OSESP ENCERRA COM GARBO SUA TEMPORADA 2015. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA EXCLUSIVA PARA O BLOG DE ÓPERA E BALLET.


   No último programa da temporada de 2015, a OSESP apresentou nesta semana que findou (em 10, 11 e 12 de dezembro) na Sala São Paulo,  nas séries Carnaúba, Paineira e Imbuia, um programa iniciado com a 4ª Sinfonia de Mahler, editada em 1901, e como todas as outras, foi revista posteriormente. Em seu livro Gustav Mahler (2003), Jens Malte Fischer escreve que a quarta sinfonia "é o mais radical comentário sobre o curso do mundo que Mahler escreveu"...Nela Mahler (1860-1911)  deu livre curso a imagens associadas com  mundo do Wunderhon, embora estas apareçam de maneira estranha. Todavia, sua textura marca um avanço no pensamento musical  e na conepção sinfônica cuja instrumentação Marin Alsop fez uma leitura muito feliz: cinco flautas, uma dobrando o piccolo, três oboés sendo uma que dobra o corne-inglês, três clarinetas, uma dobra o clarone, 3 fagotes,  sendo um que dobra o contra-fagote; 4 trompas e  três trompetes em excelência interpretativa, uma harpa de magnitude sonora e as cordas usuais. 
   O primeiro movimento, obra prima de contraponto delicado, de lucidez mozartiana e beleza sensual, nos remete ao dom melódico de Mahler  que floresce novamente no decorrer desta obra. O segundo movimento, um Landler, é uma prévia do tipo de estrutura que o compositor desenvolveu em obras posteriores. Além do rítmo subjacente que não está encadeado a um  superenfático rítmo um-dois-três no contrabaixo, mas distribuído por partes interligadas aqui muito bem delineadas pelos músicos da OSESP. O Sherzo é inspirado em um Lied e nos remete a um verdadeiro sonho. O spalla exibiu sutiliezas contrapontísticas, Mahler pede um efeito "wie eine Fiedel", evocação de um som estridente, em uma tessitura muito mais aguda que a usual, como a de um violinista de rua, arranhando uma música macabra. 
      No terceiro, o Adagio foi excelente: repousante onde Mahler já aprofunda e enobrece a sinfonia com música penetrante e de meditativa beleza aqui sobretudo expressadas pelos violoncelos, madeiras e trompas com trompetes. O quarto movimento tem como característica principal, a modulação para mi maior ao final. Portanto uma obra iniciada em sol maior termina uma terça menor abaixo. A voz solista de um soprano lírico-spinto de estilo verdiano, poderoso e extenso como é Tamara Wilson;   traduziu-a  com sabedoria, cantando com expressão alegre e jovial, conforme recomenda o compositor, na canção A Vida Celestial. Na verdade, nem seria preciso uma voz tão grande para interpretar esta canção; bom seria tê-la na Missa de Réquiem, de Verdi, onde seus recursos vocais seriam melhor aproveitados, em março próximo. Aplausos calorosos à solista e OSESP. 
                       Na segunda parte do programa, houve uma seleção (excertos de "O Messias"), de Handel,  obra suprema do compositor nascido em Halle, Saxônia, em 1685. A obra foi estreada a 13 de abril de 1742 no Music Hall de Fishamble Street, em Dublin, na Irlanda, regida pelo próprio compositor. Desse soberbo oratório, ouvimos a Sinfonia Pastoral, em feliz execução, e alguns dos mais célebres coros da partitura,como os estupendos efeitos corais do célebre "Aleluia", onde a movimentada polifonia, ora simultânea, ora imitativa, refletem um poder e uma elevação espiritual, que dificilmente será suplantado pela humanidade. Merecem bravos o Coro da OSESP e o Coro Acadêmico da OSESP por tão entusiástica interpretação, preparados por Naomi Munakata. O público exigiu "bis" !

Escrito por Marco Antônio Seta, em 13 de dezembro de 2015.
Inscrito Jornalista sob nº 61.909 MTB / SP

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