TEATROS LÍRICOS - ARTE PARA POUCOS. ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 


  O texto de minha autoria publicado em Março de 2012 neste Blog fala do conceito intrínseco a ópera e balé serem "Uma Arte para Poucos". Anos depois vejo que o texto continua atual, a diferença é que o politicamente correto entrou em ação. A nova direção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro liderada por Milton Gonçalves revela que deseja popularizar a casa lírica carioca. O termo é vago e o nomeado parece não ter a capacitação necessária ao cargo sendo anunciado pelo próprio secretário de cultura como uma indicação política. 
   O teatro lírico é na sua essência um teatro de ópera e balé que pode em algum momento comportar outros tipos de eventos. Fica bonito um político falar para a população o termo popularizar, soa moderno e não acrescenta nada. Teatro lírico não é popular e sim lírico que será aproveitado por uma parte pequena da população. Se quer popularizar existem outras casas para isso, diversos equipamentos da secretaria da cultura podem ser utilizados para esse fim e não o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Pode-se discutir a necessidade do teatro para a cidade, mas nunca alterar sua essência.
       A ópera e o balé são a essência da casa carioca, estas são expressões artísticas apreciadas por minorias. Desde o nascimento dessas artes até os dias de hoje, uma parcela ínfima da população vai ao teatro e se dispõe a ficar algumas horas vendo uma ópera ou um grande balé. Sempre ouço dizer que essas formas de arte podem ser popularizadas, cair no gosto do povo, da massa e serem comentadas no dia-a-dia. Para os que o dizem, respondo que isso não ocorreu em 400 anos e não vai acontecer.
   Hoje temos o computador, o cinema, o DVD, a televisão e inúmeras outras formas de entreterimento. Modernas, ágeis e sempre se reinventando. Estamos na era da velocidade, tudo é muito rápido, dinâmico. As pessoas não conseguem ficar horas em um teatro depois de um dia de trabalho assistindo um Tristan und Isolde de Wagner. A  galera quer diversão fácil, mastigada e pronta para o consumo.
    Ópera e balé não fazem parte do currículo dos dias de hoje. Quando falo aos amigos que gosto de ópera , eles geralmente lembram o filme "Uma Linda Mulher". Famosa a cena que o bonitão leva a personagem principal para assistir La Traviata de Verdi e ela adora. A maioria das mulheres se interessa pelo glamour, pelo romantismo e pelo jantar, não pela ópera em si. 

   Em uma récita de estreia, no Teatro Alfa, de uma rara ópera de Carlos Gomes, havia inúmeras senhoras. Todas bem vestidas, pomposas com suas joias e vestidos de noite. Revistas de fofocas tiravam fotos  e o coquetel rolava solto. Homens com traje de gala. Após o primeiro intervalo todas sumiram, simplesmente desapareceram. Foram atrás de badalação e não de ópera. Ficaram aqueles que realmente gostam da grande arte.
   Países de "primeiro mundo" têm em sua população uma pequena minoria que gosta de ópera e balé. Essa pode ser maior que os países "em desenvolvimento" , mas não passa de uma minoria. A verdade é uma só: ópera e balé são artes para minorias, os fatos de 400 anos de história comprovam. Somos seres estranhos, gostamos da arte que associa canto, música, teatro, literatura, poesia, arquitetura e muitas outras mais. Mas, essa arte esta parada no tempo, onde a ação é lenta. O poder de renovar público fica restrito ao ambiente familiar, à sensibilidade artística que poucas pessoa têm e a diretores de ópera que conseguem modernizar o contexto, muitas vezes melhorando o enredo e outras estragando.
Ali Hassan Ayache    

Comentários

  1. As artes têm seus nichos de público, é natural. Mas a grande arte, patrimônio da humanidade, é foco de resistência à massificação e desumanização do homem, e porta sentido de universalidade que não pode ser negado ao conhecimento dos povos, particularmente os do Ocidente. Quanto da grandeza da Europa não está se perdendo à medida em que descuidam da cultura clássica para abraçar modismos superficiais e multiculturalismos suicidas?

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  2. Acredito que o problema seja a ausencia de um serio e continuo programa de formacao de plateia, como empreendemos no Municipal do Rio nos anos 80.faziamos 12, 15, 16 e ate 19 recitas de operas na mesma temporada e lotadas. Nosso apice foi a apresentacao da opera "Aida", de Verdi, completa com seus nove cenarios e 550 figurinos, de graca para um publico recorde ate hoje de meio milhao de pessoas. E durou quase quatro horas, com os intervalos. No mesmo horario, ao lado, o Maracana reuniu 665 mil pessoas para um jogo decisivo do campeonato carioca. A opera, supostamente elitista, gamhou de goleada do futebol, o mais popular esporte no Brasil. Falta Educacao. Nao se pode atrair um publico ou faze-lo gostar do que nao conhece, do que nao teve orientacao pata apreciar e amar.

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  3. Quanto um País pode decair culturalmente... À decadência da cultura se segue o declínio da moralidade pública e da própria economia. O esforço que houve na década de 80 (fiz parte da Orquestra do Municipal do Rio na época) poderia acontecer novamente. Mas não podemos depender da classe política; quem deve protagonizar e orientar as políticas culturais é a classe cultural.

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