HÁ 50 ANOS MORRIA FRITZ WUNDERLICH, O REI DOS TENORES. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



Fritz Wunderlich interpretando Tamino em “A flauta mágica” de Mozart
Há 50 anos, nas vésperas de completar 36 anos de idade, morreu, num acidente caseiro banal, aquele que para muitos foi o maior tenor dos tempos modernos: Fritz Wunderlich. Nascido em 27 de setembro de 1930 na pequena cidade alemã de Kluse, numa família pobre, dilacerada pelo nazismo (seu pai cometeu suicídio por ser perseguido pelo partido), vai aos poucos sendo descoberto primeiro nas pequenas cidades alemãs e posteriormente nos maiores palcos da Europa. Sua única professora de canto foi Margarethe von Winterfeldt, uma cantora cega, com quem ele estudou em Freiburg de 1950 até 1955. Para sustentar seu estudo nesta época tocava acordeom e cantava em bailes populares. Contratado pela ópera de Stuttgart em 1955 debutou profissionalmente neste teatro no ano seguinte no papel de Tamino, na “Flauta mágica” de Mozart. Seu talento excepcional, e com uma voz de uma rara beleza, o levou a ter sua agenda completamente repleta de 1957 até sua morte prematura em 1966. Todos os maestros renomados da época faziam qualquer coisa para tê-lo em suas apresentações: Eugen Jochun, Karl Böhm, Istaván Kertesz, Karl Richter, Otto Klemperer e Herbert von Karajan eram absolutamente apaixonados pela sua maneira espontânea de cantar. Seu repertório de tenor lírico o faziam ser o maior expoente, em seu tempo, de compositores como Mozart, Haydn, Bach, Schubert, Schumann e Beethoven. Mas isto não impediu de expandir bastante seu repertório. Cantou (e gravou) também obras de Wagner, Richard Strauss, Verdi Tchaikovsky, Carl Orff, Alban Berg e H. Pfinitzer. Na época de Wunderlich a maioria das óperas era cantada em alemão em seu país de origem, sendo que só a partir de 1962 ele aprendeu a cantar em italiano. Sua estreia neste idioma se deu numa festejada produção da ópera de Viena em 1963 de Don Giovanni de Mozart. Apesar do alto nível do elenco e da regência de Herbert von Karajan o grande destaque foi sua atuação. Neste ponto de sua carreira Wundelich se interessa em ser também um respeitado cantor de “Lied” (canção alemã). Humildemente segue os conselhos de seu grande amigo, o barítono Herman Prey, e segue à risca os ensinamentos do pianista Hubert Giesen. As gravações que os dois (Wunderlich e Giesen) realizaram de obras de Schubert, Schumann, Richard Strauss e Beethoven nunca saíram de catálogo: são uma referência absoluta. É também nesta época que se aventura, com grande sucesso, num repertório “cross-over”, fato ainda pouco frequente naquela época. Em 1965 recebe o convite para debutar no ano seguinte no Metropolitan Opera de Nova York, cantando Don Ottavio do Don Giovanni de Mozart. Um acidente caseiro, quando se atrapalhou com os cadarços de um sapato no alto de uma escada, abreviou de forma trágica e sucinta a sua vida, nas vésperas de viajar para os Estados Unidos, na noite do dia 17 de setembro de 1966. Uma perda irreparável. A beleza da voz, a maneira espontânea de cantar, a dicção infalível e a graça de suas performances parecem mesmo nunca mais ter tido um sucessor à altura.
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Felizmente Wunderlich gravou bastante durante sua curta carreira. Existe apenas um vídeo completo de uma ópera: O barbeiro de Sevilha de Rossini, em alemão. Nela dá para perceber que ele, além de ser um cantor excepcional, era também um excelente ator. Felizmente as gravações em áudio são boas e numerosas. Duas óperas de Mozart foram gravadas comercialmente, “A flaute mágica” (regência de Böhm) e “O rapto do serralho” (regência de Jochun). São gravações surpreendentes em todos os aspectos. O ciclo de canções “A bela Moleira” de Schubert e o ciclo “Amores de um poeta” de Schumann gravados por Fritz Wunderlich e o pianista Huber Giesen são provas consumadas de uma arte refinada. Nunca o personagem de “Andres” da ópera Wozzeck de Alban Berg soou tão pertinente como na gravação que ele realizou ao lado de Dietrich-Fischer Dieskau (regência de Böhm). O “Oratório de Natal” de Bach (regido por Karl Richter), “A criação” de Haydn (regido por Karajan, especialmente a gravação feita ao vivo) e a “Canção da Terra” de Mahler (regida por Otto Klemperer) demostram claramente a versatilidade do artista. Suas interpretações de árias de operetas de Franz Lehár e de Johan Strauss continuam a encantar muitas gerações, e no mais popular dos itens que ele gravou, “Granada”, de Agustín Lara, demostrou estar a anos luz de distância daqueles que, 20 anos depois, fizeram do crossover uma máquina de fazer dinheiro. Ao cantar “Granada” Wunderlich realizava a mais refinada expressão de arte. Apesar de sua morte prematura a arte de Fritz Wunderlich parece ser imortal.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/


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