3 PONTOS : UM CONCERTO COREOGRÁFICO. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

                                FOTOS/ANDRÉ PINNOLA

Na sequência comemorativa de seus 15 anos , a Focus Cia de Dança mostra mais uma de suas inventivas incursões , desta vez com a retomada de quatro coreografias integrantes da proposta 3 Pontos...

Aqui, seu condutor/coreógrafo/bailarino Alex Neoral se entrega, ao lado de seu consistente elenco(Carol Pires, Cosme Gregory, Felipe Padilha, Gabriela Leite,Marcio Jahú e Monica Burity), a uma de suas mais singulares experimentações sonoro/ gestuais.

Na sutil visibilidade da interpelação de falas numéricas com modulações, ora sensíveis ora enérgicas, da fisicalidade de cada intérprete no trajeto minimalista do compositor Steve Reich emPathways.

Estreada em Stuttgart(2008) a obra, em seu espontâneo estruturalismo fragmentário, remete, sem perder em nenhum momento a sua autenticidade, às pesquisas exploratórias de tempo e espaço , também com Reich, da cia Roses , de Anne Teresa  De Keersmaeker.

No intimista relacionamento da dança com a música, as duas coreografias seguintes revelam um raro domínio corporal e uma extremada interatividade emotiva, a partir de execuções, entre gravações e ao vivo, de obras camerísticas  de Bach.

Um trabalho que reafirma o acorde absoluto do barroco com a contemporaneidade da dança, desde as já clássicas experiências de Balanchine( especialmente em Concerto Barroco) e Roland Petit emLe Jeune Homme et la Mort, ao Back to Bach, do Het National Ballet.

Sem esquecer as indeléveis visões de Pederneiras no Bach(1996) do Grupo Corpo, e do espetáculo coletivo com as seis Suites de Cello (por Jorge Garcia, Luis Arrieta,Tíndaro Silvano,Ismael Ivo,Henrique Rodovalho, Deborah Colker).

Adequadamente expressiva nas suas variações de seis partes ( em solos e duos bachianos de piano e violino),Um a Um revela a complementação sensorial e plástica da dualidade de corpos em movimento, na alternatividade sincrônica  de reencontros dialogais.

Partindo da Chaconne ,é um outro Bach que aparece a seguir, para solo de violino, com notável aproveitamento das pausas meditativas às cadências rítmicas , onde os corpos revelam uma desenvoltura de gestos paralela a  um dimensionamento psicológico da performance.

O substrato estético se  completa na arquiteturação explosiva e libertária do movimento,pontuado pela proposital desordem do discurso coreográfico, com Strong Strings.

Sob os estímulos pop/roqueiros da banda Nirvana, na sua reinterpretação por um eficiente quarteto de cordas(Daniel Silva,Gretel Paganini,Luciano Correa/cellos, e Nikolay Sapoundjiev/violino) integrado ao componente coreográfico, instaura-se um clima de extática comunhão palco/platéia.

Numa transmutação, metafórica/ritualística, do mix conceitual música>dança do performer americano Mark Tompkins :

“A Música para os olhos; o ouvido para o Movimento".


3 PONTOS c/ a FOCUS CIA DE DANÇA está em cartaz no Espaço Sérgio Porto, Humaitá, de sexta a segunda, às 20h. 90 minutos. Até 13 de junho.

Wagner Correa de Araujo

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