NABUCCO, ÓPERA DE VERDI- DUAS VERSÕES, DOIS CAMINHOS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

     


   A ópera Nabucco de Giuseppe Verdi será apresentada no Theatro Municipal de São paulo a partir do dia 22/09/17. Abaixo dois exemplos em vídeo de como se fazer e como pisar no tomate em um ópera verdiana. Espero que o TMSP siga o caminho da criatividade e a reciclagem de materiais proposta pela direção atinga níveis elevados.
  Nabucco é um marco para Giuseppe Verdi. Foi seu primeiro sucesso musical, composta após a morte de seu filho e esposa. Símbolo da resistência do julgo do Norte da Itália pela Áustria e a certeza pare ele e seu editor que tinha futuro como compositor. Musicalmente não é um primor como veremos em óperas da maturidade. Mas já apresenta características de genialidade, principalmente no quesito coral.
  O Scala de Milão se notabiliza pelo conservadorismo de suas produções. Muitas vezes até peca pelo exagero. No Nabucco eles acertaram mais que erraram. Cenários representativos do período babilônico, leves e adequados se misturam com figurinos às vezes pesados demais.
   Renato Bruson é barítono de reputação internacional. Cantou em todos os grandes teatros líricos do mundo, inclusive no Brasil. Sua técnica invejável aliada ao colorido das notas centrais fez dele destaque nos papéis verdianos como Falstaff, Macbeth e no Nabucco. Interpretação nunca foi sua marca, mas nesse Nabucco ele se transforma. Incorpora todos os sentimentos e emoções do personagem. Seu Nabucco é forte no primeiro ato, destrói sem a menor compaixão o templo dos judeus. A perca do poder para a filha adotiva faz ele perder a lucidez, fica conturbado, enigmático, perdido. Um verdadeiro Nabucco, na voz e na interpretação.
  Ghena Dimitrova é sem dúvida um dos maiores sopranos do final do século XX. Sua Amneris ao lado de Luciano Pavarotti no Scala é inesquecível. Nessa ópera tem a função de dar vida a Abigail. O faz com maestria, com certeza uma das maiores interpretes desse personagem. Sua voz escura e potente se adapta as exigências da partitura. Sua atuação cênica é impecável, fria, maquiavélica e sem escrúpulos para atingir seus objetivos. Essas são algumas características do temperamento dessa personagem,aliás, muito bem expressas no palco por Dimitrova.
  A orquestra do Scala é insuperável em se tratando de Verdi. Sua musicalidade italiana, aliada a uma técnica perfeita e um conjunto equilibrado em todos os naipes nos proporciona um som único. Exemplo para todas as outras orquestras do mundo em se tratando de ópera italiana. O regente Riccardo Muti, de competência mais que comprovada, sabe tirar o máximo da orquestra. Andamentos corretos e pleno conhecimento da partitura só fazem aumentar a qualidade de suas interpretações.
  Fator fundamental para o bom desenvolvimento da ópera Nabucco é o coro. Participa intensamente de todos os atos e apresenta o trecho mais popular, Vá Pensero! Escravizados, humilhados e esperançosos, assim representam os coristas do Scala. Cantam e atuam, com um estilo único. Muitos deles com nível de solista. Acompanhando o coro o baixo Paata Burchuladze interpreta o papel de Zacarias, líder dos judeus. Voz profunda, escura e com graves generosos. Empresta divindade ao seu personagem. Defende seu povo com unhas e dentes, maquiagem e figurino perfeitos.  


  O leitor deve estar se perguntando o por quê do título? Duas versões, dois caminhos. O outro caminho é um tenebroso Nabucco filmado em Napoli. Como um teatro de fama internacional consegue errar tanto em uma produção? Solistas fracos tem aos montes, Maurizio Fruzoni, Carlo Colombara e Lauren Flanigan estão com vozes inadequadas. As vezes ocres, as vezes opacas. O único que se salva é Renato Bruson, mesmo assim não está em seus melhores dias. Canta sem inspiração, nada comparado ao Nabucco do Scala. A regência de Paolo Carignani lembra uma banda do interior de São Paulo . Sem brilho e com uma leitura, no mínimo, equivocada da partitura .
  Os destaques ficam com os cenários e figurinos, modernos, leves e bonitos. Os coristas são outro fator positivo. A direção de televisão erra nas tomadas, não mostra o essencial. Som e imagem de péssima qualidade.Você que gosta de Verdi, que aprecia ópera, fuja dessa versão.Prateleira nela.
  O vídeo de Napoli é a prova contundente que para fazer boa ópera é preciso de solistas gabaritados. Não adianta acertar na produção e pecar nos cantores. Papéis "menores" devem merecer atenção especial. Já vimos muitas óperas com excelentes solistas e péssimos comprimários. Os méritos ficam com o Scala de Milão , acertou em todos os quesitos e fez um excelente trabalho. O San Carlo fez o inverso.
 

Ali Hassan Ayache

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