CAVALLERIA RUSTICANA & PAGLIACCI, METROPOLITAN OPERA HOUSE, NOVA YORQUE, 1978. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
As óperas Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni e Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo, foram apresentadas juntas pela primeira vez, em programa duplo, no Metropolitan Opera House de Nova Iorque, em Dezembro de 1893. Ambas são curtas, densas, podem ser cantadas pelo mesmo elenco e pertencem à mesma escola musical. Um casamento perfeito. Expressões máximas do verismo, onde desfilam pessoas comuns, crimes passionais, situações da vida cotidiana e um modo de cantar que privilegia a potência vocal.
Pouco interessa se a Cavalleria Rusticana de Mascagni foi a primeira ópera verista. Se Pagliacci tem melhor estrutura musical. A discussão vai longe, o que posso afirmar é que a música dessas óperas emociona muita gente - inclusive este que vos escreve. Dramática, carregada nas tintas, potente e cativante. O trabalho da determinação do período histórico ao qual pertencem fica relegado aos estudiosos. Muitos buscam fórmulas que se encaixem para definir se essa ópera é verista ou não, tudo balela intelectual. Elas só estão presentes no repertório dos grandes teatros porque caíram no gosto do público. Sua música agrada aos ouvidos, suas histórias são reais, palpáveis e podem acontecer com qualquer um .
A produção do Metropolitan Opera House de Nova Iorque aposta em Franco Zeffirelli, sua leitura é realista e adequada a uma ópera verista. Adepto ao luxo e ao requinte, Zeffirelli entende a ação e parte para o clássico. Seus cenários e figurinos são italianos na mais pura concepção da palavra. Lembram o ambiente de uma vila pobre do século XIX e uma trupe de circo empobrecida. A fama de gastador se justifica para o grande diretor, mas nessa ópera ele acerta a mão.
O elenco é um luxo. Poucas vezes se viram tantos talentos juntos e no auge de suas carreiras. Tatiana Troyanos está em boa forma vocal, que timbre tinha essa mulher! Uma voz melodiosa, com harmonia e luz próprias. Domingo, sempre um grande artista, completo, nos anos 70 os agudos estavam todos lá. Teresa Stratas estava soberba, sua voz sedutora e quente conquista qualquer um, assim ninguém agüenta. Sherril Milnes é um Tonio com voz marcante, volumosa em todos os registros. Todos entendem seus personagens e interpretam-nos além da excepcional atuação vocal.
O Metropolitan Opera House não fica devendo nem nos comprimários. A Lola de Isola Jones e o Alfio de Vern Shinall participam pouco (têm papéis pequenos) e cantam muito. A orquestra de James Levine sempre se mostrou pronta para reger ópera. Consegue um colorido típico do sul da Itália, com andamentos precisos.
Cavalleria Rusticana foi a primeira ópera composta por Pietro Mascagni. Até então um desconhecido professor de música, obteve sucesso mundial instantâneo. Mas nem tudo foram flores em sua vida. Sua produção prosseguiu com óperas de grande valor, mas que ficaram relegadas a segundo plano, ofuscadas pelo sucesso da Cavalleria Rusticana. Iris, Zanetto e L'Amico Fritz são trabalhos de grande qualidade, mas não pegaram. Leoncavallo inventou de concorrer com Puccini e quebrou a cara. Sua La Bohéme caiu no esquecimento. Até hoje não existe nenhuma gravação em vídeo dessa ópera, comercial ou não. Compositor de uma ópera só.
Ali Hassan Ayache
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