33 VARIAÇÕES: OBSESSIVA NOTAÇÃO MUSICAL. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
FOTOS /AIRTON SILVA |
Um mesmo tema em formas diferentes – o sentido conceitual da “variação” no universo musical vem desde os cânticos sacros medievos .
Na sua trajetória histórica, estas reformulações temáticas numa mesma composição notabilizaram, inúmeras obras de Bach, Mozart, Beethoven, Brahms, Rachmaninov, Britten, entre muitas outras. E até do hino nacional brasileiro na Fantasia do norte-americano Louis Gottschalk .
Das mais surpreendentes, foi a de Beethoven que, a partir de 45 segundos de uma medíocre valsa do editor austríaco Anton Diabelli ,criou 33 variações numa obra prima de 45 minutos .
Quando o venezuelano Moisés Kaufman escreveu sua peça 33 Variações deu-lhe um peculiar referencial contemporâneo – “Seria como se Philip Glass tivesse encontrado uma canção de Britney Spears e decidisse passar os próximos quatro anos de sua vida estudando e fazendo variações sobre ela”.
Na sua concepção dramatúrgica, ele busca uma exploração cênica em 33 módulos guiados pelo teor histórico, musical e dramático, confrontando épocas numa transcendência estética/metafísica.
Uma musicóloga Katherine Brandt ( Nathalia Timberg), fragilizada por uma progressiva doença terminal, desafia a temporalidade e a finitude com sua obsessiva pesquisa monográfica sobre as razões que levaram Beethoven( Wolf Maya) a dedicar quatro anos, de uma fase existencial atormentada, à banalidade de uma valsa.
Ainda que conflitue com sua filha (Flavia Pucci),que considera tão medíocre quanto Diabelli(Tadeu Aguiar), discorde do médico/enfermeiro (Gil Coelho), Brandt desafia-os , partindo para Bonn, pelo aprimoramento de sua pesquisa com uma bibliotecária/arquivista ( Lu Grimaldi).
O carregado dimensionamento realístico da cenografia (J.C.Cerroni) revela, ainda assim, apelo visual na precisão das luzes (Aurélio de Simoni) e na adequação dos figurinos(Tatiana Rodrigues).Ao lado da irrepreensível interpretação pianística , ao vivo, de Clara Sverner.
Há convicção e teatralidade na performance de época de Tadeu Aguiar, com exacerbada ironização em Wolf Maya e Gustavo Engracia (o assistente de Beethoven). Como são convincentes e afinadas as intervenções de Lu Grimaldi, Flavia Pucci e Gil Coelho.
Mas é na exponencial situação dramática ,entre climas emotivos , subentendidos interiorizados, domínio físico, brilhante vocalização, via Nathalia Timberg, que se encontra a singularizada passionalidade da montagem.
Onde ,enfim, mesmo o refinado modo do pensar cênico,na meticulosa e ágil direção de Wolf Maya, não logra o alcance necessário e a adesão sincera a uma abordagem de traços acadêmicos e sotaque cerebralizado em torno do alfabeto musical.
33 VARIAÇÕES está em cartaz no Theatro Nathalia Timberg,Barra,sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h. 120 minutos. Até 10 de abril.
Wagner Correa de Araujo