, o grande maestro alemão que foi diretor musical da Orquestra do Gewandhaus de Leipzig por 26 anos (1970-1996) e da Filarmônica de Nova York (1991-2002) e que faleceu no último dia 19 de dezembro, foi um artista excepcional. Muito se escreveu nos últimos dias a respeito das qualidades deste grande músico (veja aqui  o artigo saído na Ilustrada da Folha de São Paulo), e não tenho a intenção de ser repetitivo nesta questão. Mas creio ser interessante narrar um fato interessante ocorrido na primeira visita de Masur ao Brasil, em 1970. Aliás sua ligação com o país foi muito forte, sendo que sua terceira esposa, com quem ficou casado até sua morte era violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira, Tomoko Samurai. Diversas vezes Masur voltou ao Brasil, sendo que sua visita com a Orquestra do Gewandhaus na década de 1980 fez história.
Em 1970 Kurt Masur, então diretor musical da Orquestra Filarmônica de Dresden, foi convidado para reger com a Orquestra Sinfônica Brasileira do Rio de Janeiro um ciclo de obras orquestrais de Beethoven, cujo bicentenário de nascimento era comemorado naquele ano. Todas as sinfonias e concertos deveriam ser executadas sob sua regência. Deveriam, pois apareceu um problema inesperado.
O violinista Isaac SternO violinista Isaac Stern
Para tocar o Concerto para violino em ré maior de Beethoven o solista convidado foi Isaac Stern (1920-2001), grande instrumentista que nasceu na Ucrânia mas que se mudou para os Estados Unidos ainda bebê. Stern, de família judia, teve sempre posturas bem radicais quando se falava do povo alemão, que ele acreditava ser o grande culpado pelo holocausto. Stern nunca tocou junto a nenhuma orquestra alemã ou austríaca. Quando chegou ao Rio de Janeiro em junho de 1970, para participar do ciclo Beethoven da Sinfônica Brasileira, declarou que não tocaria com Kurt Masur pelo simples fato dele ser alemão. No programa constava do compositor festejado a Abertura da ópera Fidelio, o Concerto para violino e o Concerto tríplice (obra que contaria com a participação, além de Isaac Stern, de Eugene Istomin ao piano e Leonard Rose ao violoncelo). Com o impasse quem acabou regendo este concerto foi o maestro brasileiro Isaac Karabtchevsky. Logo após o concerto uma longa fila se formou em frente ao camarim de Isaac Stern, para cumprimenta-lo e pedir autógrafos. O primeiro da fila era o maestro Kurt Masur. Ele cumprimentou efusivamente o violinista que se recusara a tocar com ele. A expressão “tapa com luvas de pelica” pode ser usado de forma bem adequada neste caso. Segundo um colega e amigo que testemunhou o ocorrido, Stern ficou extremamente incomodado com o ocorrido. Nunca tive dúvidas de que Stern era um excepcional violinista, mas este fato demonstra que mais do que um grande músico Kurt Masur era um ser humano notável.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/

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