LIL BUCK E CIE ZAHRBAT: PARTITURAS CORPORAIS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
O diálogo entre o corpo e o espaço no uso potencial de toda a sua energia física e emotiva voltada para um performance do espontâneo e do improviso.
Estas são as marcas inventivas e investigativas que estruturaram , com um vocabulário singularizado e uma pulsão de protesto, o movimento coreográfico/musical das danças urbanas .
Tendo surgido em meio à agitação das ruas, muitas vezes com o exibicionismo de seus praticantes atuando como artistas anônimos, a partir de vigorosas variações da fisicalidade ,na expressão de seus anseios cotidianos e alertas político/sociais.
Acabou ,ainda, adquirindo sua linguagem própria, não só através de seu gestual inovador e suas viscerais ligações com os ritmos da black music, mas, especialmente, pelo seu incisivo extravasamento nas manifestações da cultura pop.
Assim , estabeleceu um conceitual que vai do esteticismo gráfico e plástico do grafite e do muralismo urbano à imposição de um estilismo indumentário. O que facilitou de vez seu caráter inclusivo como um aporte no enunciado das artes cênicas.
São inúmeras hoje as companhias coreográficas especializadas no que se convencionou denominar, diante da amplitude de seus gêneros e características, de danças urbanas. O que por sua vez possibilita permanentes temporadas e inúmeros festivais como a Rio H2K , já em sua sétima edição.
O dançarino Lil Buck, instantaneamente midiático com sua versão “jookin”(originária de suas incursões ao ar livre citadino de Memphis) de um clássico de Fokine , 1907, A Morte do Cisne, para o You Tube, com a participação valiosa do violoncelista Yo Yo Ma na fiel transcrição do tema de Saint-Saëns.
E na sua interpretação carioca, por um cellista ao vivo(sem virtuosismo algum e apenas correto),compensado por Lil que impressiona por fazer um mix hip hop/inventivo do formato balético original , no traçado radicalizado dos flutuantes braços e das dobraduras e inclinações originais da Pavlova.
Com um sotaque atlético contorcionista , num mergulho mecânico/cinético, de um corpo/móbile quase sem estrutura óssea, mas nunca perdendo o melancólico acento da efemeridade do ser ave ou artista em processo de decomposição.
Quanto à conceituada Cie Zahrbat, comandada pelo coreógrafo/bailarino Brahim Bouchelaghem, reune, em Sillons, outros cinco bailarinos( Fouad Atzouza,Alhouseyni N'Diaye,Jules Leduc,Takeo Ishi,Sacha Vangrevelynghe) de origens étnicas e tendências artísticas diversas, em solos, duos , trios e conjuntos, sem perder nunca o sincronismo de uma ideia coreográfica coletiva.
Tais como os fios de cores diversas que fazem a composição de uma tapeçaria ou delineiam os elementos grafíticos muralistas( sutilmente sugeridos em sua minimalista concepção cenográfica).
Tais como os fios de cores diversas que fazem a composição de uma tapeçaria ou delineiam os elementos grafíticos muralistas( sutilmente sugeridos em sua minimalista concepção cenográfica).
Sempre na arquitetura de um espaço de coesa visibilidade, entre imagens vivas da descontração de formas físicas quebradas, antigravitacionais ou robóticas, horizontalizadas ou verticalizadas , gráficas ou magnéticas emperpetual motion.
No alcance de uma action painting de abstratos quadros rítmicos/musculares , solarizados ou sombreados por um incisivo desenho de luz e uma obsessiva trilha eletro , de ressonâncias percussivas (Nicolas de Zorzi).
Conquistando, enfim, além e a parte de seus urbanismos, com seu empenho e avanços, um lugar especial de criação no universo, até então fechado, da dança contemporânea.
Wagner Corrêa de Araújo
FESTIVAL RIO H2K 17 DE DANÇAS URBANAS prossegue com diversas performances, espetáculos e seminários na Cidade das Artes/Barra/RJ , em horário diversos, até o dia 18 de Junho.
Maravilha, Wagner, a sua visão. Penso até ir na Cidade das Artes. Se tiver sorte, irei até lá!
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