"A DANAÇÃO DE FAUSTO" EM MODESTA EXECUÇÃO NO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

Foto: elenco e regente de "A Danação de Fausto": Ana Lúcia Benedetti, Saulo Javan, Roberto Minczuk, Paulo Mandarino e Leonardo Neiva. Fonte: Facebook de Ana Lucia Benedetti. 
      
  Muitas foram as inspirações na criação literária de Goethe. "A Danação de Fausto", pode-se deduzir que ela não se baseia na ideia do Fausto de Goethe, já que este encerra-se com a salvação de Fausto. Charles Gounod (1818-1893), também a musicou com melodias atraentes, brilhantes e de grande impacto  (em 1859, Paris); e Arrigo Boito (1842-1918), assinou libreto e música de Mefistófeles, em 1868, no Alla Scala de Milão, com enorme sucesso. A obra criada por Hector Berlioz em 1845/46, estreou em 1847 com sucesso em São Petersburgo, antes em 1846/12/06; na Opera-Comique, em Paris. 
           A escolha desta obra em vinte números em alternância de coro, com solistas e grande orquestra, talvez não seja a mais apropriada para a ópera em concerto, pela dificuldade da leitura aos espectadores, uma vez que não é nada popular e pouco atraente, salvo em alguns momentos sinfônicos, corais ou de solistas. Essa escolha denotou um público mediano no quantitativo e os aplausos foram apenas de cortesia.
            O maestro Roberto Minczuk realizou uma leitura apenas modesta, com metais desencontrados nos bastidores, no quarto quadro; contudo  merecendo elogios algumas passagens sinfônicas: marcha húngara, cheia de ostinatos e baseada mesmo na melodia nacional magiar, Marcha de Rácokzy, o ballet de Sylphes e o Minueto do Fogo-Fátuo. Oscilando entre a ópera e a cantata, porém na França, ela é encenada, dando-se especial relevo à parte coreográfica, musicada com bonitas páginas sinfônicas. Na Europa, é comum a versão em concerto. 
             O cheiro do enxofre de Mephisto atrai Berlioz  em sua composição e ali ele desafia o tenor para uma verdadeira exibição vocal. Paulo Mandarino (Fausto) leu a parte que lhe coube de maneira correta, com bom alcance nos agudos e no registro central, mas falta-lhe o caráter real do personagem de Goethe. O Mephistofeles malévolo do célebre literário, na voz de Leonardo Neiva projetou-se satisfatoriamente, na voz de barítono do jovem intérprete enquanto a invocação de Mefistofeles é seguida do minueto do fogo-fátuo; a serenata "Devant la maison", peça burilada e repleta de primitiva zombaria, lançou-a apenas regularmente. Na cena da cavalgada para o abismo deixou a desejar ao lado de Mandarino. 
               A Margarita dócil e cor-de-rosa  de Ana Lucia Benedetti, meio-soprano de reais possibilidades do atual cenário lírico nacional, deu-nos uma versão muito bonita de sua ária, enquanto arruma suas tranças, (canção do Rei de Thule) precedida por um belo solo de corne-inglês. Um dos melhores momentos do concerto, a ária "D'amour l'ardente flamme",  na voz quente de bela timbrística e de fraseado convincente e elegante da intérprete. Saulo Javan (baixo) foi responsável pelo Brander que entoou um vibrante Requiescat in pace, Amen. Outro bom momento da ópera francesa, quando se juntou às vozes masculinas do coro lírico em uma de suas melhores atuações do corrente ano. 
                O coro celestial e a glorificação de Margarida obteve boa interpretação do Coral Infantil da Escola Municipal de Música, dispostos no Balcão Nobre do Teatro Municipal,  junto ao Coral Lírico Municipal, no palco, responsável também por bons momentos de sonorização ao evento. 


Escrito por Marco Antonio Seta em 03 de julho de 2017.
* Marco Antonio Seta é paulistano, diplomado em Jornalismo, Música  e Artes Visuais. Diplomado no Conservatório Dramático e Musical "Carlos de Campos" em (Piano) em Tatuí, Estado de São Paulo. 

Comentários

  1. O Prof Marco Antonio Setta é um exímio conhecedor e crítico competentíssimo. É visível seu profundo saber e sensibilidade artístico-musical!!!!! Parabéns Mestre !!! Grandes contribuições para o aprimoramento de grandes espetáculos.

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