STRAVINSKY- PÁSSARO DE FOGO. ARTIGO DE EMANUEL MARTINEZ NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



Igor Strawinsky é considerado um dos gênios mais inventivos do Século XX, não apenas no campo da Música, mas entre todas as artes, acompanhado talvez por Pablo Picasso, na Pintura, e James Joyce, na Literatura. Nasceu em 1882, em Oranienbaum no Golfo da Finlândia, no dia 5 de junho (O.S.) ou 17 de junho e faleceu em New York a 6 de abril de 1971.
No cenário da música erudita, o pós-romantismo apresentou a quebra de conceitos e tradições tanto de ordem estética quanto de ordem temática. Reconhecido, hoje, como um dos maiores compositores desse período e como um dos maiores promotores da "nova-era" musical que então começava, Igor Fedórovich Strawinsky é um desses gênios musicais que são mais comentados do que conhecidos.
Em 1901, Igor começou a freqüentar a Universidade de Direito de São Petersburgo, mas travando contato com o filho do compositor Rimsky-Korsakov, sentiu que os antigos interesses não poderiam ser apagados. Dedicou tempo a escrita musical sem tomar as leis muito a sério... ocupou-se com algumas aulas particulares de Harmonia e pretendeu uma vaga no Conservatório Russo (até então ele não conhecia pessoalmente o pai de seu amigo!). Rimsky-Korsakov, na qualidade de diretor do conservatório musical e sensibilizado para o talento do jovem, convidou Strawinsky para ter aulas consigo próprio. Strawinsky aceitou prontamente.
Rimsky-Korsakov costumava promover a apresentação dos trabalhos de seus alunos. Em sua primeira vez, Igor Strawinsky decidiu exibir a fantasia orquestral “Fogos de Artifício”. A música despontou como fagulha no espírito de Sergei Diaghilev. Naquele momento, o diretor e empresário soube que Strawinsky era o homem certo para escrever a música de sua companhia de Balés Russos.
Balés Russos:
Igor Strawinsky conquistou a ribalta com a composição de três obras para o «Ballets Russes» de Sergei Diaghilev, as mãos que bem souberam movimentar o cenário cultural parisiense.
1910: Strawinsky tinha 28 anos quando chegou em Paris para a estréia do balé “O Pássaro de Fogo”. O espetáculo foi instantaneamente aplaudido como sucesso: a exuberante orquestração rica em imagens do mundo oriental era tudo o que os parisienses desejam ver e ouvir...
Imediatamente veio o segundo encargo e “Petrouchka” subiu ao palco na interpretação valiosa de Nijinsky, 1911. A música, vez ou outra, dura e dissonante, era ainda bastante melodiosa. E, então, um escândalo aconteceu...
A terceira produção Strawinsky-Diaghilev apresentou, em 1913, “A Sagração da Primavera”. Esta obra tem o subtítulo “Um Quadro da Antiga Rússia” e conduzirá seu ouvinte ao tempo cruel e primitivo dos rituais de tribos pagãs. Na noite de estréia, o desgosto e a indignação do público por sua música transformou-se em tumulto: para os fãs do conservadorismo, Strawinsky era um monstro; mas para os vanguardistas, o messias.
Caminhos do Exílio:
A Primeira Guerra obrigou Strawinsky ao refúgio na Suíça. Partiu com a família... no entanto, mesmo com o fim dos conflitos, o compositor não voltou para o velho lar: ponderou que assim permaneceria grandemente isolado dos principais centros de atividade musical da Europa e instalou-se confortavelmente em Paris. O tempo dedicado aos balés de Diaghilev lhe garantia a entrada nos salões mais bem freqüentados da época.
Ali, Strawinsky era celebridade, ele bem sabia.
Contou com o respeito e o interesse da Princesa de Polignac que foi uma das mais generosas mecenas que a França conheceu. Seus recursos patrocinaram Fauré, Chabrier, Ravel, Poulenc, De Falla, Satie e até mesmo Cole Porter... Os comissionamentos de Strawinsky destinaram-se a composição de “Renard” (pantomima burlesca, 1916) e «Édipo Rei», uma ópera-oratório de 1927 em parceria com Jean Cocteau. O dinheiro da Princesa de Polignac ainda financiou diversas apresentações, entre elas, “As Bodas” (1923), Concerto para Piano (1924), bem como de “Perséfone”, dança melodramática inspirada por André Gide, de 1933.
O círculo de compositores franceses tinha por seu trabalho grande admiração. Até mesmo Ravel, que se sentia um pouco à sombra perto de Strawinsky, pois o balé “Daphnis e Cloé” estreou juntamente com “Petrouchka”, arriscava uns poucos elogios. Mas sem dúvida, esteve mais próximo de Debussy e Satie.
Strawinsky trabalhou outras vezes, com o amigo e empresário russo Diaghilev, até meados de 1929. Às voltas com a criação da música para o balé “Pulcinella” de 1920, surgiu a notável colaboração com Leonid Massine e Pablo Picasso, responsável pelos cenários e figurinos. Em 1928, George Balanchine assinou a coreografia para “Apolo Musagete”.
Na França, Strawinsky permaneceu até 1939...
Os Anos na América:
Era mês de setembro quando Strawinsky chegou aos Estados Unidos. Não foi difícil para ele encontrar seu lugar entre os intelectuais e artistas do novo continente: sua música era apreciada por muitas celebridades e chegou mesmo a permitir que Walt Disney fizesse uso da “A Sagração da Primavera” no filme “Fantasia”. Porém, o compositor nunca achou que a proeza do criador de Mickey Mouse fosse impressionante...
Uma de suas primeiras obras "americanas" foi a curiosa “Polca do Circo”, peça de quatro minutos, de 1942, escrita especialmente para fazer dançar os elefantes.
Robert Craft, um talentoso regente, tornou-se amigo muito chegado de Stravinsky. Ou mais: Craft se transformou em uma fonte de idéias sonoras para o compositor, introduzindo Igor Stravinsky ao dodecafonismo ou Música Serial inventada por outro compositor do Século XX: Arnold Schoenberg.
Seus estudos sobre esse estilo resultaram em composições mais áridas para muitos ouvidos, mas seu gênio musical desprezando a opinião pública, seguia adiante. Ponto alto talvez seja os «Cânticos de Réquiem» de 1966...
Stravinsky cruzou muitos caminhos, na música e no mundo. Sua última partida foi no dia 6 de abril de 1971... aportou no exílio da Ilha de San Michele, em Veneza, onde foi enterrado.
A figura de Strawinsky, dentro do "período moderno" representou muito bem sua pátria, tanto que pode ser tido como uma das grandes figuras da composição da Rússia, tendo estudado composição como aluno particular do grande Rimsky-Korsakow, que com Borodin, Cesar Cui, Balakirew e Modesto Moussorgsky formou os "cinco grandes" compositores russos. O primeiro período de sua produção artística foi influenciado por Scriabin, Debussy, Glazunow e outros, devendo-se destacar entre essas peças uma Sinfonia, seguida de “O Fauno e a Pastora”, obra para canto e orquestra, um “Scherzo Fantástico” e “Fogos de Artifício”. Só a partir da obra “O Pássaro de Fogo” de inspiração oriental nos mostra uma grande dinâmica instrumental, um estilo mais próprio e que marca o começo de sua popularidade. A partir de então sua personalidade mostra-se esplendente e ainda com um caráter tipicamente russo, como nas obras “Petruchka” e “Noces” e nesta mesma época outras obras aparecem para dar ênfase à sua arte criadora, como nos quatro cantos Russos o ballet "Pulcinella" sobre música de Pergolesi, “Otelo” para instrumento de sopro etc. Podemos notar em Strawinsky uma ausência de sentimentalismo humano, apesar de ser um gênio musical de elevado conteúdo saído do espírito russo, arcano e contraditório, cheio de contrastes, religioso até o âmago e primitivamente instintivo, no entanto, manifesta-se nele uma grande força criadora uma luta entre o intelectualismo estético vindo dos círculos literários de Paris, que se contrapõe a um sentido de inata musicalidade emergente de sua pátria. No aspecto estético sua educação é Ocidental e seu mérito é inegável dentro da arte musical, bem como o sábio uso do material sonoro, mas, sua força criadora provém do Oriente, com seu primitivismo e seu realismo. Tanto que as obras “Petruchka” e “Noces” marcam seu período mais sincero e autêntico e, na sua música sente-se um perfume de terra virgem, de algo vivo e cheio de energias e , depois destas obras evolui de uma maneira desconcertante. É ele um virtuoso no manejo dos sons tornando-se um dos "modernos" de grande evidência e um dos mais discutidos, quer por sua personalidade forte e também pela influencia que decorre de sua produção nova e, sempre nos trazendo surpresas. " Na sua bagagem de compositor incluem-se composições de todos os gêneros. Usa dissonâncias de grande variedade e riqueza de meios. Original e agradável".

PÁSSARO DE FOGO
A estréia de “O Pássaro de Fogo”, em 1910, na Ópera de Paris, foi a consagração do compositor, que decide, então, tornar-se cidadão francês, abandonando a Rússia em meio a desentendimento com o governo local (diz-se que Strawinsky foi levado a deixar o país por determinação do governo, que não aceitava seus novos conceitos musicais). Em 1913, a estréia de “A Sagração da Primavera”, no mesmo local, foi marcada por protestos dos espectadores — enfurecidos com a realidade musical da peça.
“O pássaro de fogo”, em sua estréia, foi representado pela companhia de Sergei Diaghilev (ainda sem Nijinsky). Mlle. Karsavina representou e dançou o Pássaro de Fogo, Fokine representou Ivã Tsarevich e Bulgakov, o imortal Kastchei. O enredo do ballet, extraído do folclore russo e adaptado por Miguel Fokine, conta a estória de Ivã Tsarevich que, andando em um bosque, à noite, encontra, na escuridão, o Pássaro de Fogo — que colhe maçãs de ouro em uma árvore de prata. Ivã consegue aprisioná-lo, mas não hesita em conceder-lhe a liberdade em troca de uma pena incandescente. Ao raiar o dia, Ivã percebe treze virgens saindo de um grande castelo — o lar do monstro Kastchei, que transforma em pedra todos que por ali passam. Ivã, após enfrentar uma horda de monstros, consegue penetrar na fortaleza onde Kastchei tenta petrificá-lo, mas a mágica do Pássaro de Fogo torna o feitiço do monstro sem efeito. Após um combate, os poderes do Pássaro de Fogo prevalecem e Kastchei é derrotado e morre. O castelo desaparece e suas belas prisioneiras são libertadas, casando-se uma delas, a bela Tsarevna, com Ivã.
Do ponto de vista musical, ainda que “O pássaro de fogo” não seja o que há de mais representativo, há elementos que serão utilizados posteriormente em “A sagração da primavera”. Por exemplo, o pouco uso da escala octatônica — a escala de oito notas comum na música erudita da época e, ainda hoje, a mais utilizada na música popular. Strawinsky optou por outras escalas que já adiantavam o que viria a chamar-se música atonal, priorizando notas como as quartas, quintas, sextas e sétimas diminutas. Um trecho em que a presença da quinta diminuta pode ser percebida de forma clara é "O imortal Kastchei" — quarta parte do ballet. Seu efeito subverte a noção de musicalidade comum aos românticos e pré-românticos, visto que uma combinação de notas estranha, "que não parece música" e que dá uma atmosfera lúgubre à peça prevalece. Uma outra característica de “O pássaro de fogo” é a complexidade harmônica. Longe, muito longe da intensidade "uníssona" de um Beethoven e da "pomposidade" de um Wagner, Strawinsky utiliza novas combinações entre os instrumentos — na qual uma mesma linha melódica é desenvolvida por um instrumento até certo ponto, sendo o restante tocado por outro instrumento. Trata-se, pois, de uma espécie de "corrida de revezamento" , na qual mais de um instrumento executa, não simultaneamente, uma mesma melodia. E, falando das melodias propriamente ditas, estas são um tanto simples e sem rebuscamento, dando novas dimensões às conquistas do impressionismo francês (Debussy, Ravel etc.).
Se, em “O pássaro de fogo”, as experimentações de Strawinsky ainda não se encontram em sua plena realização, sua maturidade estética é atingida com “A sagração da primavera”. Todavia isso não significa que “O pássaro de fogo” não seja condizente com o melhor de Strawinsky; pelo contrário, foi através dessa obra que seu gênio revolucionário começou a manifestar-se e criar aquela que é uma das obras mais representativas da música erudita do século XX.

Emanuel Martinez

Fonte: http://repertoriosinfonico.blogspot.com.br/search?q=beethoven+sinfonia+7&updated-max=2007-08-06T18:22:00-03:00&max-results=20&start=10&by-date=false

Comentários

  1. Sou mto Jorge C.Dubiniack,e quero parabenizar por esta matéria esplanada sobre Stravinsky na peça O Pássaro de Fogo...Deus abençoe sempre.

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