CARMINA BURANA, OBRA-PRIMA DE CARL ORFF. ARTIGO DE EMANUEL MARTINEZ NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
A 10 de Julho de 1895, nascia Carl Orff em Munich, vindo a falecer em sua cidade natal a 29 de Março de 1982, com quase 87 anos.Hoje a sua música continua cada dia mais viva. Sua trajetória começou aos 5 anos, quando iniciou seus estudos de violoncelo e piano. Mas a sua marca somente começa a surgir após 1931, quando resolve colocar em prática uma idéia brilhante, que veio a se chamar "SCHULWERK", ou seja, o desenvolvimento de um método de educação musical, fundamentado no ritmo, na expressão corporal e na dança. Partindo desta concepção, Orff desenvolveu um instrumental específico, a fim de impulsionar o desenvolvimento musical dos alunos. Este método teve tanta repercussão, que hoje já se encontra traduzido em 14 idiomas, envolvendo a música de diversos países, transformando-o assim num método universal em todos os sentidos.
A partir de 1936, Orff dedica-se à composição das grandes obras, que o colocariam ainda mais acima, em seu próprio pedestal. Suas obras obtiveram enorme repercussão, chamando a atenção dos principais diretores, coreógrafos e maestros do mundo. Algumas obras tornaram-se mais conhecidas, como é o caso das óperas: "DIE KLUGE" (A Astuta), traduzida em 9 idiomas e "ANTIGONAE", das cantatas: "CATULLI CARMINA", "TRIUNFO Dl AFRODITE" e a mais popular de todas, "CARMINA BURANA". Estas três cantatas compõem um triplico teatral. Carmina Burana, foi a primeira e a mais popular de suas obras, composta entre 1935 e 1936, estrelando em Frankfurt a 8 de Junho de 1937, com absoluto sucesso. Reúne textos de diversas canções de "CARMINA BURANA", uma série de poemas profanos escritos por monges alemães, do monastério Bavariano, datados do XIII século, escritos em língua alemã, francês arcaico e latim.ORFF escreveu duas versões de "CARMINA BURANA", a principal e a preferida do autor, é escrita para grande orquestra, coro, solistas e coro de meninos, composta em 1936.
Para atender a grupos amadores e a cidades onde não haja uma orquestra, sem alteração das partes do coro e solistas, adaptou o acompanhamento para 2 pianos, tímpano e 5 percussionistas. Esta versão diminui um pouco o brilhantismo da obra, que fica por conta dos diversos timbres instrumentais da versão orquestral.Os solistas Soprano, especialmente o Tenor e o Barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo, a voz de Tenor solo, tem uma única aparição musical no "OLIM LACUS COLUERAM" (uma vez nadei no lago). Este canto fala sobre um cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de uma grande festa. Sua linha melódica extremamente aguda representa o sofrimento e a angustia deste cisne. Em diversas gravações e até em espetáculos a parte do tenor solo é substituída por um contra-tenor. Raros são os tenores que conseguem cantar estes poucos compassos utilizando a voz natural, necessitando utilizar o artifício do Falsete. São apenas seis compassos, em forma estrófica e em movimento lento, mas que exigem muita habilidade e energia do cantor.Os solos do barítono, não são diferentes tecnicamente.
Em "ESTUANS INTERIUS" (interiormente estremecido), "EGO SUM ABBAS" (sou o Abade) e no "DIES, NOX ET OMNIA", é exigido do intérprete grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível de conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e música.Gostaria de destacar algumas características da obra e vida de Carl Orff. Ele viveu numa época onde o sistema serial de Schoenberg, Alban Berg e outros, estava em moda, no entanto ele ignora este modismo, que se tornaria decadente mais tarde e desenvolve a sua própria personalidade musical. Sua obra enfoca modos antigos, utiliza ritmos ostinatos, sua orquestração é rica em efeitos sonoros sempre emoldurados pelos instrumentos de percussão. Sua originalidade e genialidade, repousam na coerência e equilíbrio estrutural, resultando numa grande vibração sonora e grande colorido. CARMINA BURANA é justamente a prova desta genialidade. Não sou eu quem diz, mas a popularidade que esta obra obteve.Sua obra consegue atingir ao grande público, aliás esta era a grande intenção de Orff. Ao elaborar suas estruturas musicais, tinha uma preocupação de criação, sua música deveria agir de forma psicológica, mágica e por que não dizer, até mística, sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia, que envolvem suas melodias. A estrutura musical é simples e com características populares. Este trabalho minucioso de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontística, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.
CARMINA BURANA, obra com a duração de mais ou menos uma hora é assim formada: O PRÓLOGO e o EPÍLOGO, re-tratam os poderes da Roda da fortuna, mostrando a volubilidade da sorte e as fraquezas do homem ante a fortuna. O núcleo divide-se em três partes distintas: a primeira parte descreve os encantos do despertar da natureza ante a aparição da Primavera; na segunda parte, chamada "NA TABERNA", são descritos os sentimentos baixos e frívolos do homem; e na terceira parte a tônica é o amor. No entanto esse amor é liberal, físico, ardente e espontâneo, mas no final, tornando-se culposo, indeciso e até frustrado.Carmina Burana é uma coletânea de 400 poemas profanos escritos por monges alemães, do monastério Bavariano, datados do XXIII século. Estes monges e seminaristas formaram uma confraria que era conhecida como Goliardos, dissidentes da igreja, faziam poemas contra a igreja da época, basicamente com motivos profanos, eróticos, ligados ao vinho, jogo e prazeres da mesa e da carne, além de críticas e sátiras aos costumes medievais. Embora houvesse muita pressão para exterminar esses poetas, conseguiram sobreviver até o século XV. Um dos últimos poetas Goliardos que se tem notícia, foi François Villon.Os textos eram escritos em alemão da Idade Média, francês meridional e latim. Orff escreveu duas versões, sendo que a preferida do autor é a versão orquestral. A outra versão foi dedicada a grupos amadores, adaptada para dois pianos e cinco percussionistas.Os solistas, especialmente o tenor e o barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo a voz de Tenor solo, tem uma única aparição no "0LIM LACUS COLUERAM" (uma vez nadei no lago); este canto fala sobre o cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de um grande banquete. Sua linha melódica, extremamente aguda, faz alusão ao sofrimento e à angústia deste cisne, como uma alusão ao povo. São apenas seis compassos de forma estrófica e em movimento lento, mas que exigem muita habilidade, energia e dramaticidade do cantor. Os solos do Barítono, não são diferentes tecnicamente.
Em "ESTUANS INTERIUS" (interiormente estremecido), "EGO SUM ABBAS" (sou um Abade) e no "DIES, NOX ET OMNIA" (o dia, a noite e tudo), exige do cantor grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e da música. A voz do Soprano traz aos nossos ouvidos graciosidade e sensualidade.Carmina Burana consegue envolver um grande público, e esta era a grande intenção de Orff. Ao elaborar as estruturas musicais, tinha como preocupação a criação de música que agisse de forma psicológica, por que não dizer até mística sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia que envolve as suas melodias. A estrutura musical é simples, com características populares. Este trabalho de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontística, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.
Apollon Musagete – Ano IV, pág 9 – Curitiba, dezembro 1991. Texto de Emanuel Martinez
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Carmina Burana – considerações sobre o pensamento da época.
Carmen, (latim) = poema, canção... Burana se liga a “Burel” (= hábito grosseiro de lã), metonímia que tanto pode significar monge pobre, quanto peregrino, estudante, vagabundo, sem eira nem beira.
Carmina Burana é uma coletânea de 400 poemas profanos encontrados numa abadia Alemã fundada pelos monges Agostinhos que em 1863 passou ao controle dos Beneditinos: o mosteiro BENEDIKTBEUREN. Manuscritos datados do século XII ou XIII, que foram guardados na biblioteca Nacional de Munich, é pela primeira vez publicado em 1847. Apresenta uma diversidade de canções sob o título de BURA SANCTI BENEDICTI, coleção esta que passou a ser conhecida por CARMINA BURANA.
Escritos num misto de latim, alemão medieval e francês antigo. Seus versos falam de amor, fome, contestação, virtudes, vícios humanos, referências políticas e sociais, dúvidas religiosas, (des) educação, bebedeiras, entre outros temas. Revela-se como interessante documento histórico, folclórico, lingüístico e literário. Seus versos são um hino à vida, ao prazer, ao amor à primavera, cenas obscenas e até mesmo de cunho imoral, sem que exista uma trama no sentido dramático.
Esses textos eram executados por seminaristas e monges que formavam uma confraria conhecida como Goliardos, dissidentes da igreja, e foram conhecidas como paródias a Cantos Litúrgicos, basicamente com motivos profanos, eróticos, ligados ao prazer do vinho, jogo e prazeres da mesa e da carne, além de críticas e sátiras aos costumes da época. A natureza anônima desses poemas deve-se ao fato de que os Goliardos erravam pelo mundo de então, na sua sublime missão de tudo ver e tudo criticar e a todos dizer...
Embora houvesse muita pressão para exterminar esses poetas, conseguiram sobreviver até o século XV. Um dos últimos Goliardos conhecidos foi François Villon.
Pode parecer estranho, é significativo, que a poesia dos Goliardos critique, muito antes que isso possa vir a se tornar um lugar na sociedade burguesa – o Decamerão, é um exemplo disso, todos os representantes da hierarquia da Alta Idade Média: o clero, a nobreza e mesmo o camponês, sem se incomodar em diferencá-los, seja o Papa, o bispo ou o monge, duque, marquês ou barão. Isso era possível porque os séculos XII e XIII apresentavam-se como um período de grandes transformações, consequentemente de indefinições de poder. É exatamente por essa época que começa a se esboçar uma literatura de sentido crítico agudo. Por vezes serviu-se do instrumento soberano da alegoria para ferir o adversário sem se expor à sua vingança, deixando margem às interpretações inofensivas. É rara a expressão direta como na poesia de Rutebeuf (c. 1280):
“Je ne sai par ou je comance
Tant ai de matiere abondance
Pour parler de ma provreté”
Como todos os mendigos medievais, Rutebeuf invoca a Virgem e todos os santos, pedindo esmola. Mas a sua religiosidade é muito pessoal, não gosta dos monges que fazem concorrência desleal após mendigos, nem dos clérigos em geral, porque te, prebendas, enquanto o poeta não as tem. E foi, no entanto, ele um clérigo, que conheceu por dentro a universidade. Agora, tem de cantar nas tavernas e nas esquinas para ganhar a vida penosa. É o primeiro Goliardo em língua francesa; está portanto na oposição. Mas a oposição dos Goliardos é relativa: faz parte da estrutura do cosmo medieval. Ele pode falar à vontade, porque não tem nada a perder.
Ao fim da Idade Média, a Cavalaria havia influído de maneira determinante na literatura, principalmente na atitude do namorado em face à mulher amada: era um servidor, estava a seu serviço, ligado a ela, como um vassalo se liga ao suserano, pronto para todos os sacrifícios. Colocava-se a mulher em um plano muito alto, muito acima do homem, como ideal jamais atingível. Consistia tal amor numa veneração, num culto à beleza, sem que aparecesse uma nota sensual, de volúpia carnal, de ânsia de sexo insatisfeito. Já conta o poeta com desdém da amada, confessando-se seu escravo, levando a sua “mesura” ao ponto de nunca nomear a “fremosa”. Era este um dos preceitos do amor platônico, e quando o trovador se atreve a dar os nomes das mulheres, há verdadeiro escândalo. Também as viuvas não podiam ser objeto de amor, e as freiras entravam neste rol.
Mais tarde, com o desenvolvimento comercial, o surgimento da burguesia, o debilitamento da nobreza senhorial, o poeta satiriza, ridiculariza, ataca de modo vago sem dizer claramente contra o que está falando: é a sátira em tese. Nesse caso, além do aumento da virulência das críticas, ataca o poeta diretamente o fidalgo, a freira, a abadessa, o cavaleiro, e muito comumente, os próprios colegas de ofício literário. Os fatos políticos entram no rol dos assuntos, trazendo nos versos os ecos da opinião pública em face das tramas dos reis e governantes. A fidalguia empobrecida e avarenta, o clero completamente desmoralizado, a mesma joglaria em decadência merecem as sátiras mais cruas. O vocabulário é do povo, aí naturalmente, compreendidas palavras de calão, não havendo escrúpulos em seu uso.
Nessas poesias ousa-se criticar a religião, indo do mais humilde frate ao Santo Papa. Zomba-se das romarias, dos milagres, antevendo-se o que mais tarde será a bandeira de guerra de Lutero, como a questão das indulgências, dos favores espirituais conseguidos com dinheiro – a simonia.
Mas quem são esses Goliardos? A essência de suas vidas, as lendas geradas em torno de suas participações, criadas, forjadas por seus admiradores e detratores, ou mesmo por aqueles que ao lado deles participavam dessa nova maneira de viver, de encarar a vida e tentar amenizar as desgraças oriundas de um período de grandes transformações, de desagregação social, estão no cantar e no protestar irreverentemente. Se olhados por seus contemporâneos como vagabundos, bobos, charlatães, lascivos, irreverentes, a cada momento, de um modo diferente: ora sensibilizando – é preciso aceitar porque são jovens e um tanto irresponsáveis – ora atemorizando; são agitadores, capazes mesmo de liderar um movimento anti feudal.
É um erro achar que o pensamento cristão medieval repeliu sempre a beleza e os gozos do mundo de um modo tão incondicional como geralmente é aceito. A vida terrena ocuparia de mil maneiras distintas um lugar legítimo na vida das pessoas devotas.
Entretanto, os temas de suas poesias agridem de maneira áspera a sociedade. O jogo, o vinho, o amor: aí está, antes de mais nada, a trilogia de seus poemas e músicas:
“A beleza das moças feriu meu peito
As que não posso tocar, possuo-as em pensamento.
Criticam-me depois o jogo. Mas enquanto o jogo
Me deixou nu e o corpo frio, o espírito aquece.
É então que minha musa compõe suas melhores canções.
Quero morrer na taberna,
Ali, onde os vinhos estarão próximos da boca do moribundo,
E os coros dos anjos descerão cantando:
A este bom beberrão seja Deus clemente”.
É essa sociedade a contestada pelos Goliardos, uma vez que a fraqueza intelectual da nobreza, ainda ligada à carreira das armas, se opõe à orientação dos senhores eclesiásticos, raramente grandes guerreiros, mas que cultivam o conhecimento e o talento de administradores e que escolhem um novo caminho: a universidade.
Assim é que clérigos, mas pobres, sem residência fixa, sem nenhuma renda eclesiástica, nenhum benefício, seguem a cada dia um novo mestre, desde que esse se aproxime mais da realização, de seus desejos, tais como as ovelhas que seguem balindo aquela que está à frente, a líder do momento, na certeza do valor da missão.
Não menos verdade, é o fato de que muitos desses críticos assim agem, na esperança de encontrarem protetores e de serem agraciados ou beneficiados por uma prebenda, ou de virem a se tornar novos senhores.
A origem do termo Goliardo é de origem indefinita, mas pode ter vindo do termo bíblico associado ao gigante Golias, encarnação do Diabo, inimigo de Deus, ou de Gula, a garganta, para que seus discípulos possam ser glutões e fanfarrões, e na impossibilidade de identificar um Golias, fundador da Ordem dos Goliardos, existem poucos pormenores biográficos de alguns deles, algumas poesias assinadas por eles, individualmente ou coletivamente, como as de CARMINA BURANA.
Carmina Burana – a obra
A estréia mundial deu-se a 8 de junho e 1937 em Frankfurt na Alemanha. Certamente sem ter sido planejado com antecedência, surgiu com muita estrutura a obra cênica do compositor da Bavária, que a desenvolveu sob os aspectos de quatro grupos, se ordenando em : lírico, dramátio, tragédia e divertimento espiritual.
Orff escreveu duas versões, sendo a preferida do autor a versão orquestral. A outra versão foi dedicada a grupos amadores, adaptada para dois pianos e cinco percussionistas.
No tripticom teatral de “Trionfi” – constituído por Catulli Carmina, Carmina Burana e Trionfo de Afrodite - lírico no canto e na dança, o mundo do amor ascende do virtual pata o culto existencial, na trilogia das peças populares a Lua, a Inteligência, a mulher de Bernau e a obra satírica Astutuli, e no dramático nós encontramos variados gêneros de execução como conto de fadas, história e o cômico religioso! A trilogia de Orff conclui-se conforme a Antigonae de Sófocles, o Édipo de Hölderin e a composição do Prometeu de Aiscylos em idioma grego.
Nas execuções religiosas nós encontramos a encenação da Páscoa “Comoedia de Christi resurrectione” onde se apresenta a história da paixão do Senhor para a compreensão de almas simples, retratando superastúcias do diabo “bobo”.
Na peça latina “Ludus de nato infante mirificus”, o domínio dos poderes maus do inverno e o despertar da primavera, revelam o nascimento do filho de Deus para o grande “Teatro do Universo”, que é uma apresentação apocalíptica envolvente do final dos tempos e do destino da humanidade.
CARMINA BURANA é formado basicamente por:
O Prólogo e Epílogo, retratam os poderes da Roda da Fortuna, mostrando a volubilidade da sorte e as fraquezas do homem ante a fortuna. O núcleo divide-se em três partes distintas: a primeira descreve os encantamentos do despertar da natureza ante a aparição da Primavera; na segunda parte, chamada de Taberna, são descritos os sentimentos baixos e frívolos do homem; e a terceira parte a tônica é o amor. Esse amor pode ser liberal, físico, ardente e espontâneo, mas no final, torna-se culposo, indeciso e até frustrante.
Os solistas, especialmente o tenor e o barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo, a voz do tenor solo, tem uma única aparição no “Olim lacus colueram” (uma vez nadei no lago); este canto fala sobre um cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de um grande banquete. Sua linha melódica, extremamente aguda, faz alusão ao sofrimento a à angústia deste cisne, como uma alusão ao povo. São apenas seis compassos de forma estrófica e em movimento lento, mas que exige muita habilidade, energia e dramaticidade do cantor.
Os solos do barítono, não são diferentes tecnicamente da aparição do tenor solo. Em “Estuans interius”(interiormente estremecido), “Ego sum Abbas” (sou um Abade) e no “Dies, nox et omnia” (o dia, a noite e tudo), exige do cantor grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e da música. A vo do soprano solo, traz aos nossos ouvidos graciosidade e sensualidade.
Carmina Burana, consegue envolver um grande público, e esta era a grande intenção de Carl Orff. Ao elaborar as estruturas musicais, tinha como preocupação a criação de música que agisse de forma psicológica, por que não dizer até mística sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia que envolve as suas melodias. A estrutura musical é simples, com características populares. Este trabalho de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontísticas, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.
Carmen, (latim) = poema, canção... Burana se liga a “Burel” (= hábito grosseiro de lã), metonímia que tanto pode significar monge pobre, quanto peregrino, estudante, vagabundo, sem eira nem beira.
Carmina Burana é uma coletânea de 400 poemas profanos encontrados numa abadia Alemã fundada pelos monges Agostinhos que em 1863 passou ao controle dos Beneditinos: o mosteiro BENEDIKTBEUREN. Manuscritos datados do século XII ou XIII, que foram guardados na biblioteca Nacional de Munich, é pela primeira vez publicado em 1847. Apresenta uma diversidade de canções sob o título de BURA SANCTI BENEDICTI, coleção esta que passou a ser conhecida por CARMINA BURANA.
Escritos num misto de latim, alemão medieval e francês antigo. Seus versos falam de amor, fome, contestação, virtudes, vícios humanos, referências políticas e sociais, dúvidas religiosas, (des) educação, bebedeiras, entre outros temas. Revela-se como interessante documento histórico, folclórico, lingüístico e literário. Seus versos são um hino à vida, ao prazer, ao amor à primavera, cenas obscenas e até mesmo de cunho imoral, sem que exista uma trama no sentido dramático.
Esses textos eram executados por seminaristas e monges que formavam uma confraria conhecida como Goliardos, dissidentes da igreja, e foram conhecidas como paródias a Cantos Litúrgicos, basicamente com motivos profanos, eróticos, ligados ao prazer do vinho, jogo e prazeres da mesa e da carne, além de críticas e sátiras aos costumes da época. A natureza anônima desses poemas deve-se ao fato de que os Goliardos erravam pelo mundo de então, na sua sublime missão de tudo ver e tudo criticar e a todos dizer...
Embora houvesse muita pressão para exterminar esses poetas, conseguiram sobreviver até o século XV. Um dos últimos Goliardos conhecidos foi François Villon.
Pode parecer estranho, é significativo, que a poesia dos Goliardos critique, muito antes que isso possa vir a se tornar um lugar na sociedade burguesa – o Decamerão, é um exemplo disso, todos os representantes da hierarquia da Alta Idade Média: o clero, a nobreza e mesmo o camponês, sem se incomodar em diferencá-los, seja o Papa, o bispo ou o monge, duque, marquês ou barão. Isso era possível porque os séculos XII e XIII apresentavam-se como um período de grandes transformações, consequentemente de indefinições de poder. É exatamente por essa época que começa a se esboçar uma literatura de sentido crítico agudo. Por vezes serviu-se do instrumento soberano da alegoria para ferir o adversário sem se expor à sua vingança, deixando margem às interpretações inofensivas. É rara a expressão direta como na poesia de Rutebeuf (c. 1280):
“Je ne sai par ou je comance
Tant ai de matiere abondance
Pour parler de ma provreté”
Como todos os mendigos medievais, Rutebeuf invoca a Virgem e todos os santos, pedindo esmola. Mas a sua religiosidade é muito pessoal, não gosta dos monges que fazem concorrência desleal após mendigos, nem dos clérigos em geral, porque te, prebendas, enquanto o poeta não as tem. E foi, no entanto, ele um clérigo, que conheceu por dentro a universidade. Agora, tem de cantar nas tavernas e nas esquinas para ganhar a vida penosa. É o primeiro Goliardo em língua francesa; está portanto na oposição. Mas a oposição dos Goliardos é relativa: faz parte da estrutura do cosmo medieval. Ele pode falar à vontade, porque não tem nada a perder.
Ao fim da Idade Média, a Cavalaria havia influído de maneira determinante na literatura, principalmente na atitude do namorado em face à mulher amada: era um servidor, estava a seu serviço, ligado a ela, como um vassalo se liga ao suserano, pronto para todos os sacrifícios. Colocava-se a mulher em um plano muito alto, muito acima do homem, como ideal jamais atingível. Consistia tal amor numa veneração, num culto à beleza, sem que aparecesse uma nota sensual, de volúpia carnal, de ânsia de sexo insatisfeito. Já conta o poeta com desdém da amada, confessando-se seu escravo, levando a sua “mesura” ao ponto de nunca nomear a “fremosa”. Era este um dos preceitos do amor platônico, e quando o trovador se atreve a dar os nomes das mulheres, há verdadeiro escândalo. Também as viuvas não podiam ser objeto de amor, e as freiras entravam neste rol.
Mais tarde, com o desenvolvimento comercial, o surgimento da burguesia, o debilitamento da nobreza senhorial, o poeta satiriza, ridiculariza, ataca de modo vago sem dizer claramente contra o que está falando: é a sátira em tese. Nesse caso, além do aumento da virulência das críticas, ataca o poeta diretamente o fidalgo, a freira, a abadessa, o cavaleiro, e muito comumente, os próprios colegas de ofício literário. Os fatos políticos entram no rol dos assuntos, trazendo nos versos os ecos da opinião pública em face das tramas dos reis e governantes. A fidalguia empobrecida e avarenta, o clero completamente desmoralizado, a mesma joglaria em decadência merecem as sátiras mais cruas. O vocabulário é do povo, aí naturalmente, compreendidas palavras de calão, não havendo escrúpulos em seu uso.
Nessas poesias ousa-se criticar a religião, indo do mais humilde frate ao Santo Papa. Zomba-se das romarias, dos milagres, antevendo-se o que mais tarde será a bandeira de guerra de Lutero, como a questão das indulgências, dos favores espirituais conseguidos com dinheiro – a simonia.
Mas quem são esses Goliardos? A essência de suas vidas, as lendas geradas em torno de suas participações, criadas, forjadas por seus admiradores e detratores, ou mesmo por aqueles que ao lado deles participavam dessa nova maneira de viver, de encarar a vida e tentar amenizar as desgraças oriundas de um período de grandes transformações, de desagregação social, estão no cantar e no protestar irreverentemente. Se olhados por seus contemporâneos como vagabundos, bobos, charlatães, lascivos, irreverentes, a cada momento, de um modo diferente: ora sensibilizando – é preciso aceitar porque são jovens e um tanto irresponsáveis – ora atemorizando; são agitadores, capazes mesmo de liderar um movimento anti feudal.
É um erro achar que o pensamento cristão medieval repeliu sempre a beleza e os gozos do mundo de um modo tão incondicional como geralmente é aceito. A vida terrena ocuparia de mil maneiras distintas um lugar legítimo na vida das pessoas devotas.
Entretanto, os temas de suas poesias agridem de maneira áspera a sociedade. O jogo, o vinho, o amor: aí está, antes de mais nada, a trilogia de seus poemas e músicas:
“A beleza das moças feriu meu peito
As que não posso tocar, possuo-as em pensamento.
Criticam-me depois o jogo. Mas enquanto o jogo
Me deixou nu e o corpo frio, o espírito aquece.
É então que minha musa compõe suas melhores canções.
Quero morrer na taberna,
Ali, onde os vinhos estarão próximos da boca do moribundo,
E os coros dos anjos descerão cantando:
A este bom beberrão seja Deus clemente”.
É essa sociedade a contestada pelos Goliardos, uma vez que a fraqueza intelectual da nobreza, ainda ligada à carreira das armas, se opõe à orientação dos senhores eclesiásticos, raramente grandes guerreiros, mas que cultivam o conhecimento e o talento de administradores e que escolhem um novo caminho: a universidade.
Assim é que clérigos, mas pobres, sem residência fixa, sem nenhuma renda eclesiástica, nenhum benefício, seguem a cada dia um novo mestre, desde que esse se aproxime mais da realização, de seus desejos, tais como as ovelhas que seguem balindo aquela que está à frente, a líder do momento, na certeza do valor da missão.
Não menos verdade, é o fato de que muitos desses críticos assim agem, na esperança de encontrarem protetores e de serem agraciados ou beneficiados por uma prebenda, ou de virem a se tornar novos senhores.
A origem do termo Goliardo é de origem indefinita, mas pode ter vindo do termo bíblico associado ao gigante Golias, encarnação do Diabo, inimigo de Deus, ou de Gula, a garganta, para que seus discípulos possam ser glutões e fanfarrões, e na impossibilidade de identificar um Golias, fundador da Ordem dos Goliardos, existem poucos pormenores biográficos de alguns deles, algumas poesias assinadas por eles, individualmente ou coletivamente, como as de CARMINA BURANA.
Carmina Burana – a obra
A estréia mundial deu-se a 8 de junho e 1937 em Frankfurt na Alemanha. Certamente sem ter sido planejado com antecedência, surgiu com muita estrutura a obra cênica do compositor da Bavária, que a desenvolveu sob os aspectos de quatro grupos, se ordenando em : lírico, dramátio, tragédia e divertimento espiritual.
Orff escreveu duas versões, sendo a preferida do autor a versão orquestral. A outra versão foi dedicada a grupos amadores, adaptada para dois pianos e cinco percussionistas.
No tripticom teatral de “Trionfi” – constituído por Catulli Carmina, Carmina Burana e Trionfo de Afrodite - lírico no canto e na dança, o mundo do amor ascende do virtual pata o culto existencial, na trilogia das peças populares a Lua, a Inteligência, a mulher de Bernau e a obra satírica Astutuli, e no dramático nós encontramos variados gêneros de execução como conto de fadas, história e o cômico religioso! A trilogia de Orff conclui-se conforme a Antigonae de Sófocles, o Édipo de Hölderin e a composição do Prometeu de Aiscylos em idioma grego.
Nas execuções religiosas nós encontramos a encenação da Páscoa “Comoedia de Christi resurrectione” onde se apresenta a história da paixão do Senhor para a compreensão de almas simples, retratando superastúcias do diabo “bobo”.
Na peça latina “Ludus de nato infante mirificus”, o domínio dos poderes maus do inverno e o despertar da primavera, revelam o nascimento do filho de Deus para o grande “Teatro do Universo”, que é uma apresentação apocalíptica envolvente do final dos tempos e do destino da humanidade.
CARMINA BURANA é formado basicamente por:
O Prólogo e Epílogo, retratam os poderes da Roda da Fortuna, mostrando a volubilidade da sorte e as fraquezas do homem ante a fortuna. O núcleo divide-se em três partes distintas: a primeira descreve os encantamentos do despertar da natureza ante a aparição da Primavera; na segunda parte, chamada de Taberna, são descritos os sentimentos baixos e frívolos do homem; e a terceira parte a tônica é o amor. Esse amor pode ser liberal, físico, ardente e espontâneo, mas no final, torna-se culposo, indeciso e até frustrante.
Os solistas, especialmente o tenor e o barítono, devem conjugar virtuosismo, leveza e ao mesmo tempo dramaticidade. Por exemplo, a voz do tenor solo, tem uma única aparição no “Olim lacus colueram” (uma vez nadei no lago); este canto fala sobre um cisne que está sendo preparado e assado, para que seja devorado por convivas de um grande banquete. Sua linha melódica, extremamente aguda, faz alusão ao sofrimento a à angústia deste cisne, como uma alusão ao povo. São apenas seis compassos de forma estrófica e em movimento lento, mas que exige muita habilidade, energia e dramaticidade do cantor.
Os solos do barítono, não são diferentes tecnicamente da aparição do tenor solo. Em “Estuans interius”(interiormente estremecido), “Ego sum Abbas” (sou um Abade) e no “Dies, nox et omnia” (o dia, a noite e tudo), exige do cantor grande virtuosidade e dramaticidade, o que por vezes parece impossível conciliar. Estas canções fazem estremecer seus intérpretes, tanto pelas dificuldades técnicas, como pela beleza do texto e da música. A vo do soprano solo, traz aos nossos ouvidos graciosidade e sensualidade.
Carmina Burana, consegue envolver um grande público, e esta era a grande intenção de Carl Orff. Ao elaborar as estruturas musicais, tinha como preocupação a criação de música que agisse de forma psicológica, por que não dizer até mística sobre o público. Sua ação primordial vem do ritmo e não da harmonia que envolve as suas melodias. A estrutura musical é simples, com características populares. Este trabalho de elaboração rítmica, harmônica, melódica, contrapontísticas, dão à sua música um sentido estético equilibrado, envolvente, como reflexo de sua própria personalidade e pureza.
Emanuel Martinez
Fonte: http://repertoriosinfonico.blogspot.com.br/
Excelente artigo.
ResponderExcluirGostaria de saber quando sugiu a primeira gravação da obra.
Obrigada