LA CALLAS E UMA ENCRENCA NO RIO DE JANEIRO EM 1951. ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   


   Infelizmente, a grande Callas nos deixou uma infinidade de gravações em áudio e nenhuma ópera completa em vídeo. Conheço diversas pessoas que a assistiram em São Paulo e no Rio de Janeiro em 1951. Todas garantem que o soprano grego tinha uma voz única e um talento dramático inigualável.      Entregava-se ao personagem completamente, dava tudo de si e foi uma das precursoras em trazer as artes cênicas à ópera. Em vídeo,  temos "La Callas-Toujours": trazendo  na primeira parte um concerto com peças de Bellini (Norma), Verdi  (Il Trovatore) e  Rossini  (Il Barbiere de Siviglia). Sua voz e seu talento dramático já transparecem no concerto, saindo de um sério Trovatore para um cômico Rossini. Callas não se limita a ficar parada e cantar: mesmo em um concerto,  ela interpreta.  Muitas cantoras até hoje não aprenderam a lição, ficam que nem um poste.
   O melhor é a segunda parte do programa, todo o segundo ato da Tosca de Puccini, em versão completa, com cenários e figurinos. Quem a acompanha é o grande Tito Gobbi, um dos grandes barítonos da metade do século XX. Voz de massa grave, enorme e uma performance excepcional. 
   Tosca e Callas tem tudo em comum. Foram feitas uma para a outra. Sua voz escura, volumosa e de timbre indefinível é perfeita para a heroína de Puccini. Sua atuação é outro fator que transforma Callas em Callas. Hoje é obrigação cantor saber atuar, mas no distante ano de 1958 era raridade. Callas foi uma das pioneiras em trazer o teatro à ópera. 
   O gênio dela se manifestava no palco e na vida atribulada. Arrumou umas 300 encrencas pelo mundo afora. Uma  delas foi no Rio de Janeiro, onde dizem ter atirado e acertado um cinzeiro no diretor do Teatro Municipal da época, Barreto Pinto. O amigão, com toda a pompa e circunstância,  tentou uma cantada e se deu mal, nem imaginava com quem estava mexendo.
   Meu amigo Edson Lima, um dos maiores conhecedores de ópera do Brasil e presente no teatro na época,  teve a  oportunidade, nos anos 70, de conversar com Callas.  Ela jurou de pé junto que nem sequer ameaçou o dito cujo.Lenda ou realidade, não sei mas,  em se tratando de Callas,  tudo é possível.
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. Segundo Meneghini, marido da cantora, no livro de memórias "Mia moglie", a Callas apanhou um cinzeiro e ameaçou atirá-lo no Barreto Pinto, diretor do TMRJ, que havia cancelado uma récita de uma das três óperas (não me lembro se Tosca ou Traviata) que ela cantou naquele teatro, passando-a para Renata Tebaldi. O marido, em tempo, impediu o ato.

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