BEETHOVEN - SINFONIA N.9 EM RE MENOR - PELA DOR A ALEGRIA. ARTIGO DE EMANUEL MARTINEZ NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



"PELA DOR A ALEGRIA"
Nos tempos de Beethoven a composição orquestral não era igual à moderna. Os criadores da Sinfonia, tanto da escola de Mannheim, como seus continuadores da escola de vienense, utilizavam unia orquestra reduzida, com características camerísticas, mas com uma pequena ampliação da orquestra utilizada no Concerto e na Suíte. Para tanto vale relembrar a sinfonia nascida em meados do XVIII século com Stamitz, Sammartini e Richter, entre outros, difere por sua forma da Suíte e do Concerto Grosso. De remanescente da suíte apenas mantinha-se o Minuete no terceiro movimento e nos primeiros movimentos adotava-se a forma Sonata, com sua exposição bitemática.
Após 1795, influenciado pela Sinfonia Londres de Haydn, Beethoven passou a integrar em sua orquestração este conceito clássico de orquestração. No entanto Beethoven amplia esta visão sonora da orquestra, incluindo em suas obras a presença dos trombones, flautim e contrafagote (Sinfonias V, VI e IX). Na 9ª. Sinfonia, por exemplo, Beethoven dobra o numero de trompas para quatro. Esta abertura na orquestra abre novas perspectivas sonoras para os novos sinfonistas pós-beethovenianos. A sinfonia moderna deixou de lado as técnicas do Baixo Contínuo e do Concertino - instrumentos solistas acompanhados, sendo radicalmente substituídos por uma massa instrumental agrupados em famílias, baseado no diálogo orquestral, proporcionando um novo conceito sonoro.
Dentro desta nova perspectiva sonora, a Nona Sinfonia é um grande marco evolutivo na composição musical de sua época. Ela e a ultima sinfonia escrita por Beethoven, durante o ultimo período de sua vida, concluída em Fevereiro de 1824, possuindo dimensões excepcionais aliadas à união da voz humana à orquestra. O lapso de 12 anos que a separa da 8a Sinfonia - concluída em Outubro de 1812 - faz desta um mundo à parte na musica de Beethoven, tornando-a com grande teor de dramaticidade e de elevado nível técnico instrumental e vocal.
É a partir de 1815, quando de sua surdez total, que se inicia o grande período composicional de Beethoven. Desta data ate sua morte em 1827, afirma-se brutalmente o veio de sua genialidade, fazendo-o subir e se refugiar nos píncaros da sua arte.
Na sua época, seus caluniadores levantavam uma grande questão: "como pode ma homem surdo compor alguma coisa?", mas e justamente desse período que surgem as grandes obras de sua vida, senão vejamos; Missa Solemnis, 9ª Sinfonia, Variações sobre um tema de Diabelli, todas obras primas da música universal.
Dentro dos planos de Beethoven, existia a idéia de escrever duas sinfonias: a nona e a décima, que seriam sinfonias de maiores proporções e diferentes, ambas, encomendadas pela Sociedade Filarmônica de Londres. Beethoven entusiasmou-se tanto com a idéia, que desejou visitar Londres, mas as circunstâncias de saúde o impossibilitaram. No entanto iniciou os primeiros esboços de suas sinfonias. Inicialmente a 9a Sinfonia seria puramente instrumental e a 10ª que se intitularia "Sinfonia Alemã", deveria unir coros à orquestra.
Segundo documentos encontrados por Nottebohm, em 1815 Beethoven já teria esboços do tema com a indicação de uma Fuga, que deveria integrar o Scherzo da 9a Sinfonia. Em 1816, já havia indicações de sua primeira idéia do 1º movimento, seguindo-se outros esboças até1818. A 9a Sinfonia foi, portanto concebida em meio aos sofrimentos e tristezas do maestro. Esta dor iria culminar, todavia com um final de alegria.
Neste período outras obras envolvem o maestro, a grande sonata 0p. 106, as Variações sobre um tema de Diaballi Op. 120 e a Missa Solemnis, iniciada em 1818 e concluída em 1822, embora terminada tardiamente para os objetivos a que ela se propunha, que era a consagração como Arcebispo de Olmütz, o Arquiduque Rudolfo.
Ao retomar a composição, em 1823, muda radicalmente o plano de sua obra o ultimo movimento que deveria ser puramente instrumental agora receberá as vozes humanas, aproximando-se assim ao projeto inicial de sua 10a Sinfonia, quem sabe ate pressentindo que a 10ª Sinfonia jamais seria concluída.
Na sua infância, por volta de 1793, Carlota von Schiller, irmã do poeta Friedrich von Sehiller, recebeu uma carta do professor Fischenich de Bonn, que relatava a existência de um rapaz portador de um incrível talento musical e que era muito apreciado pelo Príncipe Elector, a ponto de o mandar estudar em Viena, para que pudesse estudar com Haydn. Nesta mesma carta o professor mencionava grande interesse de Beethoven em musicar os textos de Schiller "An die Freude".
Em diversas tentativas, Beethoven esboçou algumas idéias sobre os temas de Schiller, sem nunca concluir qualquer idéia. Musicalmente estas idéias não guardavam nenhuma relação com o atual tema utilizado na 9a Sinfonia. É curioso observar, que em 1808, na sua Fantasia para Piano, Coro e Orquestra, já se ouve o tema utilizado na 9ª. Sinfonia, alguns anos mais tarde.
Porque esse canto de alegria fascinou tanto o maestro por toda a sua vida? Foi tantas vezes projetado e outras tantas abandonado, e que acabou culminando de figurar, justamente na sua ultima obra, coroando - o luminosamente nesta obra magnífica a 9a Sinfonia? A resposta a estas perguntas eu não possuo, mas parece irônico que Beethoven exalte a alegria, no momento de grande dor interior e ate dor física, senão vejamos: surdo, doente, sozinho, pobre, esquecido, sofreu cegueira por algum tempo. O silencio exterior faz com que o maestro possa irradiar importantes resplendores. Uma vez Beethoven escreveu: "Durch lieben Prende" (peIa dor a alegria). É um pensamento sublime colocado em ação. Nohl comentou que o que mais surpreendeu em Beethoven, apesar de suas doenças e infortúnios, parecia irradiar alegria pura e espiritual, algo que vinha do fundo do coração.
Em Novembro de 1822, Beethoven recebeu da Sociedade Filarmônica de Londres, 50 Libras, para a conclusão do manuscrito da 9a Sinfonia, comprometendo-se a terminá-la no mês de Março de 1823, mas as calamidades sofridas pelo maestro atrasaram a obra. Em Abril de 1823, escreveu ao maestro Ries, lamentando não poder terminar a obra, visto ter sido acometido de forte conjuntivite. Tão logo melhorou das vistas, instalou-se em Baden, para com tranqüilidade escrever a obra. Após o verão de 1823 regressou a Viena tendo concluído os três primeiros movimentos, a partir daí até Fevereiro de 1824, concluindo a obra na sua totalidade. Logo após mandou copiar e enviando-a à Sociedade Filarmônica de Londres.
Um fato, no entanto marca a estréia da obra. Foi apresentada em Viena antes que Londres a pudesse ouvir.
Beethoven desejava que sua obra fosse apresentada pela primeira vez em Berlin, a tal ponto de ter enviado uma cópia autografada e com dedicatória ao rei da Prussia Friedrich Wilhelm III: "in tiefster Ehrfurcht zugeeignet von Ludwig van Beethoven - 125tes Werk". No entanto levada por vários admiradores, tais como o conde Lichnowsky, Czerny, Diabelli, o Barão Schweiger, entre outros, a obra foi apresentada em Viena dia 7 de Maio de 1824, com grande receptividade e entusiasmo peIo público vienense, alcançando proporções extraordinárias. Foi a apoteose e a consagração do gênio. Segundo consta, a vibração era tão grande, que no segundo movimento – Scherzo - desencadearam-se fortes aplausos que inibiram a apresentação da orquestra a ponto de ter que interromper a execução, para retomar logo após. Beethoven, estava sentado ao lado do maestro Umlauf, de frente para a orquestra, no momento da explosão das palmas, Beethoven estava tão absorto na leitura da partitura, que não percebeu a interrupção do concerto, a ponto que o maestro Umlauf chamou a atenção de Beethoven para que pudesse perceber a manifestação pública. Ao terminar a obra, a mezzo soprano Ungher, que participava como solista, pegou o braço de Beethoven, voltando-o na direção da platéia, pelo menos para que pudesse contemplar a manifestação dos presentes, comovido agradeceu aos aplausos inclinando-se para a frente. Uma segunda apresentação em Viena foi programada, para o dia 23 de maio, no entanto sem grandes resultados, provavelmente por ter acontecido ao meio dia.
Foram as duas únicas apresentações em Viena e em vida do autor.Acredita-se que Beethoven teria solicitado autorização a Londres para essas apresentações.
A primeira apresentação em Londres, cuja Filarmônica havia encomendado a obra, somente foi ouvi-la a 21 de março de 1826, com relativo êxito.
A primeira publicação da sinfonia foi realizada por Schott em 1826.

A 9ª. Sinfonia está dividida nos seguintes movimentos:
I – Allegro ma non troppo, un poço maestoso
II – Molto Vivace
III – Adágio molto e cantabile
IV – Presto (final extraído do texto de Schiller “An die Freude”, para coral, e quarteto solistas).

Como é habitual no primeiro movimento das sinfonias, Beethoven também desenha sua obra na forma Sonata. É um movimento de extrema complexidade, aliada à sua extensão incomum, quando comparado com outras partituras da época.
Embora haja quatro movimentos bem claros, podemos dividir a sinfonia basicamente em dois grandes grupos, o primeiro - instrumental e o segundo - vocal , assim disposto:

I - INSTRUMENTAL
1. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
2. Scherzo, molto vivace: trio, presto
3. Adagio molto e cantabile
4. Recitativo, presto; allegro ma non troppo...
5. Allegro assai
II - VOCAL
1. Recitativo
2. Quarteto e coro: allegro assai
3. Solo de tenor e coro: allegro assai vivace; alla marcia
4. Coro: andante maestoso
5. Coro: allegro energico, sempre bem marcato...
6. Quarteto e coro: allegro ma non tanto
7. Coro: prestissimo

Fonte: http://repertoriosinfonico.blogspot.com.br/2007/05/beethoven-ludwig-van-sinfonia-no-9-em.html

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