"OS PESCADORES DE PÉROLAS" VOLTA AO THEATRO MUNICIPAL DE SP COM VOZES DESIGUAIS. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

  


         O Theatro Municipal de São Paulo remonta a ópera do seu repertório artístico  "Os Pescadores de Pérolas", do francês Georges Bizet, com libreto de Michel Carré e Eugène Cormon. A estreia aconteceu no último dia 30 às 20h. As outras récitas ocorrerão  nos dias 01,03,05 e 06 de novembro no mesmo horário, com preços diferenciados e bastante populares entre nós paulistanos

       A ópera de Bizet se tornou o ponto de partida de sua fama perante uma estreia em Paris, em seu Théâtre Lyrique, a 30 de setembro de 1863, com M. Morini, M. Guyat, M. Ismael e Léontine de Moesen. A ópera obteve pouco êxito em sua estreia, desaparecendo dos cenários mundiais  até 20/3/1886; quando foi reposta no Teatro Alla Scala de Milão com o título de " I Pescatori di Perle", agora cantada em italiano e não mais em seu original francês. Daí em diante, com enorme sucesso,  os tenores peninsulares Beniamino Gigli, Ferrucio Tagliavini e Tito Schipa imortalizaram esta partitura, através de seus registros fonográficos e de suas temporadas em teatros de todo o mundo, ao longo da primeira metade do século XX. Muitos a reprovavam, sobretudo com suas excessivas concessões ao wagnerismo e ao verdianismo; .Héctor Berlioz foi um dos poucos a reconhecer o seu real valor musical e técnico de composição. Toda a partitura está cheia de melodias fascinantes, porém o que nela se sobressai, é o temperamento dramático do compositor e a sua capacidade de evocar musicalmente paisagens, situações e personagens diversos.
       
         Grandes nomes da lírica destacaram-se nesta ópera de Bizet; entre eles citaremos: Leopold Simoneau, Líbero de Luca, Nicolai Gedda, Alfredo Krauss, Tony Poncet, Charles Burles, Alain Vanzo, Roberto Alagna, Matthew Polenzani, Yasu Nakajima, Dmitry Korchax, Barry Banks, Celso Albelo, e Fernando Portari, precedido por Bruno Lazzarini, no Brasil). Como Leila,  destacaram-se, a grande e inesquecível cantora Agnes Ayres,  no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, circundada por Millica Ilic, Ileana Cotrubas, Diana Danrau, Natália Achaladze-Romanová,  Annick Massis, Patrícia Ciofi, Rebecca Evans, Desirée Rancatore e Júlia Novikova entre sopranos líricos de coloratura, para o qual a personagem está escrito pelo compositor. Roger Soyer, Jean-Christofhe Benoit, Guillermo Sarabia e Guillermo Damiano, com Mariusz Kwiecien (bass baritones)  Sebastião Teixeira e Leonardo Neiva (Zurga), com   Luiz-Ottavio Faria (Brasil)  todos respectivamente, nos papéis de Zurga e Nourabad. 
    
          A obra de três atos Os Pescadores de Pérolas já foi apresentada no Municipal em 1960, com Agnes Ayres, Bruno Lazzarini, Paulo Fortes e Guillermo Damiano,sob a regência do saudoso Mtroº Edoardo de Guarnieri; depois em 1995 e 2005. Dentro de um contexto do hinduísmo com cultos a deuses, toda a ação se desenvolve numa comunidade de pescadores de pérolas, em um local fictício e exótico conhecido como “Ceilão da Antiguidade”Ao se preparar para mais uma temporada de trabalho, os pescadores elegem um chefe para comandá-los, Zurga.  Nadir, velho amigo de Zurga, reaparece após ter passado meses na floresta caçando. Juntos, eles revivem lembranças de sua última viagem e relembram a imagem de uma linda sacerdotisa que conduzia uma cerimônia religiosa no templo de Candi. Ambos se apaixonaram pela jovem, mas juraram jamais se aproximar dela.Para o ritual anual dos pescadores, chega à comunidade uma virgem que deve cantar e rezar pela proteção da comunidade. Leila é a antiga sacerdotisa do templo de Candi que se vê dividida entre o amor e os seus votos religiosos. Ela reconhece Nadir por quem também tinha se apaixonado durante a viagem. Enciumado e sem o amor correspondido, Zurga a alerta que se o juramento for quebrado, ela será amaldiçoada. Os dois são libertados por Zurga;  Nadir e Leila fogem livres para sempre. Zurga vem a ser apunhalado pela turba, colocando  fim a sua vida. A declaração de amor do agonizante, que morrera para poupar a vida de sua amada, e dar-lhe a felicidade, é a maior prova de amor de um homem de dignidade. 
        
           Jamil Maluf  à frente da Orquestra Experimental de Repertório,  iniciou bastante morno em sua regência com uma sonoridade opaca, sombria e obscura em seus naipes. Aos poucos foi tomando brilho,  e por ser a terceira vez em que ele rege esta ópera no Municipal, poderia se exigir muito mais do resultado final de seus comandados. O Coral Paulistano apresentou um trabalho muito bom em termos de rendimentos sonoros e musicais, entretanto sua postura cênica poderia ser mais intensa, não se limitando a ficarem enfileirados, de braços cruzados ou em poses orientais, ou ainda  fazendo pose  num grupo escolar em situação de fotografados. Naomi Munakata preparou o conjunto vocal.  
            O Zurba de David Marcondes, barítono dramático de voz caudalosa, escura e de rica sonoridade (encobre a orquestra) foi o protagonista da ópera, e o ponto que alçou maior vôo.No dueto com Leila "C'est bien ! vous sortez!"atuou com propriedade. Gustavo Quaresma (Nadir) possui registro de tenor leggero o que o inadequa ao personagem; suas principais passagens; o dueto "Au fond du temple saint" e a ária "Je crois entendre encore" não convenceram.
            Camila Titinger (Leila) entretanto sua performance não rendeu como na anterior aparição nesta, em Belém do Pará, em seu Theatro da Paz (2015); definitivamente a cantora não possui coloratura necessária no Ato I, somadas às seguidas dificuldades,  que desta vez,  encontrou em tão sofridos agudos no Ato III ao cantar com Zurga.
             A voz portentosa do baixo Mateus França satisfaz ao sacerdote Nourabad.  Musicalmente bem. Cenários e figurinos confeccionados na Central Técnica do Teatro Municipal adequados e convincentes. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 31 de outubro de 2017.
Marco Antônio é Jornalista pela FCL nº 61.909 MTB / SP; estudou piano, história da música, harmonia e contraponto, no Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, SP e é diplomado em Artes Visuais pela Unicastelo (2009), em São Paulo.  
Foto: Os Pescadores de Pérolas, de Bizet (Theatro Municipal/Instagram/Divulgação).

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