LA BOHÈME, ESPLENDIDA EM CONCERTO. CRÍTICA DE LAURO GOMES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Em La Bohème, Puccini criou um espetáculo que narra a história de artistas e pessoas comuns que conviviam pobremente, na Paris do final do século XIX. É inverno em Paris. A ópera apresenta os amigos: Rodolfo (poeta), Marcelo (pintor), Schaunard (músico), Colline (filósofo) e as paixões dos dois primeiros, Mimi e Musetta, respectivamente. As relações entre eles estão permanentemente em conflito, motivadas pelo ciúme e pelas inseguranças do grupo, pela pobreza a que estão reduzidos. Mimi morre ao final da ópera, vitima de uma tuberculose agravada pelo abandono, desamparo e a falta de recursos.
Tivemos uma apresentação brilhante. Os personagens surgiram nos mostrando cantores de grande categoria:
Ivan Magri, já consagrado por todo mundo, confirmou tudo o que sabíamos dele: Voz, imponência, carisma, simpatia, enfim um Rodolfo de grande projeção internacional. Maravilhosa apresentação. Na sua ária “Che gelida manina”, arrebatou o público do teatro. Perfeito no dueto “O soave fanciulla”, junto a fantástica Cristina Pasaroiu, deram em unísono, afastando-se de costas, um explêndido dó agudo, que perdeu-se no espaço. Durante toda a récita, foi uma figura atuante e viva que deixará saudades.
Cristina Pasaroiu, um belíssimo timbre escuro e quente, fez uma Mimi encantadora. Suas árias: “Si, mi chiamano Mimi” e “Addio, senza rancor!”, soaram com perfeição e agrado da plateia, que foi se esquentando paulatinamente. O dueto “Sono andati?”, foi envolvente e um grande triunfo como final. Bravos a esta cantora romêna, que ainda dará muito o que se falar dela no futuro.
Homero Velho, foi um Marcello sem máculas. Voz bonita, potente e viril, dominou todas as sua cenas com desenvoltura, principalmente no 3º ato:
“O buon Marcello, aiuto!” - dueto – Mimi e Marcello.
“Marcello, finalmente!” – “Mimi è una civetta” – duetos – Rodolfo e Marcello.
“Che facevi, che dicevi” – quarteto – Rodolfo, Mimi, Marcello e Musetta.
Marina Considera, foi uma Musseta preciosa. Presença cênica, voz belíssima e segura. Deu uma aula de canto na sua ária “Quando me’n vo”. Eficiente e atenta, brilhou como uma verdadeira diva. Aplausos calorosos ao final do espetáculo.
Felipe Oliveira, foi um dos melhores Schaunard que já ouvi. Não há pequenos papéis, e sim intérpretes que não sabem aproveitar e valorizá-los. Felipe foi um Schaunard de luxo. Voz intensa e bela. Um ótimo ator em cena. Sabe interagir com os colegas. Um trabalho admirável.
Murilo Neves, completou o quarteto de amigos, com elegância e brilho. Desenvolto e presente sempre. Cantou “Vecchia zimarra senti” com contenção e emoção singela. Perfeita a sua participação.
Inacio de Nonno, veterano cantor, de grandes méritos, sendo um comediante latente, fez dos seus pequenos personagens, Benoit e Alcindoro, bem distintos só na maneira de agir e encarar. Sem truques de maquilagem, atuou com requintes que só a experiência concebe.
Bruno dos Anjos (revezando-se no papel de Parpignol) e Patrick Oliveira (Guarda), participações eficientes e positivas. Grandes perspectivas para um brilhante futuro.
O Coral Infantil da UFRJ, preparado com esmero, afinco e segurança, por Maria José Chevitarese.
Coro como sempre, em grande nível e bem preparado por Jésus Figueiredo.
A orquestra cantou lindamente durante todo o evento. Bravos aos professores.
A direção musical e a regência do Maestro Eduardo Strausser, que fez uma ótima estreia no TMRJ.
Vocês não podem perder. Grandes vozes, grandes momentos musicais, concerto de nível internacional. Vale a pena sair de casa para aplaudir com entusiasmo os bravos artistas.
Lauro Gomes
Fonte: http://www.musicaclassicabrasileira.com.br/laboheme.html