MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO CANCELA CONCERTO DE APRILE MILLO. ARTIGO DE FERNANDO BICUDO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Infelizmente, para a cultura carioca, a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro não avaliou as trágicas consequências do irresponsável cancelamento de nosso Concerto de 19 de agosto com Aprile Millo e grande elenco, Coro da Associação de Canto Coral e Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência de Jésus Figueiredo. O Municipal nos havia confirmado, através de carta assinada pela sua Direção, a reserva dos dias 17, 18 e 19 de agosto de 2016 para a montagem cenográfica, ensaios e a apresentação.
Estávamos preparando grandes surpresas para essa noite beneficente para celebrar os 75 anos da Associação de Canto Coral e os 180 anos de nascimento de Carlos Gomes. Para evitar a quebra do sigilo, argumentamos que a reserva de três dias completamente à nossa disposição se fazia necessária pela gravação de um "Making of" e um vídeo do evento. E pagaríamos por esses dias. Tudo corria bem até a confirmação da vinda da Aprile por O Globo, com quem fecharmos parceria de mídia e reportagens para divulgar os trinta anos da histórica apresentação pelo projeto AQUARIUS, de "Aida", de Verdi, na Quinta da Boa Vista, para um público recorde de meio milhão de pessoas.
No dia seguinte à confirmação pela coluna do Ancelmo Góis, que Aprile Millo viria "para cantar na festa de aniversário de 70 anos de seu amigo Fernando Bicudo", que aconteceria após o que passou oficialmente a ser "APRILE MILLO IN CONCERT RIO 2016", a direção do Municipal, arbitrariamente, se achou no direito de cancelar sua apresentação nesta noite de data comemorativa, colocando em seu lugar uma apresentação dos alunos da academia de ópera do Municipal! Colocar alunos, aprendizes de ópera, no lugar da cantora lírica que conquistou os maiores sucessos de crítica e público no Municipal nos últimos 30 anos: a extraordinária Aprile Millo. Inacreditável!
Com o cancelamento de nossa indispensável reserva dos tres dias, inviabilizou a montagem da altamente sofisticada cenografia tecnológica com inédito efeito especial de projeção de um filme holográfico de Ida Miccolis, que apareceria magicamente no palco, em tamanho natural interpretando a ária "Quale orribile peccato", da ópera "Fosca", em nosso tributo aos 180 anos de Carlos Gomes. Esse projeto vinha sendo desenvolvido pelos cientistas cibernéticos Fred Tolipan e Fabio Passos, que foram os responsáveis pela primeira cenografia virtual de um espetáculo em nosso país, "Terra Brasilis", em 2003, desenvolvida com os mais avançados projetores de efeitos, na época, também conseguidos junto à diretoria da SONY. Um trabalho de quatro meses de criação em estúdio.
Assim como já ocorrera em "Terra Brasilis", com telões de última geração, a cenografia de "Aprile Millo in Concert in Rio" também seria virtual, só que agora, mais avançadas ainda, com painéis de LED com a tecnologia SONY 4K, com altíssima resolução. Todas as mudanças de cenografia para cada um dos trechos musicais apresentados estavam sendo trabalhadas nos utilizando de filmes e fotos existentes, além de computação gráfica.
Após o choque que recebemos com esse ato de total desrespeito a compromissos assinados, ainda tentamos, em vão, encontrar uma alternativa.
Primeiro, as duas passagens de primeira classe de nossa estrelas internacionais, Aprile Millo e Mary-Lou Vetere, não poderiam ser adiadas nem para o dia seguinte, que coincide com o término dos Jogos Olímpicos, só no próximo mês de setembro!
Segundo, seria tecnicamente impossível, em apenas duas horas por dia, a montagem e desmontagem dos sofisticados equipamentos previstos, para liberar o palco para a apresentação dos alunos.
Após reunirmos a equipe de produção e constatarmos a inviabilidade da realização do nosso espetáculo, face a comunicação recebida da direção do Municipal, comunicamos o fato à nossa querida amiga e extraordinária artista Aprile Millo, que inclusive havia cancelado compromissos, na Itália, para poder estar aqui, no Rio, em nossa celebração dos 30 anos de sucesso de sua histórica "Aida". 
Esse cancelamento deixou Aprile Millo, Mary-Lou Vetere e todos os brasileiros envolvidos, extremamente, revoltados com essa arbitrariedade cometida, tendo inclusive abatido a minha saúde, com uma crise de tremores acompanhada de febre de 39,8º, obrigando-me a ficar recolhido no leito, em atendimento médico.
Ao tomar conhecimento da gravidade de seu ato, a diretoria do Municipal tentou voltar atrás, mas o dano cometido já era irreversível e o evento foi definitivamente cancelado este ano.
É muito triste que, além da desconsideração com nossos planejamentos de resgate e valorização de grandes conquistas culturais com grandes protagonistas, a direção do Municipal ignorou inclusive o fato desse Concerto ter sido escolhido por nosso querido Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Cardeal Tempesta, para ser o importante Evento Anual Beneficente da "Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém", onde é seu "Grão Prior", que, em parceria com a "Ação pela Cidadania contra a Fome e a Miséria", pretendia contribuir para as 14 creches desse projeto fundado pelo sociólogo "Betinho", que atendem às vítimas da Zika, mães e bebês com microcefalia. 
Lamentavelmente, além de termos perdido um extraordinário espetáculo multimídia de imensurável valor artístico, que ficaria marcado em nossa história, deixamos de arrecadar relevantes recursos para muito carentes projetos sociais. Antes mesmo de colocarmos a venda os ingressos, já havíamos vendido 170 ingressos, a mil reais cada, totalizando R$ 170 mil, para dois grupos empresariais de ávidos interessados, no evento e em seu caráter beneficente, sem falar na imensa procura de informações vinda de ávidos fãs da Aprile de várias partes do país e grandes metrópoles sul-americanas, como Buenos Aires e Santiago.
Agora é acalmar o espírito, rezar e aguardar dias melhores no próximo ano, com salvaguardas contra esses atos inconsequentes de abuso de poder.

Fernando Bicudo

Foto Internet: Dolora Zajiak, Amneris and Aprile Millo, Aida.

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