"RISCO"- EXPLOSÃO DE CORES NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Após ser relegado a segundo plano na gestão anterior o Balé da Cidade de São Paulo volta ao palco do Theatro Municipal sob direção de Ismael Ivo com o espetáculo "Corpo Cidade" composto por uma coreografia inédita, "Risco" de Ismael Ivo e "Adastra" de Cayetano Soto, esta pertencente ao repertório da cia.
A discussão grafite X pichação acirrada na gestão do prefeito João Doria é o tema de "Risco". Raras vezes um tema coreográfico atinge um debate atual e visível no dia a dia. A linha tênue entre pichação que detona nossa visão e grafite tida como "arte" é deixada de lado em prol da estética. "Risco" retrata a vivacidade das cores e a energia pulsante da arte de rua vinda de uma grande metrópole. Visualmente impecável faz brilhar os olhos do espectador.
O morador de rua apresentado no começo, inspirado em Jean-Michel Basquiat (1960-1988) vê uma cidade que não existe: colorida, artística e inspiradora. Sabemos que a realidade mora na porta de fora do teatro e a "arte do grafite" dá lugar ao negro e frio tom das pichações. "Risco" deturpa a cidade ao não dialogar e questionar dois elementos: pichação X grafite. Ao final todos se banham em tintas coloridas, uma apoteose ao grafite e a bela arte.
Os bailarinos impõe força dinâmica e aceleram os passos no ritmo agitado da grande metrópole. A explosão de cores trás ao palco uma energia vibrante. Ao som da rápida e potente música de Gustav Holst, "Os Planetas": Marte, op. 32 e Otorino Respighi, "Festas Romanas" executadas de forma brilhante pela Orquestra Sinfônica Municipal regida com vibração intensa e grande força dramática por Luis Gustavo Petri. A utilização de vídeos com projeção de imagens é um recurso fartamente utilizado em diversas artes cênicas e aqui enriquece a ideia do coreografo.
A frieza gestual, personagens assexuados e o negro predominante dão o tom a "Adastra" de Cayetano Souto. A música gélida dialoga com passos distantes entre os bailarinos e transforma a atmosfera do palco em um ambiente individual e egocêntrico. A coreografia reflete o homem urbano na essência, a luz branca monocromática e a música pulsante maximizam essas sensações. A coreografia não é um primor de genialidade embora se case com o tema proposto de "Corpo Cidade".
O Balé da Cidade segue com coreografias modernas que discutem a metrópole e seus temas atuais. Espero que quando solicitado a dançar coreografias clássicas em óperas a serem apresentadas no teatro em que é residente consiga o mesmo nível de atuação.
Ali Hassan Ayache
Excelente texto. Infelizmente não pude acompanhar essa produção. A Cia em questão tem excelentes artistas. O espetáculo Titã do ano passado foi um dos pontos altos dá temporada. Mesmo com a execução bastante superficial da Sinfônica Municipal sob regência de Eduardo Strausser. O Balé dá Cidade de São Paulo moldou-se como uma Cia de dança contemporânea e esse é o forte deles. Acredito que se saiam bem no repertório clássico, mas nunca será o forte deles. Tenho minhas dúvidas com relação a espetáculos com música mesclada ou trechos de diferentes obras. No fim das contas vira uma salada de frutas que não quer dizer muita coisa não havendo diálogo entre música e dança. Espero que o teatro não se torne palco de obras descartáveis.
ResponderExcluirAiaiai só eu sonho com ballet clássico no Municipal? E com uma cia clássica permanente? Se temos ópera pq não ballet? e não apenas "dança moderna".
ResponderExcluir