ORFEU E EURÍDICE NO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. CRÍTICA DE LAURO GOMES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Crítica da apresentação da ópera de Gluck no Theatro Municipal do Rio

Orfeu e Eurídice é uma ópera de Christoph Willibald Gluck baseada no mito de Orfeu, com libreto por Ranieri de 'Calzabigi.
Composição: 1762
Primeira apresentação: 5 de outubro de 1762
Compositor: Christoph Willibald Gluck
Libretista: Ranieri de' Calzabigi

Esta montagem foi executada pelo Coro e pela Orquestra Sinfônica do TM e teve como solistas convidadas a mezzo-soprano Denise de Freitas, no papel de Orfeu e a soprano Lina Mendes, interpretando Eurídice. Luisa Suarez, soprano integrante da Academia de Ópera Bidu Sayão, do Theatro Municipal, deu vida ao personagem Amor. Brava a participação de bailarinos do Corpo de Baile do Theatro Municipal e de alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. A nova produção do TMRJ teve a Cenografia de Duda Arruk, Figurino de Cássio Brasil, Coreografia de Tânia Nardini, Concepção, Encenação e Iluminação de Caetano Vilela e Direção Musical e Regência de Abel Rocha.

O Espetáculo.
A abertura, em alegre tonalidade, foi aproveitada como uma inteligente síntese da história: Camponeses dançam alegres e brincam de cabra cega. Vendados olhos, Orfeu e Eurídice, se procuram numa busca impossível. Eurídice é arrebatada pelas fúrias e Orfeu enfrenta a brutal realidade da morte da sua amada.

1º ato.
1ª cena - Diante do túmulo de Eurídice - Ninfas e pastores lamentam a morte de Eurídice, mordida por uma cobra - “Ah, se intorno a quest’ urna funesta”. Desolado Orfeu clama por sua amada - “Chiamo il mio ben cosi” e a ninfa Eco aparece em seu socorro. Orfeu irá resgatar Eurídice do reino dos mortos – “Numi! Babari numi”.

2ª cena – O Amor surge dizendo que Júpiter se apiedou e permitirá que Orfeu desça ao Hades para resgatar a sua esposa, com a condição que ele não poderá olhar o rosto dela e nem explicar-lhe qual o motivo desta decisão, do contrário, ele a perderá para sempre –“Gli sguardi trattieni”. Orfeu aceita os termos e começa a sua jornada, armado com a sua lira.

2º ato.
1ª cena: Os Portões do Hades – Fúrias e fantasmas, procuram imperdir a passagem de Orfeu – “Chi mai dell Erebo”. Os sons dos lamentos de Orfeu, acalmam e comovem as almas penadas. Ele pode atravessar os Campos Elíseos.

2ª cena – Elíseos – Orfeu se encanta com a beleza do Paraíso – “ Che puro ciel, che chiaro sol”. As almas benditas trazem Eurídice – “Torna, o bella, al tuo consorte”. Sem olhar a sua amada, Orfeu parte com ela.

3º ato.
1ª cena – Um labirinto sombrio – Orfeu conduz Eurídice ao mundo exterior, sem fitá-la – “Vieni, segui i miei passi”. Ele não pode explicar-lhe o motivo de se negar a ver o seu amado rosto – “Viene, appaga il tuo consorte!” – Eurídice se desespera duvidando do amor do seu esposo - “Che fiero momento”. Orfeu se comove e olha para Eurídice, que morre imediatamente. Inconsolável sabe que não poderá viver sem ela – “Che farò senza Euridice?” – O seu consôlo será o suicídio.

2ª cena – O Amor resurge. Em resposta àquele sentimento puro e intenso, O Amor faz Eurídice reviver. Os três retonam à terra.

3ª cena – O Templo do Amor – Eurídice, Orfeu, Amor, as ninfas e os pastores celebram a força do amor, com música e danças – “ Trionfi Amore!”
A presente montagem do nosso Municipal, revive o espetáculo da estreia em Viena, em 1762, cantada em italiano. Os entendidos de ópera, reclamaram a falta da ária de bravura do Orfeu. Ela não existia ainda na estreia. Muitas montagens acrescentam até a ária “Divinità infernale”, da ópera “Alceste”, também de Gluck, na intenção atrair mais emoções aos espetáculos. Em vão. A música de Gluck é linda o suficiente e não precisa de artifícios para sobreviver.

Começamos a falar da encenação. 
A cenografia de Duda Arruk, é arrebatedora. Mostrando as entranhas do elevadores do palco que sustentam até, em três planos simultâneos, cenários dignos, de uma beleza clássica, unindo o moderno e o antigo numa simbiose enriquecedora e eficiente.
Figurinos de Cássio Brasil, lindos, leves, de colorido suaves, elaborados achados como a vestimenta do Amor, com as cores do arco íris, bem desmaiadas, simbolizando que o amor não tem fronteiras.

Mais que brilhante a participação dos bailarinos do Corpo de Baile do Theatro Municipal e dos alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, dançando uma coreografia de Tânia Nardini, inventiva e inteligente. Aplausos aos bailarinos que fizeram um pas de deux, na Dança dos Espíritos Abençoados, simbolizando o encontro de Orfeu e Eurídice, numa dança amorosamente cativante. 

Presença marcante da flautista Sofia Ceccato, solando a Dança dos Espíritos Abençoados, interagindo com os personagens no palco.
Denise Freitas foi um Orfeu impecável, numa época que os pápeis femininos eram interpretados por castrati, a opção foi correta, visto que a tessitura da voz de contralto de Denise fluiu num ritmo comovente, emocionando o público com as suas desventuras e desesperos lancinantes. 
Lina Mendes, interpretando Eurídice, fez vibrar sua voz de soprano de grande beleza. Contida e inconformada, deu matizes de cores tristes e angustiadas, a sua sofrida personagem.

A grande surpresa da noite foi Luisa Suarez, soprano integrante da Academia de Ópera Bidu Sayão, do Theatro Municipal, vivendo o personagem Amor. Filha da cantora Carol McDavid, que interpretou este mesmo papel há 21 anos no Municipal - Luisa sabe colocar a bela voz de soprano lírico, a serviço da arte. Segura e firme, não vacilou um só momento. Parecia uma veterana dos palcos. Aguardamos ansiosos a sua volta em breve. Terá um belíssimo futuro.

O Coro do Municipal, mostrou mais uma vez porque é melhor coro do nosso país. É uma alegria sentir a vibração como todos se entregam. Solene, serena e eloquente, nos momentos de comoção. Alegre, terna e envolvente nos momentos exultação. Bravos aos nossos coristas.

Nossa orquestra brilhou como nunca. Sob a batuta atenta e segura do maestro Abel Rocha, que também fez a direção musical do espetáculo, foi doce, melancólica, agressiva, amorosa e suave. A música de Gluck foi muitíssimo bem valorizada, pelos nossos valentes professores.

Palavras finais para Caetano Vilela, o idealizador que concebeu, iluminou e dirigiu este belíssimo “Orfeu e Eurídice”. Bravos foram poucos para aplaudir tanta imaginação e competência. Um espetáculo que deveria ser apresentado ao público estrangeiro que vem para aos Jogos Olimpícos, para ele possa também sentir a grandeza e a criatividade dos nossos artistas líricos.

A lamentar somente o pouco público presente na estréia. Um espetáculo grandioso que merece o apoio de todos aqueles que amam a música, o teatro, o balé e as artes plásticas. A ópera está inteira, sublime, reunindo todas artes a espera do seu aplauso. Vale a pena sair de casa e embarcar neste sonho. Não perca. Bravos!!!


Lauro Gomes

Fonte: http://www.musicaclassicabrasileira.com.br/orfeueeuridice.html

Foto : Ópera-Orfeu-e-Eurídice-2016-Luisa-Suarez-Amor-1-low-Crédito-Júlia-Rónai

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