DON QUIXOTE COMO COADJUVANTE, SÓ ACONTECE NO BALÉ DE PETIPA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

  


   Don Quixote  de Cervantes é um clássico da literatura mundial. A história do cavalheiro que delira uma realidade inexistente tem sua força no cômico, na acidez das sátiras e na crítica a sociedade. Todas as grandes artes tentaram retratar Don Quixote. Temos quadros, poemas sinfônicas, óperas e balé.
A complexidade da história aliada a uma forma única de narrativa faz com que todas as tentativas de transformar o livro em outra arte sejam frustrantes. Quem leu Don Quixote de cabo a rabo sabe o que estou falando. O balé, que está no repertório dos grandes teatros do mundo há mais de um século, é um exemplo . Tem de tudo , menos a história de Don Quixote. O  libreto de Marius Petipa foi reduzido a uma simples  história de amor de dois jovens, esse proibido pelo pai. Don Quixote vira um mero coadjuvante, que mais atrapalha que ajuda. Andanças sem nexo e um quarto ato que não acrescenta nada aniquilam de vez a história.  
   Os belos números de dança fazem Don Quixote pertencer ao repertório de todo bom teatro. Marius Petipa sabia coreografar , abusou da irreverência e utilizou um tema exótico e popular na época, a calorosa Espanha . Muitas de suas peças ganharam popularidade e são apresentadas nas noites de gala e em concursos pelo mundo afora. A quantidade e a beleza das coreografias fazem quase todo o corpo de baile se apresentar. Todos ficam felizes e o público aplaude de pé. O balé em questão não tem absolutamente nada a ver com a grande obra de Cervantes. Tem grandes números de dança, agradam ao respeitável público , muitas vezes sai extasiado do teatro. A história é mais ingênua que novela das 6.
   A música de Leon Minkus é de uma pobreza alarmante. Simples e direta, nem lembra a ensolarada Espanha de Don Quixote. Encaixa com as coreografias de Petipa, mas não empolga. Não tem um grande tema , uma grande melodia.  
   A produção do Mariinsky ballet é primorosa. Importantes detalhes como cores de figurinos e luz combinam e nos levam ao fantástico. Os solistas se apresentam com boas performances. A Kitri da bailarina Olesia Novikova é ingênua e exala uma beleza no frescor da juventude. Executa todos os grandes passos do balé, esses de grau de dificuldade máximo. Seusfouettes são firmes e muitas vezes duplos. Uma das grandes características dessa personagem são os saltos. Os de Novikova não são tão elevados quanto deveriam, seus solos são vistosos, sua técnica segue a tradição russa, apurada. Seu melhor momento foi ogrand pas de deux do quarto ato. Uma boa bailarina, mas nada que deixe  saudades.
   Leonid Safaranov é mais um bailarino bonitão . Baixinho como o Catatau (amiguinho do Zé Colméia) , de técnica impressionante e grandes saltos. Empresta grande dignidade ao personagem Basilio. O corpo de baile do Mariinsky está impecável nos diversos solos  e números que acontecem no decorrer dos quatro atos. A orquestra se porta com precisão, devem conhecer a partitura de cor . 
   Os cenários e figurinos são impecáveis na beleza e no acabamento, mostram o padrão Marrinsky de balé. Tem gente que afirma que o teatro está em decadência. Não vimos isso nas apresentações. As crianças são um espetáculo a parte, não se intimidam com o palco e fazem seu papel com bravura. 
Uma grande gravação, um excelente balé produzido pelo Marrinsky.Imagens e direção de câmeras de boa qualidade. Indicado para quem gosta de ver técnica apurada com alto grau de dificuldade. Números estonteantes, que contagiam o espectador. Apesar da fraqueza do libreto. 
Ali Hassan Ayache

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