CARTA ABERTA DE BEATRIZ FRANCO DO AMARAL A JOHN NESHCLING.



Maestro Neschling:
Pouco importa sua opinião a respeito de minha gestão frente ao Theatro Municipal, pois o senhor é reconhecido por seu destempero verbal, por promover cizânias, por aterrorizar profissionais que do senhor dependem, por divulgar fatos que jamais ocorreram e por se vitimizar. Suas atitudes não me atingem, mas é preciso esclarecer o público, e, sobretudo, reconhecer a contribuição dos que comigo trabalharam para que o Theatro Municipal fosse elevado a outro patamar. O mérito não foi meu, foi dos meus antecessores, foi da equipe (mesmo muito mal remunerada) que me acompanhou por amor à Casa, foi da administração municipal (administração Serra/Kassab), e da Secretaria Municipal de Cultura, que não pouparam esforços para que o Municipal brilhasse.
É claro que o senhor se ressente porque não lhe foi dada a oportunidade de restaurar a ala nobre do Theatro, de modernizar tecnologicamente o palco, de celebrar o Centenário, de criar uma Central de Produção que passou a guardar figurinos e cenários de forma apropriada, de promover temporadas de ópera, balé e concertos aplaudidas pelo público e reconhecidas pela crítica brasileira e estrangeira, de construir do nada a Praça das Artes, de elevar o Municipal a Fundação, o que possibilitou celetizar os artistas. O Theatro operava com um orçamento muito reduzido, se comparado ao de que o senhor dispunha, o que não nos impediu de promover temporadas com excelentes regentes, diretores artísticos, cenógrafos e, sobretudo, músicos e cantores brasileiros (remunerados rigorosamente em dia) que consideravam o Municipal a sua Casa. Sua gestão os expulsou, para substituí-los por artistas importados de segundo nível.
O senhor declarou à Folha: “Recebi uma quantidade enorme de e-mails e scraps de músicos e funcionários ao deixar o Theatro. Gente que me agradece, que fala do prazer de trabalhar comigo, que lamenta minha saída”. Pois saiba maestro, que muitos dos pelo senhor citados, se comunicavam comigo no intuito de questionar se administrativamente haveria como se livrar de um psicopata, um tirano. É assim que o qualificam. 
Diz o senhor, com seu natural destempero: “O Municipal vai fechar. A situação é insustentável. Encontrei o teatro em péssimas condições. A restauração [em 2011] foi uma maquiagem em um cadáver.” Maestro, o senhor encontrou um Municipal restaurado, fato testemunhado pelo público e imprensa, um palco modernizado, ao ponto de acolher perfeitamente as óperas que sua gestão alugou do estrangeiro. Não havia, com certeza, a necessidade de o senhor ordenar a destruição do ciclorama, que poucos teatros na atualidade possuem, pois a obra do palco contemplou uma vara especial (e de alto custo) para removê-lo, conforme a necessidade de cada produção. Por fim, o Municipal não vai fechar, é uma instituição sólida, vai sobreviver aos desmandos de sua gestão. Seus comentários sobre o estado do palco e da Praça das Artes são falácias, mentiras, em bom português, de um contumaz mentiroso. 
Outra das suas acusações levianas me imputa a responsabilidade de ter “alugado” o Municipal a produtores na gestão passada. Explico: o Theatro firmou parcerias com 10 (dez) diferentes produtoras para viabilizar a realização de óperas, ampliando assim o repertório de produções do Municipal, uma vez que a administração do Theatro, com apenas 48 servidores públicos, não conseguia arcar com o vasto número de contratos. Todos os contratos celebrados entre o Municipal e as empresas produtoras foram publicados no Diário Oficial e aprovados pelo Tribunal de Contas do Município, condição não verificada em sua gestão. 
Desnecessário dizer que a gestão Herencia/Neschling introduziu a corrupção nos contratos do Municipal. Às vezes me ocorre pensar que o barulho que suas declarações provocam tem a função de desviar a sua responsabilidade nos fatos já apurados, inclusive pelo ex-interventor nomeado pelo próprio Gabinete do Prefeito. Maestro, antes de se proclamar vítima, prove publicamente a sua inocência, diante das graves acusações.
Beatriz Franco do Amaral

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