BERLIOZ- GÊNIO DA INOVAÇÃO E DA INVENÇÃO. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Nas artes e nas ciências (e em tudo na vida) ocorrem referências elogiosas a quem não as merece tanto, classificações e escalas deformadas e deformantes, esquecimentos, exageros, omissões.
Neste último fim de semana a TV a cabo transmitiu a ópera BENVENUTO CELLINI, de Hector Berlioz (1803/1869), criada na Opera em 1838, fato que nos faz lembrar que o grandíssimo compositor francês, na história da música, em seus compêndios e tratados, nunca ocupou seu devido lugar à mesma altura de alguns compositores mais populares que ele, mais falados que ele, mais executados que ele.
Com justiça e sem comparações, os criadores e inovadores da história da música e os gênios não muito inovadores mas de obra de altíssimo valor: BACH permanece em seu inatingível pedestal, HAENDEL, GLUCK, HAYDN, MOZART, BEETHOVEN, VERDI, WAGNER, DEBUSSY, SCHOENBERG, STRAVINSKY e poucos outros permanecem, merecidamente, repita-se, em seus patamares.
BERLIOZ, não. E foi ele no entanto precoce e ativo renovador e inovador da música. Sua “légende dramatique” LA DAMNATION DE FAUST, criada em forma de concerto em 1846, mas com vários trechos não modificados escritos em 1828, depois levada ao palco em forma de ópera, é obra mais que moderna para seu tempo; sua ópera LES TROYENS, dividida em duas partes, criada a partir de 1863, “constitui um dos mais nobres monumentos de invenção em toda a história da ópera". (Harold Rosenthal, “Guide de l"opéra”, Paris, Fayard, pág.81).
Sua SINFONIA FANTÁSTICA, estreada em Paris em 1830, é uma estranha sinfonia declaradamente programática, e traz, em sua forma e conteúdo, uma série variadíssima de inovações. Assim é quase toda a sua obra, nova para seu tempo a ponto de perturbar e confundir os ouvintes de então. Em suas óperas e obras sacras e sinfônicas, a fragmentação total do discurso musical é surpreendente antecipação de modos wagnerianos e veristas.
A audição, via TV de BENVENUTO CELLINI, nos permite verificar o papel de BERLIOZ na evolução da música. Depois de longuíssima introdução orquestral na qual a fragmentação e súbitas mudanças de ritmo e tonalidade são a característica principal, longos trechos cantabili se alternam a trechos recitativados ou em “parlato”, o que dá notável dinamismo à partitura. Isso em 1838, quando o invencível alemão ainda preparava o grande voo...
Há que colocar BERLIOZ EM SEU PEDESTAL DE PRECURSOR, DE INVENTOR, DE RENOVADOR. Nem todo mundo é JSB ou LvB, mas alguns merecem ao menos estar humildemente ao lado deles. Um desses é HECTOR BERLIOZ, gênio da ousadia e da invenção.
QUIDQUID LATET APAREBIT
MARCUS GÓES (1939-2016) – MAIO 2011
Até que enfim concordo com alguma coisa dita pelo finado Marcos Góes!Isaac Victal.
ResponderExcluirPara comprovar as afirmações feitas acima,basta consultar os programas das orquestras do mundo inteiro e ver como tocam pouquíssimas obras de Berlioz,embora esse compositor tenha sido um dos que mais contribuiu para criar a sonoridade da orquestra como hoje a conhecemos.Otto Maria Carpeaux gostava de citar o acompanhamento instrumental no Orfeo de Monteverdi para exemplificar que a palavra "orquestra" já designou um agrupamento instrumental algo esdrúxulo para os padrões do classicismo,por exemplo.O modelo de instrumentação de Berlioz é o empregado até hoje.Por outro lado poucas vezes as orquestras no mundo inteiro como afirmara,programam seu Haroldo na Itália,seu Requiem ou o Te Deum,suas canções Noites de Verão,as aberturas exceto O Corsário e O Carnaval Romano,o delicado oratório A Infância de Cristo etc.No nosso país é raríssimo quase impossível ouvir as orquestras tocarem outra coisa além da Fantástica ou das aberturas citadas.Isaac Carneiro Victal.
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