NABUCCO COM VOZES MUITO DISTANTES DE VERDI NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA COM EXCLUSIVIDADE PARA O BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Foram precisos 48 anos para Nabucco, de Giuseppe Verdi (1813-1901) voltar à cena no Theatro Municipal de São Paulo em 22/9/2017; a última foi em 1969 em nosso Municipal. Na ocasião, vieram do Teatro San Carlo di Napoli os solistas da época e que figuravam nos carteloni da Europa e EUA. Cantaram-na Giangiacomo Guelfi, Luisa Maragliano, Carlo Cava, Pier Miranda Ferraro, Delia Lago, Mario Rinaudo, Franco Ricciardi e Marisa Zott, sob a batuta de Oliviero de Fabritis e direção cênica de Carlo Maestrini (12 e 14 de setembro de 1969).
Brilharam nos maiores teatros espalhados pelo mundo afora Tito Gobbi, Giangiacomo Guelfi, Piero Cappuccilli, Leo Nucci, Renato Bruson, Juan Pons, Jonathan Summers, Fernando Teixeira (Brasil); com Adelaida Negri, Elena Souliotis, Elizabeth Connell, Ghena Dimitrova, Susan Neves, Maria Guleghina, Maria Abajan e a brasileira Áurea Gomes, que abraçou Abigaile como nenhuma outra cantora patrícia nestas últimas quatro décadas.
A proposta de encenar "Nabucco" é louvável por parte de Cleber Papa que faz a leitura destacando as diferenças individuais, a aceitação do outro, o tema da violência, super atual da sociedade, entre eles os desgarrados urbanos, permitindo uma conexão estabelecida com a ópera de Verdi. Nesse particular, Papa constrói um Nabucco enlouquecido quase selvagem e uma Abigaile sarcástica, irônica e debochada. A interpretação desta devassada Abigaile de Marly Montoni; ficou bastante aquém, cujos méritos não tem condições de corresponder com o que se espera dessa que é uma das duas maiores criações dramáticas de heroínas verdianas. Volume, legatos, apogiaturas, ornamentos e principalmente o registro de uma dramático de coloratura indispensável para uma personagem vil e guerreira; faltam-lhe técnica e musicalmente.
O barítono Rodolfo Giugliani realiza um Nabucco da mesma forma de um Rigoletto, Amonasro, Falstaff, Iberê, Colombo, Gonzalez, Giorgio Germont, Marcello, Lord Enrico, Lescaut ou Scharpless. Cada um tem uma personalidade, vive numa época e estilo. E suas semitonadas doeram nos ouvidos na vesperal de domingo (24). A cena Son pur queste me membra..."Dio di Giuda" (Ato IV), transcorreu bastante irrelevante.
Marcello Vannucci compôs o melhor intérprete do "Cast" (22, 24 e 29); o tenor lírico viveu com garra cênica e vocal o rei de Jerusalém, Ismaele. Bravo ! O mezzo soprano Lídia Schaffer como a filha legítima de Nabucco (Fenena) não convenceu vocalmente, nem mesmo em sua preghiera "Oh, dischiuso è il firmamento!". Carlos Eduardo Bastos Marcos construiu um Zaccaria com ausência de voz escura e profunda, típica das verdianas, descompensada de sons graves, indicando a esse imenso personagem já vivido magistralmente por Samuel Ramey, Carlo Cava, Nicolai Giuselev, James Morris, Paata Burchuladze, Paul Plishka e Eugeny Nesterenko em grandes performances.
O maestro Mario Zaccaro preparou devidamente o Coral Lírico Municipal, envolvente; um diamante lapidado em suas intervenções. "Hebrew Slaves Chorus" foi um ponto alto da récita de domingo. Cenários modestos e sem ornatos; figurino atemporal, porém singelo e apenas aceitável; iluminação débil, franzina e pouco distinta.
O maestro Roberto Minczuk da Orquestra Sinfônica Municipal, soube valorizar com maestria a luz dessas características de Verdi, dando equilíbrio aos naipes orquestrais, extraindo a sonoridade adequada sem encobrir as vozes dos cantores. Numa partitura de 1841 que atende às convenções do período ainda chamado de bel cantista referente aos seus companheiros italianos Bellini, Rossini e Donizetti, cuja estrutura definiu-se ainda por recitativos, árias e cabalettas, ainda que bem demarcadas e solidificadas em soberbas e inspiradas estruturas vocal-sinfônicas.
Escrito por Marco Antônio Seta, em 25 de setembro de 2017.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB - SP. Estudou piano, harmonia e história da música no Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, SP (1976).
Graduado em Artes Visuais pela UNICASTELO (2009).
Foto, Rodolfo Giugliani em cena de Nabucco, foto Internet.
Ora!
ResponderExcluirHá um ano falavam contra a contratação de cantores estrangeiros...É o que temos para o momento...
Mas o que temos para o momento é inaceitável, e por isso precisamos de estrangeiros sim...para garantir um bom rendimento no espetáculo lírico!
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