TRAJETÓRIA COREOGRÁFICA 2015 : TRADIÇÃO, FISICALIDADE E SACRALISMO. ARTIGO DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
A temporada coreográfica 2015 trouxe surpresas e revelações inventivas , num acentuado equilíbrio entre concepções neo-clássicas e um arejado repertorio entre o experimentalismo e a vanguarda.
O repertório histórico teve uma exemplar performance na remontagem de Les Sylphides, por Tatiana Leskova, para o Balé do Theatro Municipal. Estabelecendo, com precisão técnica e saber estético, uma obra de Fokine que ela própria interpretara nos seus anos de Original Ballet Russe.
A companhia oficial carioca inovou com mais dois programas de obras da atualidade internacional, estreando, por aqui,Age of Innocence, do americano Edwaard Liang, e O Messias , do argentino Maurício Wainrot.
Ambas caracterizadas por um acertado equilíbrio entre a linguagens de base neo-clássica com um sotaque de contemporaneidade. A temporada se completou com duas retomadas do repertório do Balé do TM – Le Sacre du Printemps ( na reconstituição de Millicent Hodson) e a Sétima Sinfonia, de Uwe Scholz.
O Balé da Cidade de São Paulo, outra Cia oficial, trouxe a preciosa exibição de um programa duplo , onde Cantata(de Mauro Biggonzetti) , com referencial na tradição vocal italiana,foi seguida de uma obra do sueco Alexander Ekman, Cacti. Esta , uma exponencial composição cênica de tons dadaístas no seu surreal jogo lúdico com vasos de cactos.
Comemorando 40 anos, O Grupo Corpo , através de Rodrigo Pederneiras em Dança Sinfônica, replicou o elo entre a solenidade barroquista e a pulsão futurista ,via enérgicos agrupamentos e líricos pas-de-deux.
Outro aniversário, teve com Thiago Soares, uma original estréia mundial - La Bala, de Arthur Pita, devaneios gestuais em torno de um cowboy,que supriu a frágil artesania coreográfica em Caresse du Temps, de Alessio Carbone.
No panorama carioca, o diferencial esteve presente na simbologia do espetáculo/performance A Rainha e o Lugar( Andrea Jabor), na simetria física /cósmica de Poeira e Água (Renato Vieira) e na sincopada impulsividade da pesquisa corporal da Cia Urbana de Dança.
Do além-mar, o destaque absoluto ficou com a sacralização irradiada na matéria humana em movimento, na concepção conjunta - Israel Galvan(Espanha) e Akram Khan(Inglaterra) de Torobaka.
A sublimidade entre tradição e modernidade no Spartacus (Bolshoi Ballet) ,a inusitada e subversiva sensualidade de Tragédie( Olivier Dubois /Ballet du Nord), a fisicalidade divinal de Gloria (Andonis Foniadakis /Grand Ballet de Geneve),completaram ,enfim, o processo estético/ritualístico desta envolvente trajetória coreográfica.
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