"ELIXIR DO AMOR" COM ALUNOS DA UNICAMP, UMA AULA DE ÓPERA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   


   Algumas óperas fazem renascer a esperança, vemos que existe luz no fim do túnel para essa maltratada arte no Brasil. A apresentação da ópera " O Elixir do Amor" de Caetano Donizetti no suntuoso e moderno Theatro Municipal de Paulínia pelos alunos UNICAMP que comemora seus 50 anos é um evento que renova a esperança na ópera. Vemos uma nova geração que surge em todos os setores, desde a produção até os solistas os jovens universitários mostram que o futuro é promissor e o problema é a política.
   Para viabilizar o projeto a coordenação convida Cleber Papa para a direção cênica, com vasto currículo no meio operístico o diretor viaja atualmente o Estado de São Paulo com sua Cia de Ópera Curta. Mais que dirigir e colocar sua concepção Papa faz um trabalho acadêmico com visitas semanais de instrução aos alunos. Sabendo dos desafios de montar uma ópera com estudantes, o diretor habilmente faz do recurso cênico um aliado: Coloca toda a encenação na ponta do palco, diversas vezes os solistas estão no alto com o uso de escadas e plataformas e o cenário é composto por painéis. Assim as vozes tem melhor projeção para a enorme plateia. Abusa da criatividade em movimentações cênicas que fazem o espectador menos conectado com a ópera entender e principalmente se divertir. Símbolos que parecem modernos como o jeans ou o sorvete são usados nas cenas e estão presentes nos acontecimentos de época.
   Os solistas foram uma surpresa, lembrando que todos são jovens e estreantes. O que dizer da bela voz do soprano Ana Carolina Marchi, lírica e com enorme potencial de ascensão. Interpretação cênica bem trabalhada, uma Adina de bom nível. Outro destaque fica para o Nemorino de Ramon Mundin, um tenor com bom timbre. O Belcore de William Donizetti não esteve no mesmo nível dos colegas. A Gianeta de Isabelle Dumalakas mostrou um  talento acima da média, cantora com potencial enorme de crescimento e um futuro promissor na lírica. 
   Pepes do Valle é baixo já tarimbado e conhecido no meio operístico, como convidado cantou com excelência e interpretou com desenvoltura. Além do mais fez master class com a moçada e passou toda a sua experiência e conhecimento aos jovens estudantes. Importante ter um veterano para dar segurança, Pepes do Vale fez isso muito bem.
   A regência ficou a cargo de Cinthia Arileti, a maestrina bonitona conduziu a Orquestra Sinfônica da Unicamp com inteligência e na medida certa para o bom andamento da ópera. Seus tempos foram lentos, às vezes lentos em demasia, tudo isso é feito para facilitar a vida dos jovens solistas. Nas entradas corais soltou a mão, volume intenso que ressalta a comicidade da ópera. Conseguiu bom volume e sonoridade adequada ao teatro. Os dois corais da casa fizeram a lição de casa e apresentaram vozes condizentes, destacam-se pela dedicação cênica, a moçada se entrega a arte.
   Uma lição de ópera, longe das grandes verbas e dos estrelismos internacionais a Unicamp prova que com poucos recursos é possível fazer ópera de qualidade. Em conversa com o diretor Cleber Papa ele afirma que trabalhar na ópera "O Elixir do Amor" foi uma "experiência com realidade concreta e uma esperança renovada para o futuro". O público não se fez de rogado, compareceu a todas as sessões, quando não lotou encheu o teatro com capacidade para mais de 1300 espectadores. Interesse em ópera existe, basta vontade política para fazê-la.
Ali Hassan Ayache 
   
 
        

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